Crise financeira e religiosa na plenária do Outono da COMECE
(13/11/2008) A crise constitucional que ocorreu após o referendo Irlandês em Junho,
o conflito entre a Rússia e a Geórgia, a “dramática crise financeira”, cujas consequências
económicas, socais e políticas “apenas podemos antecipar algumas considerações”, foram
referidas como “sérias preocupações”, pelo Presidente da Comissão das Conferência
Episcopais da União Europeia – COMECE, D. Adrianus Van Luyn. No início da Assembleia
plenária do Outono, em Bruxelas, o Presidente antecipou alguns temas que estarão em
reflexão no encontro que definiu como “Desafios actuais para a Europa”. Na agenda
dos bispos consta ainda o dossier sobre as alterações climáticas e o estilo de vida
dos cristãos, a directiva do parlamento Europeu sobre o trabalho ao Domingo, os refugiados
cristãos no mundo e as parecerias entre a UE e a Rússia após o conflito na Geórgia.
As palavras de abertura do Presidente da COMECE incidiram na crise financeira.
“Uma crise que é acima de tudo, uma crise de confiança. “Como podemos confiar nos
fundamentos da economia e do sistema social que foi tão dramaticamente interrompido?”,
questionou, indicando a necessidade de “melhores regras e leis” e melhores especialistas,
tanto a nível europeu como mundial, “para prevenir que a situação dos sistemas financeiros,
globalmente ligados, se agrave mais”. O Presidente da COMECE abordou igualmente
o encontro dos chefes de Estado e do Governo do G20 – regulação fiscal, modernização
do Fundo Monetário Internacional – pedindo uma análise profunda. “É o nosso modelo
social que está em questão”. As causas profundas da crise financeira assentam num
jogo desorganizado de valores”, indicou, acrescentando que “a crise financeira expôs
uma crise espiritual e uma hierarquia de valores distorcida”. O Presidente considerou
ainda que o sentido e o valor do trabalho humano “foi posto de lado em detrimento
da intensa luta pelo lucro” e “as pessoas e o planeta estão, em última análise, apenas
à procura do que é funcional”. O encontro do G20, em Nova Iorque “não irá dar
nenhuma resposta às questões, pois ultrapassam o domínio da política”. “Mas precisamos
de respostas, as respostas são aguardadas e os media esperam respostas de quem consideram
ser a autoridade”. O Presidente da COMECE reconheceu que “não é apenas o sistema
financeiro que «está no vermelho», mas também o nosso equilíbrio religioso está a
sair do controlo quando o mundo é apanhado numa profunda crise social e económica”.
Assim, a crise financeira “deveria levar-nos a questionarmos porque é que não há mais
pessoas a reconhecer na mensagem cristã a chave para uma vida mais moderada, mais
feliz?”, questionou. “O que poderemos fazer para tornar a nossa fé mais compreensível
e de forma mais credível?”. Esta será a questão a analisar nos próximos dias do
encontro entre os Bispos da União Europeia.