Concluiu-se em Bruxelas a Conferência europeia islamo-cristã
(24/10/2008) A Europa tem o dever de divulgar a reconciliação e a paz no mundo. Um
impulso essencial neste sentido pode chegar da colaboração entre os cristãos e os
muçulmanos na Europa. Foi o que sublinhou o cardeal francês Jean-Pierre Ricard, arcebispo
de Bordeaux e vice-presidente do Conselho das Conferências Episcopais Européias (CCEE),
que explicou aos jornalistas os elementos essenciais para uma colaboração entre cristãos
e muçulmanos, discutida na reunião efectuada nos dias passados em Bruxelas. Começou
por usar palavras claras sobre o que é a Europa: “Nós acreditamos que a Europa é
mais do que uma aventura económica . Papa nós é um projecto espiritual historicamente
ligado a um desejo de reconciliação após duas guerras mundiais”. O objectivo da
unidade dos povos na Europa está baseado na convicção de que o conflito entre culturas
diferentes não resolve nada, ou melhor, complica os problemas. O projecto europeu
– continuou o cardeal Ricard – mostra que os rancores históricos podem ser superados
e que a reconciliação é possível. Do mesmo parecer é o presidente da Conferência
das Igrejas na Europa, KEK, o pastor protestante Jean Arnold De Clermont, que sublinhou
o papel fundamental do diálogo intercultural na Europa. Um diálogo que não pode deixar
de lado o elemento espiritual. “Não podemos imaginar uma Europa fechada em si mesma
quando a sua cultura se construiu nos séculos graças á troca de ideias e de recursos”,
acrescentou. Em nome dos representantes muçulmanos, falou Franco Bertamé, responsável
pela menor comunidade islâmica da Europa, a de Luxemburgo, que conta 2 mil muçulmanos. “A
característica do encontro é a possibilidade não de falar um do outro, mas de falar
com o outro”, disse Bertramé, que acrescentou: “Para o Islão, não há alternativa:
preferimos o diálogo ao silêncio”. A RV enviou a Bruxelas o colega Mario Galgano
do programa alemão, que acompanhou o encontro. Ele conversou com o xeque David Munir,
da mesquita de Lisboa. Segundo ele, um dos maiores desafios para a boa convivência
dos muçulmanos no ocidente é a escassez de informações sobre o Islamismo…………… “Cristãos e muçulmanos
– lê-se no documento final – estão chamados a trabalhar lado a lado, no modo mais
oportuno, colaborando com o Estado de que fazem parte, sem contudo serem servis em
relação aos respectivos governos.” Não confinar, portanto, a religião na esfera íntima
das pessoas, nem aceitar que se queira fazer “renunciar à própria identidade religiosa,”,
através, por exemplo, da “proibição de usar ou expor publicamente símbolos religiosos
ou a supressão de festividades religiosas com o pretexto de que tudo isso possa ferir
a sensibilidade dos outros crentes ou ir contra os princípios de um Estado secular”.
Reafirmado o “princípio de integração”: cristãos e muçulmanos, na sua qualidade
de cidadãos e de homens de fé, “oferecem o seu testemunho para que o ser humano descubra
a própria identidade através da relação com Deus”. “O que leva a reafirmar – lê-se
ainda na Declaração – a importância do papel vital da família, da dignidade humana,
da justiça social, do cuidado do ambiente”, assim como a “condenação do uso da violência
em nome da religião”. Para favorecer o conhecimento mútuo, os signatários propõem
também “a abertura das igrejas e das mesquitas aos visitantes de outras comunidades,
assim como encontros académicos”. “Somos chamados a construir pontes entre as culturas
e as crenças – conclui o documento – e a Europa está chamada a ser um laboratório
de aprendizagem tanto para os cristãos como para os muçulmanos”.
Reforçou-se
portanto “a relação com os muçulmanos”, projecto cultural que abrange a todos e ao
qual a Igreja católica entende continuar a oferecer o seu contributo – assegurou ontem,
em Bruxelas, o padre Piotr Mazurkiewicz, novo secretário geral da Comissão das Conferências
Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE), no seu primeiro encontro com os jornalistas
na sede da mesma. Padre Mazurkiewicz prepara-se para coordenar a actividade deste
organismo da Igreja Católica na Europa, presidido pelo bispo de Roterdão, Adriannus
van Luyn. “A COMECE – explicou o novo Secretário – tem a tarefa de informar correctamente
as Igrejas europeias sobre a actividade das instituições, referindo por sua vez, também
correctamente, às instituições europeias o pensamento das mesmas Igrejas, assegurando
deste modo, no respeito e autonomia de umas e de outras, uma relação de cooperação
perante as diversas exigências dos cidadãos”.