FILÓSOFO COMENTA DISCURSO DE BENTO XVI SOBRE FÉ E CIÊNCIA
Roma, 18 out (RV) - A fé “não teme o progresso da ciência” se as suas conquistas
têm como finalidade o bem do homem. Essa é uma das passagens fortes do discurso que
o Papa dirigiu na última quinta-feira aos participantes no Encontro por ocasião do
décimo aniversário da Encíclica Fides et Ratio de João Paulo II.
Participaram
do encontro, promovido pela Pontifícia Universidade Lateranense, entre outros, o filósofo
Michael Konrad e o físico Antonino Zichichi, ambos convencidos de que a fé e a razão
sãos dons de Deus.
Por sua vez, Bento XVI recordou na quinta-feira que filosofia
e teologia são “ajudas indispensáveis” a fim de que a ciência não “proceda sozinha
por um caminho tortuoso, repleto de imprevistos e perigos”. Uma reflexão sobre a
qual se detém um dos participantes no encontro, o filósofo Vittorio Possenti, entrevistado
pela Rádio Vaticano.
“O cientista é um ser humano como todos nós e, portanto
tem necessidade de analisar as ações e as pesquisas que realiza. Há ações boas e ações
que não são boas. Portanto, - destaca o filósofo Possenti - já que o uso da ciência
irá recair depois sobre todos nós, a ética é indispensável para cada ser humano, também
para o cientista e para as pesquisas científicas. E nisso, indiscutivelmente, filosofia
e teologia podem dar uma grande ajuda, porque a busca de uma vida melhor, da ação
bem realizada é tarefa da reflexão filosófica e teológica. Neste sentido, o diálogo
entre filosofia, teologia e ciência me parece hoje, talvez ainda mais importante do
que no passado”.
Falando em seguida sobre a exortação do Papa aos cientistas
a fim de que evitem o perigo da arrogância que deriva do querer se substituir ao Criador,
o filosofo Possenti disse que “em muitos casos, pode-se verificar este perigo pois
é arrogância quando a ciência se considera o saber supremo, ao qual todos devem se
inclinar. Na realidade, já que a ciência está inserida com as suas pesquisas no conjunto
da vida humana, a vida humana deve fazer as contras com um elemento ulterior, que
é o do bom uso das coisas que são descobertas e por isso a sabedoria é algo indispensável.
A sabedoria significa ir também na direção, não só do conhecimento, mas também do
amor, porque nós conhecemos melhor as coisas quando também nós amamos essas coisas”,
destacou.
A igreja – disse o papa – defende a força da razão e a sua capacidade
de chegar até a verdade. Mas de qual razão fala Bento XVI? Segundo o filosofo Vittorio
Possenti “é evidente que o discurso de Fides et Ratio e também o discurso de
quinta-feira de Bento XVI são dirigidos a uma razão humana íntegra, que tem os seus
parâmetros a partir de toda a realidade, não somente de uma parte da realidade”. Agora,
no discurso de Bento XVI há um chamamento explícito a este aspecto quando destaca
que a razão moderna, habituada no campo dos parâmetros das ciências experimentais,
em alguns casos, age como se ali estivesse a totalidade da razão. Na realidade, a
razão humana tem uma tarefa bem mais ampla daquela das ciências experimentais, como
a física, a genética, a biologia. É necessário ter muita estima pela ciência, para
que a ciência e a razão humana não se limitem somente a este campo”, concluiu. (SP)