2008-12-01 12:22:04

A vocação da Universidade é a formação científica e cultural das pessoas para o desenvolvimento de toda a comunidade: Bento XVI recebendo alunos e professores da Universidade de Parma


Para além da formação académica e da investigação científica, uma Universidade está chamada a “oferecer aos jovens a possibilidade de maturação intelectual, moral e cívica, confrontando-se com as grandes interrogações que interpelam a consciência do homem contemporâneo”. – Recordou-o Bento XVI recebendo nesta segunda de manhã, no Vaticano, um numeroso grupo de estudantes e professores da Universidade italiana de Parma. Num período em que tanto se fala de reforma universitária e de autonomia das Universidades, o Santo Padre deteve-se a reflectir sobre as condições de uma autêntica reforma e sobre a verdadeira liberdade de uma instituição universitária.

A Universidade de Parma conta actualmente trinta mil estudantes e 1.100 docentes. O programa de estudos abrange três âmbitos: Saúde (três Faculdades), Estudos Humanísticos (cinco Faculdades) e Sector Técnico-científico (quatro Faculdades). Em 1991 o então cardeal Joseph Ratzinger ali pronunciou uma conferência sobre “Os caminhos da fé no meio das mutações do tempo presente”.
Recordando agora aquele seu anterior contacto pessoal com esta Universidade, o Papa propôs-se reflectir desta vez sobre a “lição” deixada por São Pedro Damião, que estudou em Parma em 1025, ali ficando depois, durante alguns anos, como professor. Bento XVI sublinhou a actualidade que mantém ainda hoje aquela que é, a seu ver, “a característica central da personalidade” de São Pedro Damião: a “síntese entre vida eremítica e actividade eclesial, a harmónica tensão entre os dois pólos fundamentais da existência humana – a solidão e a comunhão”. Uma “herança espiritual” a que os jovens universitários de hoje não hão-de ficar indiferentes:

“As novas gerações estão hoje fortemente expostas a um duplo risco, devido sobretudo à difusão das novas tecnologias informáticas: por um lado, o perigo de ver reduzir-se cada vez mais a capacidade de concentração e de aplicação mental no plano pessoal; por outro lado, o risco de se isolarem individualmente numa realidade cada vez mais virtual”.

“Desintegra-se assim em mil fragmentos a dimensão social, ao mesmo tempo que a dimensão pessoal se dobre cada vez mais sobre si mesma, tendendo a fechar-se a relações construtivas com o outro, com o diferente de si”.

“A Universidade, por sua natureza, vive precisamente do correcto equilíbrio entre o momento individual e o comunitário, entre a investigação e reflexão de cada um e a partilha e confronto abertos aos outros, num horizonte tendencialmente universal”.

Também na nossa época, como nos tempos de Pedro Damião, época “marcada por particularismo e incertezas e pela carência de princípios unificadores” – considerou o Papa, “os estudos universitários deveriam “oferecer aos jovens a possibilidade de maturarem do ponto de vista intelectual, moral e cívico, confrontando-se com as grandes interrogações que interpelam a consciência do homem contemporâneo”.

São Pedro Damião ficou conhecido como um dos grandes “reformadores” da Igreja depois do ano 1000. Muito se fala hoje de “reforma” da Universidade. Ora – interrogou-se o Papa – qual é o genuíno conceito de reforma. Os escritos e sobretudo o testemunho pessoal de Pedro Damião mostram que “uma autêntica reforma deve ser antes de mais espiritual e moral, isto é, deve partir das consciências”. Aspecto a ter bem presente quando se pensa numa reforma universitária:

“As modificações estruturais e técnicas são efectivamente eficazes se acompanhadas de um sério exame de consciência da parte dos responsáveis a todos os níveis, mas mais em geral de cada docente, de cada estudante, de todo o pessoal técnico e administrativo… Se se pretende que um ambiente melhore em qualidade e eficiência, ocorre antes de mais que cada um comece por se reformar a si mesmo, corrigindo aquilo que pode prejudicar o bem comum ou de algum modo criar-lhe obstáculo”.

Uma última observação, reservou-a o Papa à questão da liberdade. A acção de Pedro Damião visava sobretudo conseguir com que a Igreja se tornasse mais livre. Assim também – observou Bento XVI - a validade de uma reforma da Universidade tem forçosamente como contraponto a sua liberdade:

“liberdade de ensinamento, liberdade de investigação, liberdade da instituição académica em relação aos poderes económicos e políticos. O que não significa que a Universidade se isole da sociedade, auto-referenciando-se unicamente a si própria, nem muito menos que vise interesses privados explorando os recursos públicos”.

“É claro que não é essa a liberdade cristã!”

“Verdadeiramente livre, segundo o Evangelho e a tradição da Igreja, é aquela pessoa, aquela comunidade ou aquela instituição que responde plenamente à sua natureza e ao seu fim, e a vocação da Universidade é a formação científica e cultural das pessoas para o desenvolvimento de toda a comunidade social e civil”.








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