PAPA RETIRA EXCOMUNHÃO A BISPOS DA FRATERNIDADE S. PIO X: NOTA DO DIRETOR-GERAL DA
RÁDIO VATICANO
Cidade do Vaticano, 24 jan (RV) - O Santo Padre retirou a excomunhão aos quatro
bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X consagrados por Dom Marcel Lefèbvre em
1988. O comunicado foi divulgado hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
O
pedido de remoção foi feito pela última vez por meio de uma carta em 15 de dezembro
de 2008, escrita pelo superior-geral, Dom Bernard Fellay, em nome dos outros três
bispos da Fraternidade excomungados 20 anos atrás, Dom Bernard Tissier de Mallerais,
Dom Richard Williamson e Dom Alfonso del Gallareta.
Na carta de dezembro passado,
Dom Bernard Fellay escreve: "Estamos sempre firmemente determinados na vontade de
permanecer católicos e de colocar todas as nossas forças a serviço da Igreja de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica Romana. Nós aceitamos os seus ensinamentos
com ânimo filial. Nós acreditamos firmemente no Primado de Pedro e em suas prerrogativas
e, por isso, a situação atual nos fez sofrer muito".
Segundo comunicado da
Sala de Imprensa, "Bento XVI sempre tentou recompor a ruptura com a Fraternidade,
inclusive encontrando pessoalmente Dom Bernard Fellay em 29 de agosto de 2005. Naquela
ocasião, o Sumo Pontífice manifestou a vontade de proceder por graus e em tempos razoáveis
neste caminho e agora, benignamente, mediante Decreto da Congregação para os Bispos
de 21 de janeiro de 2009, retira a excomunhão que pesava sobre os mencionados prelados.
Nesta decisão, o Santo Padre foi inspirado pelo auspício de que se chegue em breve
à completa reconciliação e à plena comunhão".
Os quatro bispos foram excomungados
latae sententiae (excomunhão automática) depois das consagrações episcopais
feitas por Dom Marcel Lefèbvre, sem mandato pontifício, em 30 de junho de 1988.
Sobre
a remoção da excomunhão aos bispos lefèbvrianos, eis a nota do diretor-geral da Rádio
Vaticano:
Pe. Federico Lombardi:- "A Semana de oração pela unidade dos
cristãos se conclui com uma bela notícia, que fazemos votos seja fonte de alegria
em toda a Igreja. De fato, a remissão da excomunhão dos quatro bispos da Fraternidade
de São Pio X é um passo fundamental para alcançar a reconciliação definitiva com o
movimento iniciado e conduzido por Dom Lefèbvre. Para compreender o significado desse
passo, recordemos as palavras de Bento XVI em sua carta de introdução ao Motu Proprio
'Summorum Pontificum', de 7 de julho de 2007, quando escreve que o olhar para o passado
acerca das divisões que ao longo dos séculos dilaceraram o Corpo de Cristo faz pensar
que foram muitas vezes as omissões da Igreja que deixaram consolidar as divisões.
Por isso escrevia o papa: 'temos a obrigação de fazer todos os esforços, a fim de
que a todos aqueles que realmente têm o desejo de unidade, seja possível permanecer
nesta unidade ou reencontrá-la novamente... Abramos generosamente o nosso coração...'."
O
Cardeal Ratzinger tinha sido protagonista nas relações com Dom Lefèbvre em 1988, e
já naquele tempo havia procurado fazer todo o possível para servir à união da Igreja.
Naquele momento isso não tinha sido suficiente – continua Pe. Lombardi – e as consagrações
episcopais de 30 de junho daquele ano, feitas sem mandato pontifício, haviam criado
uma situação de grave fratura. Mas a Comissão Ecclesia Dei, constituída por João Paulo
II naquela circunstância, trabalhou com paciência para conservar abertos os caminhos
do diálogo, e diversas comunidades de diferentes modos ligadas ao movimento lefèbvriano
já puderam, ao longo dos anos, voltar à plena comunhão com a Igreja católica.
A
Fraternidade Sacerdotal São Pio X, com quatro bispos, permanecia em todo caso a comunidade
mais importante com a qual restabelecer a comunhão. Bento XVI manifestou de modo indubitável
o seu compromisso a fazer todo o possível para alcançar esse objetivo. Recordamos
naturalmente, em primeiro lugar, o Motu Proprio Summorum Pontificum sobre o rito para
a celebração da missa, mas podemos também recordar o documento da Congregação para
a Doutrina da Fé que esclarecia alguns pontos discutidos pela doutrina eclesiológica
do Concílio Vaticano II, como alguns grandes pronunciamentos sobre a correta hermenêutica
do próprio Concílio, em continuidade com a tradição. Tudo isso criou, naturalmente,
um clima favorável, no qual os bispos da Fraternidade São Pio X pediram a remissão
da excomunhão atestando explicitamente a sua vontade de estar na Igreja católica romana
e de acreditar firmemente no Primado de Pedro.
É belo que a remissão da excomunhão
se dê na iminência do 50º aniversário do anúncio do Concílio Vaticano II, de modo
que este evento fundamental possa agora não mais ser considerado ocasião de tensão,
mas de comunhão. O texto do decreto evidencia que se está ainda em caminho rumo à
plena comunhão, da qual o Santo Padre auspicia a solícita realização. Por exemplo,
aspectos como o status da Fraternidade e dos sacerdotes que a ela pertencem não são
definidos no decreto hoje publicado. Mas a oração da Igreja é feita em uníssono com
o papa, para que toda dificuldade seja em breve superada e se possa falar de comunhão
em sentido pleno e sem nenhuma incerteza – conclui o Pe. Lombardi.