"COMBATER A POBREZA, CONSTRUIR A PAZ", NESTE 1º DE JANEIRO, A MENSAGEM DE BENTO XVI
PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ
Cidade do Vaticano, 31 dez (RV) - Nesta quinta-feira, 1º de janeiro, às 10h
locais, o Santo Padre presidirá à celebração da solenidade de Maria Santíssima Mãe
de Deus. Também nesta quinta-feira celebra-se o 42º Dia Mundial da Paz, para o qual
o papa escreveu uma mensagem que se intitula "Combater a pobreza, construir a paz".
Aproveitamos
a ocasião para retomar brevemente o conteúdo da mensagem.
O drama da miséria
que espezinha os direitos de centenas de milhões de pessoas, favorecendo ou agravando
os conflitos, "se impõe à consciência da humanidade". O pontífice convida a combater
a pobreza no mundo para construir a paz. Mas é necessário percorrer uma estrada: mudar
"os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas
de poder que hoje regem a sociedade".
Não se trata de uma operação puramente
exterior: de fato, é necessário "abandonar a mentalidade que considera os pobres (...)
como um fardo e como incômodos inoportunos que pretendem consumir aquilo que outros
produzem": é necessário "olhar para os pobres na consciente perspectiva de que todos
são partícipes de um único projeto divino, o da vocação a constituir uma única família".
Ademais,
"a avidez e horizontes estreitos" criam aqueles "sistemas injustos" que mais cedo
ou mais tarde custam caro a todos. Somente a insensatez _ afirma o papa _ pode (...)
induzir a construir uma casa dourada, mas com o deserto e a degradação ao redor.
O
Santo Padre denuncia "um aumento do abismo entre ricos e pobres"; a atual crise alimentar
"caracterizada não tanto pela insuficiência de alimento, mas pela dificuldade de acesso
a este e por fenômenos especulativos"; "o escândalo da desproporção existente entre
os problemas da pobreza e as medidas" predispostas "para afrontá-los" e, diante desses
problemas, "o crescimento da despesa militar" que "corre o risco de acelerar uma corrida
armamentista" provocando "bolsões de subdesenvolvimento e de desespero".
Além
disso, o abismo tecnológico, a exclusão dos fluxos comerciais mundiais e as dinâmicas
dos preços, aumentam ainda mais as distâncias entre norte e sul: os países pobres,
em particular as nações africanas, sofrem "uma dupla marginalização": têm as mais
baixas rendas, e os preços de seus produtos agrícolas e de suas matérias-primas crescem
menos velozmente do que os produtos industriais dos países ricos.
Em seguida,
o pontífice destaca as conseqüências negativas de um sistema de intercâmbios financeiros
(...) baseados numa lógica a curto prazo que não considera o bem comum e é perigosa
"para todos, inclusive para quem consegue beneficiar-se durante as fases de euforia
financeira".
Em sua mensagem, o Santo Padre manifesta também a preocupação
pelas doenças pandêmicas como a malária, a tuberculose e a Aids: a comunidade internacional
ainda faz muito pouco para combatê-las e por vezes os países atingidos sofrem imposições
de "quem condiciona as ajudas econômicas à aplicação de políticas contrárias à vida".
No
que concerne à Aids, o papa convida a que sejam adotadas campanhas que eduquem especialmente
os jovens a uma sexualidade que corresponda à dignidade da pessoa.
Iniciativas
adotadas nesse sentido já deram frutos significativos fazendo diminuir a sua difusão
_ explica o pontífice na mensagem. É também ressaltada a necessidade de acesso aos
medicamentos por parte dos mais pobres com "uma aplicação flexível das regras internacionais
da propriedade intelectual".
A Mensagem, referindo-se àqueles que colocam em
relação pobreza e desenvolvimento demográfico, lança uma forte crítica às "campanhas
de redução da natalidade, conduzidas internacionalmente, também com métodos não respeitosos
nem da dignidade da mulher, nem do direito dos cônjuges de escolher responsavelmente
o número de filhos e, muitas vezes, o que é mais grave, nem respeitosos do direito
à vida.
O extermínio de milhões de crianças não nascidas, em nome da luta contra
a pobreza _ escreve o papa _, constitui na realidade a eliminação dos mais pobres
entre os seres humanos.
O Santo Padre oferece um dado objetivo: o fato que
nos últimos anos saíram da pobreza países caracterizados "por um notável incremento
demográfico" despontando "no cenário internacional como novas potências econômicas"
realizando "um rápido desenvolvimento justamente graças ao elevado número de seus
habitantes".
"Em outros termos, a população está se confirmando como uma riqueza
e não como um fator de pobreza" _ observa o papa.
O documento ressalta ainda
um dado terrível: quase a metade dos pobres do mundo inteiro é constituída de crianças.
E convida a defender a instituição familiar porque "quando a família se enfraquece,
os danos recaem inevitavelmente sobre as crianças". Assim como onde "não é tutelada
a dignidade da mulher e da mãe, são principalmente os filhos os que mais sofrem".
O
que fazer? _ pergunta-se. A globalização deve ser conduzida pela solidariedade, porque
"sozinha é incapaz de construir a paz e em muitos casos, pelo contrário, cria divisões
e conflitos" _ afirma Bento XVI.
É preciso "lutar contra a criminalidade" e
"investir na formação das pessoas" desenvolvendo "de modo integrado uma específica
cultura da iniciativa".
De fato, "as políticas preponderantemente assistencialistas"
são causa de muitas falências na ajuda aos países pobres. É preciso dar também mais
espaço à sociedade civil. Mas, em última instância _ conclui o Santo Padre _, "a luta
contra a pobreza tem (...) necessidade de homens e mulheres que vivam profundamente
a fraternidade", vendo nos pobres o rosto de Cristo. (RL)