2009-02-02 19:39:30

ENCONTRO DO SANTO PADRE COM RELIGIOSOS POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA


Cidade do Vaticano, 02 fev (RV) - O Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal Franc Rodé, presidiu nesta tarde, na Basílica de São Pedro, a celebração eucarística por ocasião da Festa da Apresentação do Senhor e pelo XIII Dia Mundial da Vida Consagrada.

Ao final da missa o Santo Padre encontrou-se na basílica com os consagrados e as consagradas presentes em Roma. Segue abaixo o texto integral do discurso proferido pelo Santo Padre com a tradução livre de Mariângela Jaguraba.

Senhor Cardeal,
Venerados irmãos no Episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!

Com grande alegria encontro vocês ao final do Santo Sacrifício da Missa, nesta Festa litúrgica que, há 13 anos, reúne religiosos e religiosas por ocasião do Dia da Vida Consagrada. Saúdo cordialmente o Cardeal Franc Rodé, com especial reconhecimento a ele e aos seus colaboradores da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica pelo serviço que prestam à Santa Sé e ao que chamarei o "cosmo" da vida consagrada. Com afeto saúdo os superiores e as superioras gerais aqui presentes e todos vocês, irmãos e irmãs, que sob o modelo da Virgem Maria levam à Igreja e ao mundo a luz de Cristo com o testemunho de pessoas consagradas. Faço minhas, neste Ano Paulino, as palavras do Apóstolo: "Dou graças a meu Deus todas vezes que me lembro de vós, e sempre em todas as minhas súplicas oro por todos vós com alegria, pela vossa participação no Evangelho, desde o primeiro dia até agora" (Fl 1, 3-5). Nesta saudação, endereçada à comunidade cristã de Filipos, Paulo expressa a recordação afetuosa que ele conserva daqueles que vivem pessoalmente o Evangelho e se empenham a transmiti-lo, unindo aos cuidados da vida interior a fadiga da missão apostólica.

Na tradição da Igreja, Paulo foi sempre reconhecido pai e mestre daqueles, que chamados pelo Senhor, fizeram a escolha de uma dedicação incondicionada a Ele e a seu Evangelho. Vários são os Institutos religiosos que possuem o nome de São Paulo e dele buscam uma inspiração carismática específica. Podemos dizer que para todos os consagrados e as consagradas ele repete um convite claro e afetuoso: "Sede meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo" (1 Cor 11, 1). O que é de fato a vida consagrada se não uma imitação radical de Jesus, uma total "seqüela" Dele? (cfr. Mt 19, 27-28). Em tudo, Paulo representa uma mediação pedagógica segura: imitá-lo no seguir Jesus, queridos, é a estrada privilegiada para corresponder até o fim à sua vocação de especial consagração na Igreja.

Aliás, de sua própria voz podemos conhecer um estilo de vida que expressa a essência da vida consagrada inspirada nos conselhos evangélicos de pobreza, de castidade e de obediência. Na vida de pobreza ele vê a garantia de um anúncio do Evangelho realizado na total gratuidade (cfr. 1 Cor 9, 1-23), enquanto expressa, ao mesmo tempo, a concreta solidariedade para com os irmãos necessitados. A propósito, todos conhecemos a decisão de Paulo de se manter com o trabalho de suas mãos e o seu compromisso pela coleta em favor dos pobres de Jerusalém (cfr. 1Ts 2, 9; 2 Cor 8-9). Paulo é também um apóstolo que, acolhendo o chamado de Deus à castidade, doou seu coração ao Senhor de forma indivisa, para poder servir com maior liberdade e dedicação seus irmãos (cfr. 1 Cor 7,7; 2 Cor 11, 1-2); Além disso, num mundo em que os valores da castidade cristã tinham escassa cidadania (cfr. 1 Cor 6, 12-20), ele oferece uma segura referência de conduta. Em relação à obediência, basta notar que o cumprimento da vontade de Deus e a vida cotidiana, a preocupação por todas as igrejas (2 Cor 11, 28) animaram, plasmaram e consumaram a existência, que se tornou sacrifício agradável a Deus. Tudo isso o leva a proclamar, como escreve aos Filipenses: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fl 1, 21).

Outro aspecto fundamental da vida consagrada de Paulo é a missão. Ele é todo de Jesus para ser, como Jesus, de todos; alias, para ser Jesus para todos: "Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo" (1 Cor 9, 22). A ele, assim extremamente unido à pessoa de Cristo, reconhecemos uma profunda capacidade de conjugar vida espiritual e ação missionária; nele as duas dimensões se completam reciprocamente. E assim, podemos dizer que ele pertence ao grupo de "místicos construtores", da qual existência é contemplativa e ativa, aberta a Deus e aos irmãos para realizar um eficaz serviço ao Evangelho. Nesta tensão mística-apostólica, ressalto a coragem do Apóstolo diante do sacrifício de enfrentar provas terríveis, até o martírio (cfr. 2 Cor 11, 16-33), a confiança inabalável baseada nas palavras de seu Senhor: "Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder" (2 Cor 12, 9-10). A sua experiência espiritual nos parece assim como a tradução vivida do mistério pascal, que ele intensamente examinou e anunciou como forma de vida do cristão. Paulo vive para, com e em Cristo. "Fui crucificado com Cristo, ele escreve, já não sou eu que vivo mais, mas é Cristo que vive em mim (Gl 2, 20); e ainda: "para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fl 1, 21).

Isto explica porque ele não se cansa de exortar a fim de que a palavra de Cristo habite em nós em sua riqueza (cfr. Cl 3, 16). Isto faz pensar ao convite a vocês endereçado pela recente Instrução sobre "O Serviço da autoridade e da obediência", a buscar "toda manhã o contato vivo e constante com a Palavra que naquele dia é proclamada, meditando-a e guardando-a no coração como um tesouro, fazendo dela a raiz de toda ação e o primeiro critério de toda escolha" (n° 7). Desejo, portanto, que o Ano Paulino alimente ainda mais em vocês o propósito de acolher o testemunho de São Paulo, meditando a cada dia a Palavra de Deus com a prática fiel da lectio divina, rezando "com salmos, hinos e cantos inspirados, com gratidão (Cl 3, 16). Ele os ajude a realizar o seu serviço apostólico na e com a Igreja como um espírito de comunhão sem reservas, fazendo dom aos outros dos próprios carismas (cfr. 1 Cor 14, 12) e testemunhando em primeiro lugar o carisma maior que é a caridade (cfr. 1 Cor 13).

Queridos irmãos e irmãs, a liturgia de hoje nos exorta a olhar à Virgem Maria, a "Consagrada" por excelência. Paulo fala Dela com uma fórmula concisa, mas eficaz, que descreve a sua grandeza e a sua tarefa: é a "mulher" que na plenitude dos tempos, deu a luz ao Filho de Deus (cfr. Gl 4, 4). Maria é a mãe que hoje no Templo apresenta o Filho ao Pai, dando continuidade também neste ato ao "sim" proferido no momento da Anunciação. Seja ainda ela a mãe que nos acompanha e nos ajuda, nós filhos de Deus e filhos seus, na tarefa de um serviço generoso a Deus e aos irmãos. A tal fim, invoco a sua celeste intercessão, enquanto de coração dou a Bênção Apostólica a todos vocês e a seus familiares.







All the contents on this site are copyrighted ©.