ÚLTIMA SEMANA DE TRABALHOS DO SÍNODO NO VATICANO: INCULTURAÇÃO DA BÍBLIA NA ÁFRICA
Cidade do Vaticano, 21 out (RV) - Última semana de trabalhos para o Sínodo
dos Bispos sobre a Palavra de Deus, em andamento no Vaticano. Nesta manhã, na presença
do Santo Padre realizou-se a 20ª Congregação Geral com a apresentação do elenco único
das proposições e com a segunda eleição do Conselho Sinodal, que será responsável
pela elaboração final das propostas para a exortação pós-Sinodal.
Na parte
da tarde os trabalhos continuam em Círculos Menores com a preparação das emendas às
Proposições.
Entre os temas mais frequentes do Sínodo, está o da inculturação
da Bíblia na África. Mas quais problemáticas apresentam esta questão? A Rádio Vaticano
conversou com um dos padres sinodais, Dom Antonio Menegazzo, bispo de Mesarfelta,
no Sudão:
“A problemática maior é a questão da guerra civil entre norte e sul
do país, que durou mais de vinte anos: tivemos muitos refugiados que deixaram o seu
vilarejo, a sua Igreja, a própria casa para refugiarem-se no norte. E no norte, -
continua Dom Menegazzo - se reuniram em centros para poder trabalhar, sobretudo na
agricultura, e portanto em áreas muito distantes da Igreja principal, onde se encontram
os sacerdotes. E devido também à insegurança na qual nos encontramos, sobretudo em
Darfur, os sacerdotes não podem contatar facilmente esses grupos de cristãos que se
encontram distantes da Igreja mãe. É difícil levar-lhes a Bíblia, em particular explicá-la,
porque não estão à altura de entendê-la bem e teriam sempre a necessidade da presença
de um sacerdote que lhes explique a Palavra de Deus".
P. Como fazer conviver
a Palavra de Deus com a natureza da cultura local sem desarraigá-la? R.
“Este é outro grande problema. Muitos, nestes últimos anos, tornaram-se cristãos,
pediram para ser batizados e o foram após nove, dez meses de preparação para este
Sacramento. Contudo creio que nove, dez meses de preparação não sejam suficientes
para mudar a mentalidade, para deixar que o Evangelho entre n,o coração do homem e
o transforme. Temos a dificuldade, em muitos casos, de cristãos que recebem o Batismo
e ainda continuam apegados às suas tradições”.
P. E a questão da preparação
dos catequistas?
R. “Temos em cada diocese um centro pastoral catequético,
e também neste caso temos a dificuldade da língua, da instrução do catequista. Nossos
catequistas, muitas vezes, freqüentaram somente o ensino fundamental e, portanto,
conhecem somente a sua língua e não conhecem o árabe e o inglês que são as duas línguas
mais faladas na região. É muito difícil prepará-los para que possam transmitir verdadeiramente
o ensinamento da Igreja aos catecúmenos”.
P: O que o senhor espera que este
Sínodo possa fazer ainda mais pela África?
R. “Que este Sínodo convença
verdadeiramente, antes de tudo a Igreja, e depois também as organizações que têm meios
financeiros, a traduzir a Bíblia nas várias línguas locais. São muitas, no Sudão,
as línguas locais tribais e a maioria da população não tem possibilidade de ler a
Bíblia porque não conhece o árabe, não sabe o inglês, e portanto não pode conhecer
a Palavra de Deus”. P. Em 2009 realizar-se o Sínodo dos Bispos da
África. O Sínodo atual pode ser um impulso para aquele do próximo ano?
R.
“Eu creio que sim, porque naturalmente a Palavra de Deus é essencial, para a vida
cristã. E então também para a África; se falta a Palavra de Deus, naturalmente falta
a verdadeira vida cristã. Por isso eu penso que o atual Sínodo seja um passo em direção
ao Sínodo africano do ano próximo, uma preparação profunda, a fim de que esse Sínodo
seja verdadeiramente eficaz e atinja o ponto essencial da conversão da África: ou
seja, entrar na mentalidade do Evangelho, deixar-se guiar pelo Evangelho, ser envolvido
pelo Evangelho para poder viver a própria vida cristã como discípulos de Cristo”.
(SP)