PAPA NA AUDIÊNCIA GERAL: "O MAL NÃO TEM EXPLICAÇÃO. SOMENTE DEUS E O BEM TÊM LÓGICA"
Cidade do Vaticano, 03 dez (RV) - Bento XVI reuniu-se, esta manhã, na Sala
Paulo VI, no Vaticano, com os peregrinos e fiéis para a tradicional Audiência Geral
das quartas-feiras.
Em sua catequese semanal, o Santo Padre continuou suas
reflexões sobre o Apóstolo dos Gentios. Em especial, comentou a passagem da Carta
aos Romanos onde São Paulo faz uma comparação entre Adão e Cristo, traçando as linhas
essenciais da doutrina sobre o "pecado original".
O pontífice explicou que
se na fé da Igreja amadureceu a consciência do dogma do pecado original, é porque
ele está intimamente ligado a outro dogma, que é o da salvação e da liberdade em Cristo.
Portanto, nunca devemos tratar o pecado de Adão e da humanidade de modo separado do
contexto salvífico, sem compreendê-los no horizonte da justificação em Cristo.
Mas
os homens de hoje se perguntam: o que é este pecado original? Esta doutrina pode ainda
ser sustentada? O pecado original existe ou não?
Para responder, disse o papa,
devemos distinguir dois aspectos dessa doutrina. O primeiro é o aspecto empírico,
ou seja, a realidade concreta, visível. E o outro é o aspecto misterioso, oculto.
O
dado concreto é que existe uma contradição no nosso ser. De um lado, o homem sabe
que deve fazer o bem, mas, ao mesmo tempo, sente o impulso de fazer o mal, de seguir
a estrada do egoísmo, da violência.
"Esta contradição interior não é uma teoria.
Cada um de nós a sente todos os dias. E, sobretudo, vemos prevalecer sempre em torno
de nós essa segunda vontade. Basta pensar nas notícias cotidianas sobre as injustiças,
a violência e a mentira. Como conseqüência deste poder do mal nas nossas almas, desenvolveu-se
na história um rio imundo, que envenena a geografia da história humana. Como dizia
o filósofo francês Blaise Pascal, o mal parece que se tornou uma segunda natureza."
Todavia, essa contradição deve provocar, e provoca ainda hoje, o desejo de
redenção. O mal existe, simplesmente, mas não dentro da natureza humana. A fé nos
diz que existem dois mistérios de luz e um mistério de escuridão, e este, por sua
vez, está envolvido pelos mistérios de luz.
O primeiro mistério de luz é este:
a fé nos diz que não existem dois princípios, um bom e outro mal, mas existe um único
princípio, o Deus criador, e este princípio é bom, sem sombra de maldade.
Assim,
o ser não é um misto de bem e de mal, o ser como tal é bom. Este é o anúncio da fé:
existe uma única fonte boa, o Criador. Por isso, viver é um bem, assim como ser homem,
como ser mulher. A vida é um bem.
Depois, há o mistério da escuridão, da noite.
O mal não vem da mesma fonte do ser. O mal vem de uma liberdade criada, de uma liberdade
abusada.
"Como isso aconteceu permanece um mistério. O mal não tem lógica,
não é possível explicá-lo. Somente Deus e o bem são lógicos, são luz."
Mas
a este mistério da escuridão, acrescenta-se imediatamente outro mistério: Deus, com
a sua luz, é mais forte. E por isso, o mal pode ser superado. Assim, a criatura, o
homem, pode ser sanado, não somente na teoria, mas nos fatos.
Deus introduziu
a cura, Ele entrou pessoalmente na história. Cristo crucificado e ressuscitado, novo
Adão, opõe ao rio imundo do mal um rio de luz. E este rio está presente na história:
vemos os santos, os grandes santos, mas os santos humildes, os simples fiéis.
Este
é o significado do Advento: Cristo é o novo Adão, e está conosco e no meio de nós.
Sua luz já resplende e devemos abrir os olhos do coração para vê-la. (BF)