A actual trágica situação da Faixa de Gaza mereceu diversas intervenções do Papa nas
últimas semanas
(13/1/2009) Especial relevo assumiram as palavras pronunciadas naquele que é porventura
o pronunciamento mais solene do ano, o encontro de Boas Festas, com o Corpo Diplomático,
quinta-feira da semana passada, dia 8. Passando em revista as mais graves situações
de crise no mundo, neste momento, Bento XVI partiu da Terra Santa, recordando uma
vez mais que “a opção militar não é uma solução”: “Mais uma vez desejaria voltar
a repetir que a opção militar não é uma solução, e que a violência, venha de onde
vier e qualquer que seja a forma que assuma, deve ser firmemente condenada. Faço votos
de que, com o empenho determinante da comunidade internacional, seja restabelecida
a trégua na Faixa de Gaza (o que é indispensável para restituir à população condições
de vida aceitáveis) e que se relancem as negociações de paz, renunciando ao ódio,
às provocações e ao uso das armas”. Referindo as próximas eleições na região,
Bento XVI sublinhou a importância de que sejam eleitos dirigentes capazes de fazer
avançar o processo de paz e de guiarem os povos em direcção à indispensável reconciliação:
“É muito importante que, por ocasião das cruciais consultas eleitorais que dizem respeito
a muitos habitantes da região, nos próximos meses, se distingam dirigentes capazes
de fazerem progredir com determinação este processo (de paz) e de guiarem os seus
povos para a difícil mas indispensável reconciliação. Não se poderá chegar a esta
sem adoptar uma abordagem global dos problemas destes países, no respeito das aspirações
e dos legítimos interesses de todas as populações envolvidas”.
Dias antes,
no domingo 4 de Janeiro, por ocasião do Angelus, o Papa – visando também, claramente,
as autoridades de Israel - deplorou “a recusa do diálogo” que conduziu a “situações
que pesam gravemente, de modo indescritível, sobre as populações, uma vez mais vítimas
do ódio e da guerra”. E concluiu de modo lapidar: “A guerra e o ódio não são a solução
dos problemas. Confirma-o até mesmo a história mais recente. Rezemos para que o Menino
da manjedoura inspire as autoridades e os responsáveis de ambas as frentes, israelita
e palestiniana, a uma acção imediata para pôr termo à actual trágica situação”. Entretanto,
causavam reacções certas declarações do Cardeal Renato Martino ao quotidiano “L’Osservatore
Romano”, a 1 de Janeiro. Comentando a situação internacional e a mensagem do Papa
para o Dia Mundial da Paz, o presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz não evitou
uma alusão directa a situação em Gaza, considerando que naquela Faixa “desde há décadas
que se vem espezinhando a dignidade do homem, alimentando assim o ódio e o fundamentalismo
homicida”. Ora – recordou – “é precisamente sobre o respeito da dignidade do homem
que a doutrina social da Igreja coloca o fundamento ético mais profundo da busca da
paz”.
Vêm à memória as reflexões do próprio Papa em Janeiro de 2006, no
primeiro encontro de início do ano com o Corpo Diplomático. A propósito do princípio
de que “a alma da justiça é o compromisso a favor da verdade”, Bento XVI tecia considerações
que lhe apareciam, “com uma evidência quase exemplar, aplicáveis àquele ponto nevrálgico
do cenário mundial que a Terra Santa continua a ser”. O Papa recordava a necessidade
de reconhecer com imparcialidade – e a “respeitar de modo semelhante” - o que têm
em comum “cada pessoa, cada povo e cada cultura”. E denunciava “a lei do mais forte”:
“O empenho pela verdade é a alma da justiça. Quem está comprometido com a verdade
não pode deixar de recusar a lei do mais forte, que vive de falsidade e que, a nível
nacional e internacional, tantas vezes teceu de tragédias a história dos homens. Embora
com uma aparência de verdade – sublinhava Bento XVI – a mentira é “sempre selectiva
e tendenciosa, orientada de maneira egoísta para uma instrumentalização do homem e,
em última análise, para a sua submissão”. O amor da verdade, pelo contrário, tende
inteiramente à “compreensão equitativa e imparcial e à partilha, não obstante todas
as dificuldades”. E o Papa concluía com uma formulação perfeitamente equidistante:
“O Estado de Israel deve poder existir pacificamente, em conformidade com as normas
do direito internacional; o Povo palestiniano deve igualmente poder desenvolver aí
(na Terra Santa), serenamente, as suas instituições democráticas, para um futuro livre
e democrático”.