ENCONTRO DO SANTO PADRE COM RELIGIOSOS POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA
Cidade do Vaticano, 02 fev (RV) - O Prefeito da Congregação para os Institutos
de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal Franc Rodé, presidiu
nesta tarde, na Basílica de São Pedro, a celebração eucarística por ocasião da Festa
da Apresentação do Senhor e pelo XIII Dia Mundial da Vida Consagrada.
Ao final
da missa o Santo Padre encontrou-se na basílica com os consagrados e as consagradas
presentes em Roma. Segue abaixo o texto integral do discurso proferido pelo Santo
Padre com a tradução livre de Mariângela Jaguraba.
Senhor Cardeal, Venerados
irmãos no Episcopado e no sacerdócio, Queridos irmãos e irmãs!
Com grande
alegria encontro vocês ao final do Santo Sacrifício da Missa, nesta Festa litúrgica
que, há 13 anos, reúne religiosos e religiosas por ocasião do Dia da Vida Consagrada.
Saúdo cordialmente o Cardeal Franc Rodé, com especial reconhecimento a ele e aos seus
colaboradores da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades
de Vida Apostólica pelo serviço que prestam à Santa Sé e ao que chamarei o "cosmo"
da vida consagrada. Com afeto saúdo os superiores e as superioras gerais aqui presentes
e todos vocês, irmãos e irmãs, que sob o modelo da Virgem Maria levam à Igreja e ao
mundo a luz de Cristo com o testemunho de pessoas consagradas. Faço minhas, neste
Ano Paulino, as palavras do Apóstolo: "Dou graças a meu Deus todas vezes que me lembro
de vós, e sempre em todas as minhas súplicas oro por todos vós com alegria, pela vossa
participação no Evangelho, desde o primeiro dia até agora" (Fl 1, 3-5). Nesta saudação,
endereçada à comunidade cristã de Filipos, Paulo expressa a recordação afetuosa que
ele conserva daqueles que vivem pessoalmente o Evangelho e se empenham a transmiti-lo,
unindo aos cuidados da vida interior a fadiga da missão apostólica.
Na tradição
da Igreja, Paulo foi sempre reconhecido pai e mestre daqueles, que chamados pelo Senhor,
fizeram a escolha de uma dedicação incondicionada a Ele e a seu Evangelho. Vários
são os Institutos religiosos que possuem o nome de São Paulo e dele buscam uma inspiração
carismática específica. Podemos dizer que para todos os consagrados e as consagradas
ele repete um convite claro e afetuoso: "Sede meus imitadores, como eu mesmo o sou
de Cristo" (1 Cor 11, 1). O que é de fato a vida consagrada se não uma imitação radical
de Jesus, uma total "seqüela" Dele? (cfr. Mt 19, 27-28). Em tudo, Paulo representa
uma mediação pedagógica segura: imitá-lo no seguir Jesus, queridos, é a estrada privilegiada
para corresponder até o fim à sua vocação de especial consagração na Igreja.
Aliás,
de sua própria voz podemos conhecer um estilo de vida que expressa a essência da vida
consagrada inspirada nos conselhos evangélicos de pobreza, de castidade e de obediência.
Na vida de pobreza ele vê a garantia de um anúncio do Evangelho realizado na total
gratuidade (cfr. 1 Cor 9, 1-23), enquanto expressa, ao mesmo tempo, a concreta solidariedade
para com os irmãos necessitados. A propósito, todos conhecemos a decisão de Paulo
de se manter com o trabalho de suas mãos e o seu compromisso pela coleta em favor
dos pobres de Jerusalém (cfr. 1Ts 2, 9; 2 Cor 8-9). Paulo é também um apóstolo que,
acolhendo o chamado de Deus à castidade, doou seu coração ao Senhor de forma indivisa,
para poder servir com maior liberdade e dedicação seus irmãos (cfr. 1 Cor 7,7; 2 Cor
11, 1-2); Além disso, num mundo em que os valores da castidade cristã tinham escassa
cidadania (cfr. 1 Cor 6, 12-20), ele oferece uma segura referência de conduta. Em
relação à obediência, basta notar que o cumprimento da vontade de Deus e a vida cotidiana,
a preocupação por todas as igrejas (2 Cor 11, 28) animaram, plasmaram e consumaram
a existência, que se tornou sacrifício agradável a Deus. Tudo isso o leva a proclamar,
como escreve aos Filipenses: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fl 1,
21).
