Contraproducente a presença de soldados angolanos na RD Congo, segundo o episcopado
congolês
(23/12/2008) A presença de soldados angolanos no Kivu- Norte, província do leste
congolês assolada pela guerra civil, seria contraproducente, no ponto de vista do
episcopado do referido país vizinho. O presidente da Comissão Episcopal Justiça
e Paz da RD Congo, declarou-o em Paris, durante uma conferência de imprensa organizada
na sede da organização "Socorro Católico".
"Não desejamos tropas angolanas
no Kivu-Norte. Angola tem um passado marcado devido à sua implicação directa na guerra
de 1998", disse o prelado citado pela agência PANA. O presidente francês, Nicolas
Sarkozy, disse há dias que o seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, lhe assegurou
da sua disponibilidade de enviar o seu exército ao leste da RD Congo, sob reserva
dum mandato das Nações Unidas. "Seria uma má decisão que apenas regionalizará o
conflito. Queremos uma força europeia capaz de proteger as populações que estão hoje
na rua", frisou D. Ambongo, bispo de Bukungu-Ikela, no leste da RD Congo. Ele
criticou vivamente a Missão das Nações Unidas na RD Congo (MONUC), acusando-a de nada
fazer para proteger as populações civis durante os confrontos entre o Exército regular
congolês e os rebeldes do Conselho Nacional para a Defesa do Povo (CNDP) de Laurent
Nkunda.
"A MONUC perdeu credibilidade.
"Os militares dos contingentes
que a compõem preferem obedecer às ordens dos seus países de origem do que a dos
seus comandantes. Portanto, não vale a pena elevar os efectivos da MONUC de 17 mil
para 20 mil. Isto não mudará a situação", sustentou o prelado congolês. Para ele,
é importante que o engajamento militar seja seguido por uma reflexão sobre as verdadeiras
causas da crise no leste da RD Congo.
Abordando o problema da exploração
das riquezas mineiras da RD Congo, ele defendeu a organização urgente duma conferência
internacional que deverá reunir o Estado e as empresas multinacionais.
"Trata-se
de definir um quadro legal e sair da situação actual em que as riquezas da RD Congo
são a causa da desgraça do seu povo. Desejamos que estas riquezas sejam exploradas
com transparência", disse o presidente da Comissão Episcopal Justiça e Paz.
As
Organizações não Governamentais denunciam regularmente a pilhagem dos recursos da
RD Congo como o urânio e o diamante por empresas ocidentais que elas acusam de alimentar
intencionalmente a guerra civil.
Ele qualificou a guerra no Kivu-Norte
de "maior drama mundial desde a Segunda Guerra Mundial".
"Cerca de cinco
milhões e 500 mil pessoas morreram no leste da RD Congo. Nunca houve conflito tão
mortífero desde 1945. A humanidade não pode fechar os olhos face a esta tragédia.
Por a situação ser insuportável, nós, homens da Igreja, decidimos colocar-nos na linha
da frente", disse o presidente da Comissão Episcopal Justiça e Paz da RD Congo.