Colocar no centro da vida a Palavra de Deus, acolher Cristo como nosso único Redentor:
Bento XVI na Missa de abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus
(5/10/2008) Neste “Ano Paulino”, foi na basílica de São Paulo fora de Muros, em Roma,
que Bento XVI presidiu, neste domingo de manhã, à celebração eucarística de abertura
da Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre “A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja”.
Partindo dos textos bíblicos deste vigésimo sétimo domingo do Tempo Comum, o
Papa recordou que, “quando Deus fala, solicita sempre uma resposta”, pois “a sua acção
de salvação requer a cooperação humana; o seu amor aguarda correspondência”. Daqui
a advertência, em eco às leituras do dia: “Que nunca aconteça, queridos irmãos e irmãs,
o que narra o texto bíblico a propósito da vinha: ‘Esperava que viesse a dar uvas,
mas deu só uvas azedas”. “Só a Palavra de Deus pode transformar em profundidade
o coração do homem. Assim, é importante que com ela entrem em intimidade sempre crescente
cada um dos crentes e as comunidades. A assembleia sinodal dirigirá a sua atenção
a esta verdade fundamental para a vida e missão da Igreja. Alimentar-se da Palavra
de Deus é para a Igreja a primeira e fundamental tarefa”. “De facto – fez notar
Bento XVI – se é o anúncio do Evangelho que constitui a sua razão de ser e a sua missão,
é indispensável que a Igreja conheça e viva o que anuncia, para que a sua pregação
seja credível, não obstante as debilidades e pobrezas dos homens que a compõem”. Por
outro lado, como “o anúncio da Palavra, na escola de Cristo, tem como conteúdo o Reino
de Deus”, que é “a própria pessoa de Jesus, que com suas palavras e obras oferece
aos homens de todas as épocas a salvação”, então é bem verdade o que escreve São Jerónimo.
“Ignorar as Escrituras significa ignorar Cristo”. Hoje como ontem, muitos são
os que ainda não O encontraram e se encontram à espera do primeiro anúncio do Evangelho.
Outros, embora tenham recebido formação cristã, perderam o entusiasmo e mantêm com
a Palavra de Deus um contacto superficial. Outros ainda, afastaram-se da prática da
fé e têm necessidade de uma nova evangelização. Finalmente, há pessoas de recta consciência
que se colocam perguntas essenciais sobre o sentido da vida e da morte. “Torna-se,
pois, indispensável para os cristãos de todos os continentes estar prontos a responder
a quem quer que peça razão da esperança que está neles, anunciando com alegria a Palavra
de Deus e vivendo sem compromissos o Evangelho”. “Venerados e caros Irmãos, que
o Senhor nos ajude a interrogarmo-nos, conjuntamente, durante as próximas semanas
de trabalhos sinodais, sobre o modo de tornar cada vez mais eficaz o anúncio do Evangelho
neste nosso tempo. Todos advertimos como é necessário colocar no centro da nossa vida
a Palavra de Deus, acolher Cristo como nosso único Redentor, como o Reino de Deus
em pessoa, para fazer com que a sua luz ilumine todos os âmbitos da humanidade: da
família à escola, à cultura, ao trabalho, ao tempo livre e aos outros sectores da
sociedade e da nossa vida”. Na primeira parte da homilia, Bento XVI, comentando
as leituras da Missa, observara que “aquilo que a página evangélica denuncia interpela
o nosso modo de pensar e de agir; interpela de modo especial os povos que receberam
o anúncio do Evangelho”. “Se olharmos para a história (obsrevou o Papa), somos obrigados
a constatar muitas vezes a frieza e rebelião dos cristãos. Em consequência, Deus,
embora nunca faltando à sua promessa de salvação, teve que recorrer frequentemente
ao castigo”. “É espontâneo pensar, neste contexto, no primeiro anúncio do Evangelho,
da qual nasceram comunidades cristãs inicialmente florescentes, que depois desapareceram
e hoje em dia são recordadas apenas nos livros de história. Não poderia acontecer
o mesmo na nossa época? Nações outrara ricas de fé e de vocações vão agora perdendo
a sua identidade, sob a influência deletéria de certa cultura moderna”. Especificando
o seu pensamento, Bento XVI referiu quem, “tendo decidido que Deus morreu,
se declara a si próprio deus, considerando-se artífice único do seu destino,
proprietário absoluto do mundo”. Ora – interrogou-se o Papa – “quando o homem elimina
Deus do seu próprio horizonte, é verdadeiramente mais feliz, torna-se na verdade mais
livre? Quando os homens se proclamam proprietários absolutos de si mesmos e únicos
patrões da criação, será que conseguem construir verdadeiramente uma sociedade onde
reinem a liberdade, a justiça e a paz? Não acontece antes – como as notícias do dia
a dia amplamente demonstram - que se estendem o arbítrio do poder, os interesses egoístas,
a injustiça e a exploração, a violência em todas as suas expressões?” Não se detendo
neste cenário sombrio, Bento XVI sublinhou a promessa contida nas palavras de Jesus:
“a vinha não será destruída”. O patrão confia a vinha a outros servos fiéis. “Se em
algumas regiões a fé se enfraquece ao ponto de se extinguir, haverá sempre outros
povos prontos a acolhê-la”. Além de que – recordou ainda o Papa, citando palavras
de Jesus na Última Ceia – existe a “consoladora certeza de que não serão o mal e a
morte a ter a última palavra”: “Será Cristo a vencer, no final. Sempre! A Igreja
não se cansa de proclamar esta Boa Nova, como acontece também hoje aqui, nesta basílica
dedicada ao Apóstolo dos gentios, que foi o primeiro a difundir o Evangelho em vastas
regiões da Ásia menor e da Europa. Renovaremos de modo significativo este anúncio
durante toda a XII assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como tema
A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.