Cidade do Vaticano, 06 nov (RV) - “A eleição de Barack Obama como presidente
dos Estados Unidos teria agradado ao papa João XXIII” – assegura mons. Loris Capovilla,
seu secretário pessoal de 1953 até sua morte dez anos depois, e que hoje se ocupa
da preservação da memória do papa Roncalli.
“Quando os muros da segregação
caem, damos um passo adiante” – disse, revelando que na noite passada, quando foi
eleito o primeiro presidente americano negro, sentiu “a mesma emoção provada quando
João XXIII ordenou o primeiro cardeal africano, Lauren Rugambwa, um grande homem”.
Foi em 1960, poucos meses antes da eleição de John Fitzgerald Kennedy, primeiro
católico na presidência dos Estados Unidos, e assim como Obama, julgado ‘jovem demais’
para o cargo. “Mas, se um homem jovem é correto, preparado e humilde, pode desempenhar
bem o seu papel”. Papa João XXIII apreciava muito o jovem Kennedy e deveria tê-lo
encontrado em maio de 1963, mas adoeceu e faleceu antes. O presidente, por sua vez,
conseguiu visitar Paulo VI antes de ser assassinado em Dallas, em 22 de novembro daquele
mesmo ano. “Mas Kennedy não morreu” – ressalva mons. Capovilla. “Suas sementes foram
lançadas na terra, e talvez estejam brotando nestes dias”.
O ex-secretário
de papa Roncalli, que tem hoje 93 anos, ficou tocado com algumas palavras de Obama:
“Falando de seus adversários, o recém-eleito presidente explica que ‘somos diferentes,
mas não inimigos’. Esta é uma grande lição”. A mons. Capovilla agrada muito também
a palavra-chave da campanha: ‘change’ (mudança). “Esta palavra consta também no Evangelho:
significa converter, ou seja, mudar de direção. E o mundo mudou a direção, deu um
passo à frente. O fato que milhões de americanos tenham votado em um homem de proveniência
queniana é um evento civil e religioso. Esta noite, os EUA deram uma prova de confiança
no homem, pois não existem homens bons ou maus, mas apenas homens”.
“A mesma
confiança foi demonstrada por papa Roncalli, quando nomeou o primeiro cardeal negro
e canonizou o primeiro santo negro, Frei Martinho de Porres, em maio de 1962. Por
isso – segundo seu secretário – teria ficado muito contente com a eleição de Barak
Obama”. (CM)