Cidade do Vaticano, 05 nov (RV) - Está em andamento no Vaticano o Fórum católico-muçulmano
sobre o tema "Amor a Deus, amor ao próximo".
A decisão de constituir este Fórum
foi tomada em março deste ano, em resposta à carta enviada em outubro de 2007 por
138 sábios muçulmanos ao papa. A carta, assinada pelo presidente do Instituto Aal
al-Bayt para o Pensamento Islâmico, príncipe Ghazi bin Muhammad Bin Talal, afirmava
que o futuro do mundo depende da paz entre muçulmanos e católicos.
Em resposta
a esta iniciativa, considerada 'encorajadora', Bento XVI demandou a instauração de
um diálogo baseado no respeito da dignidade da pessoa, no conhecimento objetivo da
religião do próximo e no compromisso comum, para promover o respeito e a aceitação
mútuos.
Em março deste ano, uma delegação católica liderada pelo presidente
do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, cardeal Jean Louis Tauran,
recebeu uma comitiva muçulmana presidida por Abdel Hakim Murad, da Universidade Muçulmana
Academic Trust, da Grã-Bretanha, e naquele encontro, ficou decidida a realização
deste Fórum.
Ontem, no primeiro dia do encontro, o líder da delegação vaticana,
cardeal Jean Louis Tauran, concedeu uma entrevista afirmando que “a tensão nas relações
entre católicos e islâmicos deve-se ao fato que no mundo muçulmano, o cristianismo
é associado ao Ocidente”.
Associar o cristianismo ao Ocidente representa,
segundo ele, uma ‘mistura perigosa’, porque quando os líderes ocidentais tomam decisões
políticas que os muçulmanos consideram contrárias a seus interesses, eles dizem “os
cristãos atacam, os cristãos nos provocam”. E isto cria tensão nas relações. Esta
situação agrava as dificuldades dos cristãos, que são minoria nos países islâmicos.
A Santa Sé tem o dever – destaca o cardeal francês – de defender os direitos
fundamentais, quando são ameaçados ou negados. Recordamos a nossos interlocutores
os direitos fundamentais da pessoa humana: o direito à vida, à liberdade de consciência
e de religião e todos os direitos relacionados.
Para dom Jean Louis Tauran,
“ao lado do caminho diplomático, que representa ‘um canal privilegiado’, o diálogo
inter-religioso permite recordar os direitos e as aspirações legitimas de nossos irmãos
na fé quando se tornam alvo de perseguições e violências. "Todavia - disse dom Tauran
- não temos outra escolha senão caminhar juntos, sob o olhar de Deus. Estamos todos
a caminho rumo à verdade. Quando nos encontramos em situações difíceis, não devemos
ter medo de dizer o que acreditamos. Não devemos temer denunciar as violações de
direitos humanos, quaisquer que sejam, a fim de que prevaleça a verdade, e não a força.
A força do direito é predominante sobre o direito da força”.
Entretanto, Yahya
Pallavicini, vice-presidente da COREIS, a Comunidade religiosa islâmica italiana,
explicou seus objetivos ao participar deste encontro:
“Encontrar inspiração
para soluções concretas, que possam salvaguardar a dignidade desta fé e a dignidade
dos fiéis cristãos e muçulmanos, em todos os âmbitos da vida e da sociedade contemporânea,
seja na escola, nas atividades públicas, na educação, na família e na vida pessoal;
no trabalho, no desenvolvimento da pessoa e na realização de todas as suas qualidades
e faculdades, intelectuais e pessoais. E ainda, encontrar uma fraternidade mais consciente
e mais eficaz, que saiba responder aos desafios do mundo atual e aos riscos que o
pós-moderno e a secularização tentam provocar”.
Mas sobre o diálogo inter-religioso,
ouça o conselheiro-geral do PIME em Roma, Pe. Toninho Nunes. Ele é natural de Assis
(SP) e por 19 anos trabalhou na Costa do Marfim. Pe. Toninho começa falando das afinidades
entre católicos e muçulmanos: