THOMAS MERTON - O TEMPO DA ESPERA: "OS TRÊS ADVENTOS"
Texto de Thomas Merton publicado pela edição italiana do jornal "L'Osservatore
Romano" de 15-16 de dezembro, p. 4, por ocasião dos 40 anos da morte do monge trapista
norte-americano. Tradução de Raimundo Lima.
São Bernardo retorna com freqüência
à idéia dos "três Adventos" de Cristo. O primeiro é o Advento com o qual entrou no
mundo, após ter recebido a natureza humana, no seio da bem-aventurada Virgem Maria.
O terceiro é o Advento que o trará ao mundo no fim dos tempos, para julgar os vivos
e os mortos ou, sobretudo, para tornar manifesto o juízo que os indiferentes fizeram
recair sobre si mesmos, rejeitando acolher o seu amor e salvação, e que os eleitos
aceitaram das mãos de sua misericórdia.
O primeiro é o Advento no qual Ele
vem procurar e salvar aquilo que estava perdido. O terceiro é o Advento no qual ele
vem para atrair-nos a si. O primeiro é uma promessa; o terceiro é o seu cumprimento.
(…)
Os três Adventos de Cristo são uma realização completa da pascha Christi.
Mas até então, falamos explicitamente somente do primeiro e do terceiro. O segundo
é, num certo sentido, o mais importante para nós. O "segundo Advento" – por meio do
qual Cristo está presente agora em nossas almas – depende do nosso reconhecimento
atual da sua pascha, ou transitus, a passagem de Cristo através do mundo, através
das nossas próprias vidas.
Meditando o Advento passado e o Advento futuro,
aprendemos a reconhecer o Advento presente, que se situa em todos os momentos da nossa
vida de peregrinos terrenos. Alcançamos a consciência do fato que cada momento do
tempo é um momento de juízo, que Cristo está passando, e que nós somos julgados pela
maior ou menor consciência dessa sua passagem. Se nos unirmos a Ele e nos colocarmos
a caminho com Ele, rumo a Seu reino, o juízo se torna salvação para nós. Mas se O
deixarmos de lado e se permitirmos que passe avante, a nossa indiferença se torna
a nossa condenação.
A meditação sobre o primeiro Advento nos dá a esperança
na promessa que nos foi feita. A recordação do terceiro serve para mantermos vivo
o temor de não sermos capazes de ver essa promessa realizada. O segundo Advento, o
presente, colocado entre esses dois termos extremos, torna-se, necessariamente, um
tempo de angústia, um tempo de conflito entre o temor e a alegria. Mas como é salutar
essa luta! Que termina na salvação e na vitória porque purifica todo o nosso ser.
Apesar
disso, o medius Adventus é tempo mais de consolação que de penitência, se refletirmos
que também nele, Cristo vem realmente a nós, nos dá realmente seu próprio ser, porque,
na esperança, já possuímos o céu.
"Esse segundo Advento é o caminho que percorremos,
para passar do primeiro para o terceiro. No primeiro, Cristo era a nossa redenção,
no último nos aparecerá como a nossa vida. No presente, enquanto dormimos na nossa
herança, Ele é nosso repouso e nossa consolação" (Sermo V de Adventu, I).
Porém,
neste "sono" não há nenhuma idéia de inatividade. Indubitavelmente, pode significar
quietude, escuridão e vazio para a nossa atividade natural. Mas nessa "escuridão",
Deus vem a nós e opera misteriosamente dentro de nós, em espírito e verdade, para
fazer de modo que o fruto de Sua obra se torne manifesto no terceiro Advento, quando
Ele virá em toda a sua majestade e em toda a sua glória.
Thomas Merton
foi um religioso e escritor norte-americano da Ordem Trapista, autor de mais de 60
escritos, entre ensaios e obras em poesia e prosa, dedicados, sobretudo, aos temas
do ecumenismo, do diálogo inter-religioso, da paz e dos direitos civis. De pai neozelandês
e mãe norte-americana, nasceu em 1915, em Prades, na França, e morreu em 1968, em
Bangcoc, Tailândia.