(16/11/2008) «A actual crise financeira manifesta uma profunda crise espiritual e
um conjunto equivocado de valores»: afirmam os bispos da Europa concluindo sexta-feira
a Assembleia Plenária do Comité de Representantes das Conferências Episcopais da
Europa (COMECE), realizada nestes dias em Bruxelas. A crise actual s reflecte-se
na Europa numa tripla vertente, segundo a análise realizada nestes dias pelos prelados:
em primeiro lugar, «o resultado do referendum irlandês, que suspendeu o Tratado de
Lisboa e a reforma institucional da UE»; em segundo lugar, «a crise geopolítica surgida
do conflito do Cáucaso»; e em terceiro lugar, «a crise financeira e económica ». Centrando-se
nesta última, os bispos assinalam com pesar que «o sentido e o valor do trabalho humano
foram retirados pela luta generalizada pelo lucro». O presidente da COMECE, D.
Adrianus Van Luyn, bispo de Roterdão, advertiu que não se subestima a crise, porque
o que se questiona é o modelo de sociedade ocidental. «Quem considerar que a
causa da crise financeira reside só numa falta de transparência e de responsabilidade
legal, talvez não perceba o facto de que é o nosso modelo social que está a ser posto
em dúvida», acrescentou. «Um modelo económico que está baseado no consumo continuado
e ilimitado de recursos limitados só pode acabar mal», acrescentou. Neste sentido,
os bispos acreditam que o debate sobre a mudança climática «oferece a oportunidade
de questionar o estilo de vida da sociedade ocidental», já que « se interroga acerca
da sobrevivência de uma grande parte da humanidade». É necessário, portanto, «persuadir
não só as mentes, mas também os corações dos cidadãos, e convencê-los de que se distanciem
do modo de viver predominante nos nossos países, muito centrado no consumo». A
importância do domingo Outro dos temas tratados, dentro da preocupação geral
pelas repercussões da crise, foi o respeito do domingo como dia festivo, questão que
está prevista no debate do Parlamento Europeu do próximo mês de Dezembro. Os bispos
europeus pedem que se respeite o descanso dominical «como um dos fundamentos da ordem
social europeia », assim como «uma forma de equilibrar a vida familiar e o trabalho»,
frente a recentes legislações europeias que ameaçam o domingo por questões políticas
ou simplesmente consumistas. Neste sentido, apelam à «responsabilidade dos membros
do Parlamento» para que incluam a protecção do domingo na directriz sobre o horário
de trabalho, especialmente neste momento de crise. Por último, os prelados pedem
à Europa que se envolva mais na defesa da minoria cristã do Iraque, e lamentam que
a Europa «não se esforce suficientemente » para exigir de outros países o respeito
pela liberdade religiosa.