2008-10-21 15:43:05

D. António Taipa conta à RV o que mais o impressionou neste Sínodo dos Bispos


RealAudioMP3 “Criou-se de facto uma solidariedade, uma comunhão entre nós todos que se vem sentindo nesta última semana nas Proposições que estamos para apresentar ao Santo Padre, na maneira de as apresentar, na maneira de as discutir agora nos Círculos pequenos, que é uma coisa de facto maravilhosa: sentir esta solidariedade e esta comunhão com as Igrejas do mundo inteiro”.
É com o coração nas mãos, vibrante e comovido, que D. António Taipa, um dos delegados da Igreja portuguesa ao Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus fala desta experiência para si nova. Homem da Palavra de Deus, o bispo auxiliar do Porto, que realizou na assembleia sinodal uma intervenção original e convicta, aceitou de bom grado explicar aos nossos ouvintes o sentido da sua declaração sinodal e o modo como está a decorrer este encontro de Bispos de todo o mundo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.
Interpelado sobre as impressões gerais que retém desta participação no Sínodo, D. António Taipa considera “uma experiência única” o “ver, sentir, ouvir esta Igreja que nós constituímos, senti-la nos seus problemas, dificuldades, nos projectos, nas realizações”. Uma experiência propícia a fazer um bispo sentir melhor aquilo que de facto é. “Estar aqui, no coração da Igreja”, lado a lado com pastores das Igrejas de todo o mundo, tentando advertir e sublinhar o que mais importante se apresenta sobre um tema tão central, “faz-nos tomar consciência da responsabilidade que assumimos como bispos”.
“Há coisas que me impressionam muito, a partir da Europa, onde estou, onde vivo, que é a pobreza de muitas Igrejas, ao ponto de não haver dinheiro para editar a Sagrada Escritura. Igrejas que se debatem com um analfabetismo quase a 100%, que não têm hipóteses de fazer chegar a Palavra de Deus por via da Sagrada escritura, que o fazem de outras maneiras, com uma capacidade criativa enorme, no sentido de fazer com que as pessoas sintam e ouçam a Palavra que Deus também lhes dirige”.
Falando do “impacto com o acontecimento do Sínodo, com o fazer parte de um Sínodo”, D. António Taipa confessa a “estranheza” inicial, ao verificar que muitas intervenções se afastavam do tema desta assembleia sinodal e do documento preparatório, apresentando-se antes como “desabafos dos respectivos Bispos, das respectivas Igrejas”. Aos poucos, porém, a sua percepção das coisas foi mudando: “Foi-se diluindo aquela estranheza, ao verificar que se ia criando entre nós uma comunhão, uma solidariedade, que não pensaria nunca que fosse possível entre pessoas que, de facto, não falam muito uns com os outros”, para além dos contactos pessoais com quem está ao lado, na Aula sinodal, ou quem se vai encontrando nos momentos de pausa…
Convidado a esboçar um primeiro balanço do Sínodo, quando os trabalhos se vão já encaminhando para a conclusão, D. António Taipa faz notar a reserva que neste momento se impõe a todos os Padres Sinodais no que diz respeito às Proposições que vão ser apresentadas ao Papa. Mas não se eximiu a algumas declarações:
“Penso que o Sínodo está a chegar agora ao seu ponto mais forte, que é a nossa colaboração efectiva naquilo que vamos propor ao Santo Padre. Durante toda a assembleia sinodal, em todas as intervenções, notaram-se coincidências muito fortes e quase permanentes. Por exemplo, a leitura orante da Escritura, aquilo que se vem chamando a Lectio divina. Insistiu-se muito nesta modalidade da leitura da Palavra. Depois, insistiu-se muito na homilia, como um espaço ou um tempo particularmente privilegiado para ajudarmos as pessoas a entrarem em contacto com a Palavra de Deus. Há também uma coisa de que se falou, mas não tanto como eu gostaria, ou seja: o passar de uma pastoral bíblica a uma animação bíblica de toda a pastoral. Falou-se um pouco, mas não se trocou a coisa em miúdos, como se costuma dizer. Não sei se isso foi por o conceito não estar muito claro, por não ser muito claro o que signifique uma animação bíblica de toda a pastoral, para além (ou em vez de ou depois de) uma pastoral bíblica. Quando falei de dar atenção ao mundo e à história e de amar este mundo e esta humanidade, no fundo é um pouco isto o a que me queria referir. Porque, quando nós partirmos do mundo para a Palavra, a Palavra vai dando sentido, vai dando força e vai iluminando permanentemente as situações, e nós acabamos por ir respondendo às situações com a Palavra. Como dizia o nosso Padre Américo: “Dizem que é perigosos um homem de um só livro. Então eu sou muito mais perigoso porque sou de um só livro – o meu livro é o Evangelho”. Esta sua familiaridade com o Evangelho fazia com que ele ouvisse permanentemente Deus a falar. Padre Américo ouvia permanentemente a Palavra de Deus em todas as situações em que se encontrava. A propósito de tudo e em toda a parte, ele falava do Evangelho. Fosse o que fosse. Ora é isto que eu esperaria que no Sínodo se trocasse mais em miúdo, mas que se passou um bocado ao lado. Depois, a necessidade, que se disse continuamente, de aproximar as pessoas da Bíblia, e de as aproximar com verdade. Porque é inegável que agora já há uma certa aproximação, em toda a parte. Mas é um bocadinho, digamos assim, fora do correcto. É uma primeira aproximação da Bíblia como um livro interessante, mas praticamente sem fé, sem a venerar, sem sentir a necessidade de fazer um acto de fé antes de a ler, um acto de fé em Deus que ali e por ali vem conversar connosco. De facto – e isto disse-se no Sínodo – é um perigo… ler a Sagrada Escritura. É um perigo uma pessoa abrir-se à Palavra de Deus ou abrir-se ao diálogo que Deus quer estabelecer connosco, porque é um diálogo exigente, é uma Palavra que exige permanentemente a minha conversão, exige muita liberdade, exige que eu me liberte da muita coisa de mim, do que tenho, do que sou, do que penso, para obedecer à Palavra que Deus me vai dizendo. Isto é exigente, e não me admiro que as pessoas tenham algum medo. Nisto também se insistiu muito: na necessidade da pessoa se aproximar da Palavra também com a sua fé, com a sua abertura ao Espírito de Deus.”








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