2008-12-20 15:51:04

Bispos portugueses recordam espirito do Natal, em mensagens ás suas dioceses


(20/12/2008) A crise económica e financeira, o consumismo, a falta de valores e de olhar ao próximo estão no centro das mensagens de Natal dos bispos portugueses.
O bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos recorda que este Natal “somos chamados a viver em tempo de crise económica e financeira, de empresas a fechar, de desemprego a aumentar, de posições extremadas entre pessoas e grupos, de diálogos rompidos, de pobres a quem tudo falta, de gente sem pão, sem casa e sem trabalho”. No entanto, lembra o bispo que a maior pobreza é a falta de esperança “já visível em tantos rostos tímidos e envergonhados”. Pede D. António Francisco dos Santos que o Natal “eduque para a sobriedade, para a procura do essencial, para o encontro com Deus, para a experiência solidária e para a partilha fraterna com estes nossos irmãos, independentemente da sua origem, cultura ou credo”.
“Todos têm direito igual ao Natal. Todos têm a mesma necessidade do Natal. Do seu mistério original e dos seus valores culturais permanentes. Todos precisamos do Natal”.
O bispo de Aveiro pede à sua diocese que nos próximos cinco anos seja “Igreja renovada na caridade e esperança no mundo”, com a implementação do plano pastoral. “É um ambicioso programa de vida e de missão que só tem sentido se o procurarmos realizar a partir da convicção profunda e da fé inabalável de que Deus veio habitar no meio de nós”.
D. Gilberto Reis deseja a toda a comunidade católica de Setúbal um feliz natal. “Para todas as pessoas que vivem ou trabalham nesta querida Península qualquer que seja a sua fé ou convicções e para aqueles que foram constituídos em autoridade para serviço do bem comum” o bispo de Setúbal recomenda que parem para encontrar “a alegria, a esperança, a consolação para o outro, porque no outro está presente o Verbo feito Carne”.
D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu quer desejar “a cada pessoa – quem quer que seja e como quer que pense e viva – o melhor Natal”.
“Um Natal cheio dos dons que tornem, cada pessoa, capaz de amar e de ser amada e de sentir os outros como irmãos e como próximos. Um Natal em que cada pessoa veja, sempre, os outros do seu lado e prontos a estenderem a mão e a abrirem o coração”. Escreve o bispo de Viseu, na sua mensagem de Natal 2008, o desejo que “cada pessoa encontre a liberdade de poder escolher e a alegria de ter escolhido o melhor caminho para ser feliz, em comunhão e em solidariedade com todos os irmãos, a começar pelos mais «pequenos»”.
Lembra o bispo que “ir, estar e encontrar-se com todos os outros no Presépio do Menino é viver a Comunhão na Corresponsabilidade – tema central do nosso Plano Pastoral Diocesano”. D. Ilídio lembra “tantas e tantos pessoas, famílias, grupos, profissões e povos que vivem a angústia, a desilusão, a tristeza de os seus direitos fundamentais não lhes serem reconhecidos, tais como o direito a uma vida digna, o direito ao trabalho, o direito à igualdade de oportunidades” e pede orações por estas situações.
O valor da Família
D. António Vitalino, bispo de Beja lembra que o Natal está inscrito na alma e na cultura do nosso povo. “Disso são prova as numerosas tradicionais culturais, populares e religiosas, expressas quer na música, na gastronomia, nas reuniões de família, nas celebrações litúrgicas e da piedade popular”. Apesar disso “o acontecimento originário do Natal parece desfasado da realidade dos nossos ambientes”. O bispo de Beja aponta os indiferentes, a violência, a guerra, a fome, as injustiças, as crises económicas, financeiras e de humanismo que “continuam a grassar por este mundo fora”.
Mas “a mensagem de paz, de liberdade, de fraternidade e de igualdade continuam no âmago do coração humano e são cerne da mensagem de Natal, apesar de o número daqueles que fazem disso uma força das suas vidas parecer decrescer”.
D. António Vitalino lamenta que a família, local de amor “afectivo e efectivo, de renovação dos seres vivos e de apoio ao crescimento da pessoa humana”, enquanto “papel primordial a desempenhar na sociedade e na Igreja” não seja “protegida em muitas sociedades desenvolvidas e a ponham ao nível de qualquer outra forma de associativismo”.
“Acredito que muitos desequilíbrios no crescimento humano provêm do fracasso da educação na família”.
O bispo de Beja lamenta ainda ver “tantos desanimados na nossa sociedade, deixados ao abandono e na solidão, que tantas vezes leva à autodestruição e ao suicídio”. Pede o bispo um Natal com a “simplicidade dos pastores e a sabedoria dos Magos, isto é, daqueles que buscam a Deus e não fazem das riquezas materiais ao seu Deus”.
Como presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, D. António Vitalino exprime às comunidades migrantes os votos “de um Natal de 2008 repleto de sentido religioso, social, familiar e humano”.
D. Manuel Felício, bispo da Guarda, lembra que neste Natal “precisamos de continuar a combater a grave crise social em que estamos mergulhados. Cresce o número de pobres e excluídos, aparecem novas formas de pobreza que se manifestam em pessoas, grupos de pessoas e também em regiões desfavorecidas como a nossa. Os sintomas da grave crise que atravessamos são muitos”.
