Analfabetismo no mundo atinge 776 milhões de adultos
(4/12/2008) A UNESCO indicou a semana passada que já não há esperança de atingir
em 2015 as metas do Milénio para a escolaridade básica no mundo. Culpas: escasso empenho
dos governos de países pobres e falta de ajudas dos países mais ricos. As desigualdades
no acesso à educação entre países ricos e os países em desenvolvimento não estão a
atenuar-se ao ritmo desejável, segundo um relatório divulgado pela agência das Nações
Unidas para a educação e cultura. O documento da UNESCO, baseado em estatísticas de
2006, indica que há 75 milhões de crianças sem acesso sequer ao ensino básico. Traduzido
para a realidade dos países em desenvolvimento, este cenário significa que uma em
cada oito crianças não chega a frequentar qualquer grau de escolaridade. Os ganhos
têm sido poucos e a UNESCO já admite ser impossível que ,daqui a pouco mais de seis
anos, o mundo alcance um dos Objectivos do Milénio, a educação básica para todos.
A nova projecção aponta para que em 2015 cerca de 29 milhões de crianças ainda estejam
arrredadas da escola. A falta de perspectivas para tão elevado número de crianças
reflecte grandes disparidades mundiais: nos países ricos, uma em cada três crianças
acaba por fazer um curso universitário, enquanto na África negra só 5% chegam à universidade.
As crianças inglesas ou francesas, por exemplo, têm mais oportunidades de entrar num
curso superior do que as crianças do Níger ou do Senegal têm de completar o básico.
Um outro dado que relaciona a frequência escolar e a saúde indica que 193 milhões
de crianças dos países pobres (uma em cada três) chegam ao ensino básico com problemas
de desenvolvimento mental devido a alimentação demasiado precária. No Sul da Ásia
isto afecta 40% das crianças. Koichiro Matsuura, que preside à UNESCO, disse na
apresentação do relatório que as desigualdades não se expressam apenas entre países
e grupos de países, mas também dentro de cada um, sobretudo nos menos desenvolvidos
No alerta de Matsuura é lembrado que a desigualdade de oportunidades na educação potencia
a pobreza, a fome e a mortalidade infantil e reduz as possibilidades de crescimento
económico. Por isso, os governos têm de agir com grande sentido de urgência", disse.
Às dificuldades de cobertura escolar para os mais jovens junta-se o passivo da
iliteracia dos adultos. Há 16% da população mundial que é analfabeta (o que corresponde
a 776 milhões de pessoas, dois terços das quais são mulheres). Ao ritmo lento a que
se está avançando, em 2015 ainda haverá 700 milhões de analfabetos. A UNESCO chama
a atenção para que a expansão do ensino privado para colmatar falhas do público não
deva pôr em causa o acesso à educação básica