Que os mosteiros sejam um "oásis espiritual", onde se possa "aprender a viver como
verdadeiro discípulo de Cristo, em serena e perseverante comunhão fraterna": Bento
XVI à Assembleia Plenária da Congregação para a Vida Consagrada
(20/11/2008) “O essencial” da vida cristã consiste em “procurar Cristo e nada antepor
ao seu amor”. Dirigindo-se nesta quinta-feira à assembleia plenária da Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada, Bento XVI recordou a máxima da Regra de São
Bento (que vem já da tradição precedente) - “Nada colocar, absolutamente, à frente
de Cristo”, sublinhando que “o monaquismo pode constituir para todas as formas de
vida religiosa e de consagração uma memória do que é essencial e tem o primado em
toda e qualquer vida baptismal”.
Esta “Congregação para os Institutos de Vida
Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica” foi criada em 1908 pelo Papa São Pio
X, e vai justamente celebrar neste sábado um Encontro tendo como título significativo
“Cem anos ao serviço da vida consagrada”. O Papa congratulou-se com estes dois factos
e quis agradecer e dar graças a Deus por todos os que ao longo deste século gastaram
as suas energias em benefício das pessoas consagradas, procurando (disse), “com competência
e sapiência, promover e regulamentar a prática dos conselhos evangélicos nas várias
formas de vida consagrada”.
A Assembleia Plenária deste Dicastério da Cúria
Romana dedicou este ano a sua atenção a um tema “particularmente caro” a Bento XVI,
isto é, “o monaquismo, forma vitae que sempre se inspirou na Igreja nascente,
gerada a partir do Pentecostes”. O Papa recordou que, ainda recentemente, em Setembro
passado, em Paris, dirigindo-se ao mundo da cultura, quis “evidenciar a exemplaridade
da vida monástica na história”, sublinhando que o seu objectivo era “ao mesmo tempo
simples e essencial”:
“Quaerere Deum, procurar a Deus, e procurá-lo
através de Jesus Cristo que O revelou, procurando fixar o olhar sobre as realidades
invisíveis que são eternas, aguardando a manifestação gloriosa do Salvador”.
Foi
neste contexto que Bento XVI evocou a fórmula da Regra beneditina, já anteriormente
expressa por Santo Agostinho e por São Cipriano) - “não antepor absolutamente nada
a Cristo” – expressão que bem indica “o precioso tesouro da vida monástica até hoje
praticada tanto no Ocidente como no Oriente cristão”.
“Em virtude do primado
absoluto reservado a Cristo, os mosteiros são chamados a ser lugares em que se dá
espaço à celebração da glória de Deus, se adora e se canta a misteriosa mas real presença
divina no mundo, se procura viver o mandamento novo do amor e do serviço recíproco,
preparando assim a manifestação (final) dos filhos de Deus”. Evocando
a recente celebração da assembleia do Sínodo dos Bispos sobre “A Palavra de Deus na
vida e na missão da Igreja”, o Papa sublinhou que “o desejo de Deus e o amor pela
Palavra se alimentam reciprocamente e geram na vida monástica a exigência irreprimível
do opus Dei, do studium orationis e da lectio divina, que é escuta
da Palavra de Deus, acompanhada das grandes vozes da tradição dos Padres e dos Santos,
e depois oração orientada e mantida por esta Palavra”.
A concluir, Bento
XVI sublinhou que “quem entra num mosteiro procura ali um oásis espiritual onde possa
aprender a viver como verdadeiro discípulo de Jesus, numa comunhão fraterna serena
e perseverante”. Tal é “o testemunho que a Igreja pede ao monaquismo, tanto neste
nosso tempo”. O Papa formulou portanto um desejo e uma esperança:
“Possam
os mosteiros ser sempre cada vez mais oásis de vida ascética, onde se adverte o fascínio
da união esponsal com Cristo e onde a opção pelo Absoluto de Deus se encontra envolvida
por um clima constante de oração e de contemplação”.