IGREJA QUER APENAS SALVAGUARDAR A PESSOA E RENOVAR A SOCIEDADE HUMANA, AFIRMA CARDEAL
MARTINO
Santiago, 1º out (RV) - Difunde-se em muitos países, uma perigosa atitude antipolítica,
ao mesmo tempo em que se torna sempre mais importante reafirmar que, para os cristãos,
a política _ segundo uma conhecida expressão de Paulo VI _ é uma forma exigente da
caridade.
Foi o que disse o presidente do Pontifício Conselho "da Justiça e
da Paz", Cardeal Renato Raffaele Martino, em visita ao Chile. Uma visita que o levará,
a partir desta quinta-feira, por dois dias, à Guatemala, com o objetivo de ilustrar
as respostas da doutrina social cristã aos grandes desafios de hoje.
Na manhã
desta quarta-feira, o purpurado fez um pronunciamento na Pontifícia Universidade de
Valparaíso, ocasião em que traçou um "retrato falado" da política, à luz do ensinamento
social da Igreja, em cujo centro se encontra sempre o ser humano, e o respeito por
seus direitos fundamentais, de modo particular o direito à vida.
A política
deve ser entendida como serviço ao bem comum e deve inspirar-se num humanismo integral
e solidário, que exalte valores tais como _ principalmente _ a família fundada no
matrimônio entre um homem e uma mulher.
Valores-chaves da política _ disse
o Cardeal Martino _ são a verdade, a justiça, a liberdade e a caridade. Ela deve conseguir
regular de maneira equânime as relações econômicas, sobretudo, o mercado, com uma
opção preferencial pelos pobres, e ser capaz de conferir uma orientação humanista
à técnica.
Diante de valores que não dependem dela (da política) ou são indisponíveis,
ela deve saber deter-se, sem mandar em exílio o transcendente, uma vez que, uma sociedade
sem Deus corre o risco de se transformar numa sociedade contra o homem. "Enfim _ sublinhou
o purpurado _ a política deve trabalhar na paz e pela paz."
A esse "retrato
falado" da política, o Cardeal Renato Martino _ falando na Pontifícia Universidade
Católica de Valparaíso, Chile _ acrescentou uma recordação das bem-aventuranças do
político, formuladas por aquele que o precedeu à frente do Pontifício Conselho "da
Justiça e da Paz", o Servo de Deus Cardeal Nguyên Van Thuân. Entre essas: bem-aventurado
o político que trabalha pelo bem comum e não em benefício próprio; bem-aventurado
o político que sabe ouvir o povo antes, durante e após as eleições; bem-aventurado
o político que realiza a unidade e a defende; bem-aventurado o político que não tem
medo da mídia, porque, no momento do juízo, deverá responder apenas e exclusivamente
a Deus.
Na última segunda-feira, em Santiago, falando aos jovens dos movimentos
apostólicos, no Santuário de Santo Alberto Hurtado, o Cardeal Martino sublinhou as
grandes lições sociais que se aprendem da Eucaristia: a solidariedade, a disponibilidade
ao serviço, e o empenho ativo em favor da justiça social, da defesa e da promoção
da dignidade e dos direitos de toda pessoa humana.
"Hoje _ disse o cardeal,
entre outras coisas _ é necessário fortalecer a percepção da política como lugar onde
exercitar a caridade e o amor ao próximo e, para fazê-lo, é preciso promover o crescimento
da força moral e espiritual de que a política precisa, para afrontar os tantos e grandes
desafios existentes na área nacional e internacional: pobreza e corrupção, e as opções
em favor da vida, da família, da moradia, do trabalho e da pesquisa científica.
Concluindo,
o cardeal recomendou o estudo e a aplicação da doutrina social católica, reiterando
que tal ensinamento da Igreja não tem a pretensão de ditar leis aos poderes públicos,
nem se declara desta ou daquela parte. Sua intenção única e exclusiva é a de salvaguardar
a pessoa e renovar a sociedade humana.
A política necessita do Cristianismo:
uma religião que soube conjugar razão, fé e vida: sobre a questão da política e dos
ensinamentos do Cristianismo pronunciou-se também o cardeal secretário de Estado,
Tarcisio Bertone, participando do debate organizado nesta terça-feira, no Aspen
Institute, de Roma, sobre o tema "Religião e política na era global", acerca do
retorno da religião ao debate público. "Na distinção dos papéis, a
política necessita da religião. Quando, ao invés _ ponderou o Cardeal Bertone _ Deus
é ignorado, a capacidade de respeitar o direito de reconhecer o bem comum começa a
desaparecer. Para gerir a globalização, a política não precisa apenas de uma ética
inspirada na religião, mas sim que tal religião seja racional. Exatamente por isso,
a política necessita do Cristianismo." (AF)