GRITO DE DOR DE DOM KUSSALA: DETENHAM O GENOCÍDIO NO SUL DO SUDÃO
Cidade do Vaticano, 1º nov (RV) - No silêncio quase geral dos meios de comunicação,
no sul do Sudão está se consumando um genocídio contra uma inerme população civil:
a denuncia é do bispo de Tombura-Yambio, Dom Edward Kussala.
Na região equatorial
ocidental da África continua a atuar a guerrilha ugandense do Exército de Libertação
do Senhor liderada por Joseph Kony, responsável por atrozes crimes nos últimos 20
anos. A guerrilha, no último mês de março, fez um acordo de paz com o governo de Uganda,
mas até agora sempre adiou a assinatura definitiva do mesmo. Os rebeldes se estabeleceram
no sul do Sudão aterrorizando a população civil, em particular na cidade de Yambio,
onde centenas de crianças foram seqüestradas e escravizadas. A Rádio Vaticano recolheu
o grito de dor de Dom Kussala:
“Sim, é uma situação verdadeiramente dramática.
Estou desconcertado pela presença da guerrilha em Yambio. Desde o acordo de paz, nesta
área nunca houve paz, por causa da presença dos rebeldes ugandenses, que causou conseqüências
trágicas para a população. E as Nações Unidas decidiram, junto com o governo do sul
do Sudão hospedar essas pessoas dentro do nosso país. Mas eles não são sérios no que
diz respeito à paz. Nós soubemos que foram conseguidos acordos de paz, mas não vemos
sinais concretos disso. Kony, que é o líder deste Movimento de rebeldes, vive ali
e as Nações Unidas o protegem, lhe dão de comer; o seu acampamento é precisamente
dentro do território de uma das minhas paróquias. Os rebeldes de vez em quando seqüestram
as pessoas. Por isso eu tenho perguntas a fazer ao governo e à comunidade internacional;
como é possível que o povo possa ser deixado nas mãos dos rebeldes e não se possa
fazer nada para impedir isso? Até agora os rebeldes já seqüestram mais de 500 crianças”.
P. Os seqüestros ocorrem na sua diocese?
R. “Sim, na minha diocese.
E a pergunta é: para onde vão essas crianças? E quando serão restituídas? Quem fará
pressão sobre esses homens a fim de que restituam as crianças? Os pais pedem com angústia.
Eu fui visitar algumas paróquias e me disseram: “Bispo, as minhas crianças foram seqüestradas,
o que posso fazer para reavê-las””?
P. Por que as Nações Unidas dão alimento
ao líder da guerrilha?
R. “Pensam de acalmá-lo, de agradá-lo e convidá-lo
assim aos colóquios de paz. Mas este homem não está interessado em um acordo de paz.
Nós sabemos que ele está se armando, está se reforçando e por isso poderia se verificar
todo tipo de coisa. Creio que a comunidade internacional acordará somente no último
momento, como sempre: quando as coisas tiverem já ocorrido. Então retornará sobre
os seus passos dizendo: “Queremos ajudar vocês!”. Isso é algo que está ocorrendo e
é somente uma questão de tempo. Nós também fazemos perguntas sobre a seriedade do
governo sudanês: sei muito bem que o governo ugandense se esqueceu desta guerra, pois
o líder da guerrilha não se encontra mais em Uganda e não é mais ali que está causando
problemas; mas me pergunto; Quanto o meu governo, o do Sudão, está realmente preocupado
com essa situação”?
P. São muitos os deslocados?
R. “Sim, são muitos
os deslocados que se transferiram do interior para as cidades que agora estão super-lotadas,
porque as pessoas não podem mais viver nos vilarejos; eles têm medo de ir até a floresta
porque podem ser capturados. O resultado é a fome e uma grande necessidade de ajuda
daquilo que é essencial. O nosso grito é esse: quem restituirá as nossas crianças
seqüestradas pelos guerrilheiros? Quem nos restituirá as mulheres e as demais pessoas
que foram seqüestradas? Quem nos restituirá a paz? Essas são perguntas às quais não
sabemos responder. A coisa trágica é que o líder da guerrilha quando chegou aqui realizou
atrocidades, matou e depois disse que estava pronto para um acordo de paz. Depois,
voltou atrás e recomeçou a infligir graves sofrimentos à população local. E ninguém
reagiu e não reage, ninguém faz nada para detê-lo”. (SP)