Outro aspecto fundamental da vida consagrada de Paulo é a missão. Ele
é todo de Jesus para ser, como Jesus, de todos; alias, para ser Jesus para todos:
"Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo" (1 Cor 9, 22). A
ele, assim extremamente unido à pessoa de Cristo, reconhecemos uma profunda capacidade
de conjugar vida espiritual e ação missionária; nele as duas dimensões se completam
reciprocamente. E assim, podemos dizer que ele pertence ao grupo de "místicos construtores",
da qual existência é contemplativa e ativa, aberta a Deus e aos irmãos para realizar
um eficaz serviço ao Evangelho. Nesta tensão mística-apostólica, ressalto a coragem
do Apóstolo diante do sacrifício de enfrentar provas terríveis, até o martírio (cfr.
2 Cor 11, 16-33), a confiança inabalável baseada nas palavras de seu Senhor: "Basta-te
a minha graça; pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder" (2 Cor 12,
9-10). A sua experiência espiritual nos parece assim como a tradução vivida do mistério
pascal, que ele intensamente examinou e anunciou como forma de vida do cristão. Paulo
vive para, com e em Cristo. "Fui crucificado com Cristo, ele escreve, já não sou eu
que vivo mais, mas é Cristo que vive em mim (Gl 2, 20); e ainda: "para mim o viver
é Cristo e o morrer é lucro" (Fl 1, 21).
Isto explica porque ele não se cansa
de exortar a fim de que a palavra de Cristo habite em nós em sua riqueza (cfr. Cl
3, 16). Isto faz pensar ao convite a vocês endereçado pela recente Instrução sobre
"O Serviço da autoridade e da obediência", a buscar "toda manhã o contato vivo e constante
com a Palavra que naquele dia é proclamada, meditando-a e guardando-a no coração como
um tesouro, fazendo dela a raiz de toda ação e o primeiro critério de toda escolha"
(n° 7). Desejo, portanto, que o Ano Paulino alimente ainda mais em vocês o propósito
de acolher o testemunho de São Paulo, meditando a cada dia a Palavra de Deus com a
prática fiel da lectio divina, rezando "com salmos, hinos e cantos inspirados, com
gratidão (Cl 3, 16). Ele os ajude a realizar o seu serviço apostólico na e com a Igreja
como um espírito de comunhão sem reservas, fazendo dom aos outros dos próprios carismas
(cfr. 1 Cor 14, 12) e testemunhando em primeiro lugar o carisma maior que é a caridade
(cfr. 1 Cor 13).
Queridos irmãos e irmãs, a liturgia de hoje nos exorta a olhar
à Virgem Maria, a "Consagrada" por excelência. Paulo fala Dela com uma fórmula concisa,
mas eficaz, que descreve a sua grandeza e a sua tarefa: é a "mulher" que na plenitude
dos tempos, deu a luz ao Filho de Deus (cfr. Gl 4, 4). Maria é a mãe que hoje no Templo
apresenta o Filho ao Pai, dando continuidade também neste ato ao "sim" proferido no
momento da Anunciação. Seja ainda ela a mãe que nos acompanha e nos ajuda, nós filhos
de Deus e filhos seus, na tarefa de um serviço generoso a Deus e aos irmãos. A tal
fim, invoco a sua celeste intercessão, enquanto de coração dou a Bênção Apostólica
a todos vocês e a seus familiares.