BENTO XVI: O COSMO NÃO É UM CAOS, MAS UMA ORDEM ESTABELECIDA PELO CRIADOR
Cidade do Vaticano, 31 out (RV) – O cosmo não é um sistema caótico, mas sim
ordenado, e é possível "ler" nas suas regras internas, a presença de um Criador, graças
também à contribuição e ao contínuo desenvolvimento das ciências. Assim podemos sintetizar
o fio condutor do discurso que Bento XVI dirigiu, na manhã desta sexta-feira, aos
participantes da assembléia plenária da Pontifícia Academia das Ciências, que teve
início esta manhã, no Vaticano, e se prolonga até terça-feira, dia 4 de novembro,
para debater sobre as últimas contribuições da pesquisa científica, sobre as origens
e a evolução do universo, da matéria e da vida.
Afirmar que a criação do cosmo
e seu desenvolvimento sejam fruto da "providencial sabedoria" de um Criador não significa
dizer que a criação remonta apenas ao início da história do mundo e da vida. Ela implica
também o fato que o Criador "dá origem a esses desenvolvimentos" e os "ampara continuamente".
Esse foi um dos pontos altos do discurso do papa aos cientistas reunidos no Vaticano.
"Abordagens científicas sobre a evolução do universo e da vida" _ tema da
plenária da Pontifícia Academia das Ciências _ é uma questão de grande interesse _
observou o pontífice _ "uma vez que, muitos de nossos contemporâneos refletem hoje,
sobre a origem última dos seres vivos, sobre a sua causa inicial e sobre o seu fim
último, e ainda sobre o significado da história humana e do universo".
"Nesse
contento _ prosseguiu Bento XVI _ surgem, naturalmente, questões relativas à relação
entre a leitura científica do mundo e a leitura oferecida pela Revelação cristã. Meus
predecessores, Pio XII e João Paulo II _ sublinhou o papa _ observaram que não existe
nenhuma oposição entre a compreensão da criação ditada pela fé e as provas oferecidas
pelas ciências empíricas."
Se "na sua fase inicial" _ disse o pontífice _ a
filosofia propôs uma idéia "horizontal" da origem do cosmo, baseada em um ou mais
elementos do mundo material, a sucessiva compreensão metafísica do ser enquanto tal,
levou o homem a intuir que o mundo, como "criado" vem do "Ser" criador.
Na
ótica da fé, portanto, ler a evolução _ longe de ser considerada um "caos" _ é como
"ler um livro", segundo uma antiga comparação, adotada por muitos cientistas, entre
os quais Galileu Galilei. Um livro _ ressaltou Bento XVI _ "cuja história, cuja evolução,
cujo "ser escrito" e cujo significado nós lemos com base nas diversas abordagens das
ciências".
"Apesar dos elementos irracionais, caóticos e destrutivos que encontramos
no longo processo de modificação do cosmo, a matéria _ como tal _ é "legível". É uma
construção interna "matemática". A mente humana pode, portanto _ advertiu o papa _
empenhar-se não apenas numa "cosmografia", estudando os fenômenos mensuráveis, mas
também numa "cosmologia", discernindo a lógica interna visível do cosmo."
"Poderemos
não ser capazes, inicialmente _ observou o Santo Padre _ de perceber seja a harmonia
no seu conjunto seja nas relações das partes singularmente consideradas, ou sua relação
com o todo. E no entanto, as relações que o homem, no curso dos séculos, soube perceber
e descrever, demonstram _ sublinhou o papa _ que a pesquisa experimental e filosófica
sabe descobrir "gradualmente esta ordem, e a percebe enquanto trabalha para defender-se
dos desequilíbrios e para superar obstáculos".
O papa concluiu seu pronunciamento
com palavras de João Paulo II, proferidas em 2003: "A verdade científica que é, por
si só, uma participação na verdade divina, pode ajudar a filosofia e a teologia a
compreender de maneira ainda mais plena, a pessoa humana e a Revelação de Deus sobre
o homem, uma revelação que foi completada e aperfeiçoada em Jesus Cristo." (AF)