IGREJA CATÓLICA: INDÚSTRIA DO ETANOL EMPREGA TRABALHO ESCRAVO
São Paulo, 18 nov (RV) - A Conferência Internacional sobre Biocombustíveis
foi inaugurada ontem em São Paulo em meio a acusações de que esta indústria prejudica
a segurança alimentar e energética e propicia o trabalho em condições subumanas.
A
ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, voltou a defender a produção de etanol
de cana-de-açúcar e o biodiesel de oleaginosas sem comprometer a oferta de alimentos,
assegurando que o etanol é a melhor fonte alternativa de energia. A ministra lembrou
que em 30 anos de indústria do etanol no Brasil, quase se duplicou o rendimento por
hectare cultivado de cana-de-açúcar e foi possível alcançar a auto-suficiência em
matéria de combustíveis sem pôr em risco as áreas dedicadas à agricultura.
Já
o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, destacou que após
os EUA, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, com 33,2%, e o maior
exportador, com 37% do total. "Em cinco anos esperamos ter a metade do mercado do
etanol no mundo", previu o ministro.
Presente na Conferência, a Pastoral da
Terra, órgão da Igreja Católica, ofereceu uma visão menos entusiasta dessa indústria,
reiterando suas denúncias de que há trabalho escravo e degradante nos cultivos de
cana-de-açúcar e na produção de etanol. A Pastoral apresentou dados do próprio Ministério
do Trabalho, segundo os quais, entre janeiro de 2003 e outubro de 2008, foram resgatados
6.779 trabalhadores em condições subumanas de canaviais em Goiás, São Paulo, Alagoas,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais e Pará.
Desde
2003, o Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho libertou 32.500 escravos
modernos. De acordo com a Pastoral, os trabalhadores são transportados e alojados
de modo pior do que os animais, pressionados pelo pagamento por produção e obrigados
a trabalhar até a exaustão, num regime que já provocou várias mortes. “Se considerar
o custo humano, não é possível dissertar sobre as vantagens comparativas do açúcar
e do etanol brasileiro no mercado global”, assinalou a Pastoral.
A legislação
brasileira considera “equivalente a escravatura” o trabalho em condições precárias
e insalubres de alojamento, por pessoas famintas obrigadas a trabalhar para pagar
dívidas de transporte e comida contraídas com os próprios empregadores.
A
Conferência Internacional sobre Biocombustíveis reúne em São Paulo, de 17 a 21 de
novembro, especialistas e políticos representantes de vários países. (CM)