BENTO XVI: PIO XII TESTEMUNHOU QUE SOMENTE CRISTO É A VERDADEIRA ESPERANÇA DO HOMEM
Cidade do Vaticano, 09 out (RV) - Nos atribulados anos do totalitarismo e dos
conflitos mundiais, Pio XII testemunhou que somente Cristo é a verdadeira esperança
do homem. Foi o que afirmou Bento XVI, em sua homilia da santa missa que presidiu
na manhã desta quinta-feira, na Basílica de São Pedro, pelo 50º aniversário da morte
do Servo de Deus Eugenio Pacelli.
Na celebração, da qual participaram também
os padres sinodais, o Santo Padre recordou o incansável empenho de Pio XII em favor
da paz e na defesa dos perseguidos, de modo especial os judeus. O pontífice sublinhou
também a "extraordinária atualidade" do magistério do Papa Pacelli que _ disse _ continua
a ser "um seguro ponto de referência" para os fiéis. Após a missa, Bento XVI desceu
até a Cripta Vaticana, onde estão sepultados os pontífices, e se recolheu em oração
diante do túmulo de Pio XII.
A atitude que distinguiu o pontificado de Pio
XII pode ser resumida numa frase: "Abandonar-se nas mãos misericordiosas de Deus."
No longo pontificado do Papa Pacelli _ 19 anos _ as nuvens escuras da II Guerra Mundial
pairavam sobre a Europa e o resto do mundo. Bento XVI se deteve justamente sobre os
esforços de Pio XII em favor da paz _ um empenho iniciado antes mesmo que ele fosse
eleito pontífice, nos anos em que foi núncio apostólico na Alemanha.
"Deixou
uma grata recordação, sobretudo por ter colaborado com Bento XV, na tentativa de deter
a "inútil tragédia" da Grande Guerra, e por ter-se dado conta, desde os seus primórdios,
do perigo que constituía a monstruosa ideologia nazista, com sua perniciosa raiz anti-semita
e anticatólica" _ disse o papa.
Numa época marcada por regimes totalitários,
Pio XII sentiu que a segurança humana estava desaparecendo, o que o fez sentir sempre
mais forte a necessidade de aderir a Cristo _ única certeza que jamais desilude.
"A
Palavra de Deus se torna, assim, luz do seu caminho, um caminho no qual _ observou
Bento XVI _ o Papa Pacelli se viu consolando deslocados e perseguidos, enxugando lágrimas
de dor e chorando as inúmeras vítimas da guerra. Somente Cristo é a verdadeira esperança
do homem; somente confiando n'Ele, o coração humano pode abrir-se ao amor que vence
o ódio."
A guerra mundial _ recordou Bento XVI _ evidenciou "o amor que ele
nutria por sua dileta Roma", que se recusou, repetidamente, a abandonar. Um amor testemunhado
pela "intensa obra de caridade que promoveu, em defesa dos perseguidos, sem qualquer
distinção de religião, etnia, nacionalidade ou pertença política". Bento XVI recordou
a mensagem radiofônica do Papa Pacelli, no Natal de 1942, ocasião em que ele deplorou
a situação de milhares de pessoas "destinadas à morte ou a um progressivo definhamento".
Uma clara acusação _ disse o pontífice _ ao processo então em ato, de exterminar os
judeus.
Bento XVI sublinhou que Pio XII agiu, freqüentemente, de maneira secreta
e silenciosa, justamente porque _ à luz das concretas situações que se apresentavam
naquele complexo momento histórico _ ele intuíra que, somente dessa maneira, se poderia
evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus. Essas suas intervenções
mereceram unânimes manifestações de gratidão e reconhecimento, no final do segundo
grande conflito mundial, assim como por ocasião de seu falecimento, por parte das
mais altas autoridades judaicas.
O Santo Padre citou como exemplo a então ministra
do Exterior de Israel _ Golda Meir _ que escreveu: "Quando o martírio mais assustador
atingiu o nosso povo", a voz de Pio XII se "elevou em favor das vítimas". Por outro
lado, o papa sublinhou que o debate histórico "não sempre sereno" sobre a figura de
Pio XII deixou de evidenciar todos os aspectos" de seu pontificado. Bento XVI recordou
o parecer que o Papa Montini (Paulo VI) deu sobre Pio XII:
"Paulo VI, que foi
seu fiel colaborador por muitos anos _ ressaltou o pontífice _ descreveu-o como um
erudito, um atento estudioso, aberto às modernas vias da pesquisa e da cultura, com
firme e coerente fidelidade tanto aos princípios da racionalidade humana quanto ao
intangível depósito de verdades da fé."
Pio XII foi, em muitos aspectos, um
precursor do Concílio Vaticano II. De fato, Bento XVI recordou alguns documentos fundamentais
de seu magistério, tal como a encíclica Mystici Corporis, considerada a base da constituição
dogmática Lumen Gentium. A seguir, sublinhou a importância da encíclica Divino Afflante
Spiritu, para a pesquisa sobre os textos bíblicos, e da Mediator Dei, que deu impulso
ao movimento litúrgico.
O papa lembrou ainda o notável impulso que o Papa
Pacelli deu à atividade missionária, e o fato de ter promovido o papel dos leigos
na vida eclesial. Concluindo sua homilia, Bento XVI fez votos de que a causa de beatificação
de Pio XII seja coroada de êxito: "Caros irmãos e irmãs, enquanto rezamos para que
prossiga felizmente, a causa de beatificação do Servo de Deus Pio XII, é belo recordar
que a santidade foi seu ideal, um ideal que não deixou de propor a todos."
Recordando
a proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora, em 1950, por Pio XII, Bento XVI
afirmou que o Papa Pacelli nos convida a voltar o olhar para Maria, a fim de que ela
nos faça apreciar sempre mais, o valor da vida na terra, e a ter os olhos na meta
da vida eterna.
As palavras de Bento XVI sobre Pio XII, em sua homilia _ de
modo particular no que diz respeito à causa de beatificação do Servo de Deus, em andamento
_ foram uma manifestação explícita "de sua união espiritual e um auspício" pelo feliz
êxito do processo: foi o que disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe.
Federico Lombardi, respondendo às perguntas de alguns jornalistas.
Pe. Lombardi
esclareceu _ todavia _ que o papa "não de manifestou acerca dos passos sucessivos
da causa e sobre seus prazos, ou seja, a assinatura do decreto sobre o reconhecimento
de suas virtudes heróicas que, por sua vez, é a premissa para introduzir o passo sucessivo,
que é o reconhecimento de um milagre. (AF)