“O desemprego e o emprego precário, o analfabetismo, a marginalidade e a solidão são quatro novas formas de pobreza e apenas alguns dos sintomas da realidade social dos nossos meios que estão a pedir medidas eficazes para corrigir o processo de empobrecimento progressivo das nossas gentes”.
Pede o bispo da Guarda que o Natal “toque o coração de todos os responsáveis pela condução da nossa vida social, os que pertencem aos quadros da administração pública central e local e também os que representam a sociedade civil organizada em corpos intermédios”.
Natal transplantado
D. Joaquim Gonçalves, bispo de Vila Real, recorda na sua mensagem de Natal que este será o primeiro que vive com o coração de outra pessoa. “No ano transacto passei o Natal aflitivamente suspenso do ritmo instável de um coração cansado, longe da família e da diocese, vigiado em ambiente hospitalar e aquecido em casa de amigos comuns. Pude fazer a experiência viva do Natal dos pobres, dependente dos cuidados de outros, do seu saber e atenção e, finalmente, do transplante de um coração anónimo que apareceu inesperadamente em Janeiro seguinte e substituiu o outro coração exausto. Fiz a experiência dramática de esperar pelo socorro de alguém desconhecido e cuja morte fica envolta na névoa dos segredos da Providência”.
“Esta experiência pode servir de parábola para ajudar a viver o mistério do Natal de Jesus e sugere a resposta à crise que vivemos”.
Escreve o bispo que “o Natal tem de ser um Natal de transplantes económicos, culturais e afectivos: de pão e de roupa, de dinheiro e de tecto, para famílias carecidas de quase tudo; de olhos atentos aos vizinhos que aparentam segurança mas vivem em pobreza envergonhada; de afecto paternal e maternal para crianças órfãs de pai ou de mãe; da ousadia de empresários para com os trabalhadores afectados por longo desemprego; do afecto de filhos e filhas casados para com o pai ou mãe que vive uma viuvez recente. E, ainda, de transplantes de médicos e de enfermeiros para os doentes dos hospitais; transplantes de medicamentos e paciência para quem se encontra em convalescença; transplantes do acolhimento leal para os que estão emigrados, em emigração voluntária ou emigração forçada; transplantes de diálogo e fervor do Espírito para os que vivem em comunidades religiosas de vida apostólica e contemplativa; transplantes da alegria de servir para os que exercem actividades públicas de carácter permanente; transplantes dos ventos fortes do Espírito para os que trabalham em terras missionárias; transplantes de sensatez para quem está incumbido de legislar sobre a família”.
“Ainda que estes gestos não resolvam definitivamente a situação de ninguém, farão sentir a fecundidade do «despojamento» voluntário que prolonga o de Deus, e crescerá a esperança de um mundo em rejuvenescimento”.
Combater o consumismo
D. António Sousa Braga indica que, num mundo conturbado, “com uma grande incerteza em relação ao futuro, precisamos de uma palavra de esperança certa”.
“A humanidade não está num beco sem saída”, indica o bispo de Angra, sublinhando três atitudes: sobriedade, justiça e piedade. “Vêm aí tempos difíceis, que vão exigir mudanças de hábitos, uma verdadeira conversão, na maneira de ser e de agir”.
“A crise financeira, que alastra pelo mundo, vem mostrar-nos que é preciso ultrapassar a cultura do mero consumismo, com estilos de vida mais sóbrios e austeros. É evidente que se exigem da parte dos responsáveis maior rigor e controlo, mais honestidade e competência, mas também da parte de todos uma cultura da solidariedade, para que haja lugar para todos no banquete da vida”.
“Temos de abrir o nosso coração à caridade, que é o nome cristão do amor, baseado na justiça, o primeiro degrau do verdadeiro amor do próximo”.
Lembra o bispo que “não se trata, pois, de buscar a Deus nas nuvens, mas na terra dos homens, vivendo com sobriedade, justiça e piedade”.
Aponta D. José Alves, Arcebispo de Évora que “não há outra quadra festiva que exerça tanto fascínio na mente das crianças, dos jovens e dos adultos de todas as idades como o Natal. Mas nem sempre pelas melhores razões, pois à volta do Natal entrecruzam-se múltiplas motivações de carácter económico e comercial, cultural e artístico, religioso e social”.
Indica o Arcebispo que a sede do consumismo chega a ser “avassaladora”, e quando “aliada com ideologias agnósticas e laicas, os seus efeitos tornam-se deletérios em relação ao Natal que, sendo uma festa cristã, corre o risco de se paganizar, deslizando apenas para uma festa de família ou para a época das compras e dos presentes”.
“A mentalidade consumista baseia-se no princípio da abundância material, promove o egoísmo e gera desinteresse pelos mais carenciados da sociedade, em oposição ao sentido genuíno do Natal”, indica o Arcebispo.
Recorda D. José Alves que numa sociedade “em que são frequentes os atropelos à justiça, pela distorção das leis e pelo retardamento culposo da sua correcta aplicação”, o Natal continua a dirigir-se aos homens de boa vontade, “para que unam o seu saber e os seus esforços, no restabelecimento da paz e da justiça, empenhando-se na erradicação da pobreza, na promoção da ecologia, no combate à fraude e à exploração vergonhosa dos pobres e dos inocentes”.
“É urgente que aprendamos com Jesus Cristo a reinventar um novo estilo de relação interpessoal”.

( Em Ecclesia)







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