Domingo passado, ao meio-dia, Papa pediu solidariedade e sentido de responsabilidade
no modo de enfrentar a questão dos migrantes irregulares
A imigração irregular proveniente da África e a necessidade da solidariedade e de
politicas e atitudes responsáveis neste domínio; a figura do apóstolo Pedro que não
compreende as palavras de Jesus ao falar da sua morte na cruz; e uma referência a
Cuba que se prepara para comemorar os quatrocentos anos da presença de Nossa Senhora
da Caridade do Cobre no país, foram os pontos salientes das palavras proferidas este
domingo, em Castel Gandolfo, pelo Papa, por ocasião da Oração Mariana do Angelus.
A imigração irregular proveniente da África com destino à Europa e que se transforma
muitas vezes em tragédia na travessia do Mediterrâneo foi abordada hoje pelo Papa.
Ao recordar que a travessia de há poucos dias parece ter ultrapassado os precedentes
em número de vítimas, Bento XVI frisou que a migração é um fenómeno que remonta aos
inícios da história humana e que sempre caracterizou a relação entre os povos, mas
hoje transformou-se numa emergência que nos interpela: “Todavia, a emergência
em que se transformou nos nossos tempos, interpela-nos, e, enquanto solicita a nossa
solidariedade, impõe, ao mesmo tempo, eficazes respostas políticas”. Declarando-se
informado das muitas acções que instâncias regionais, nacionais e internacionais estão
a levar a cabo no sentido de enfrentar a questão das migrações irregulares, o Papa
encorajou estas iniciativas…. “A elas vão os meus aplausos e o meu encorajamento
a fim de que continuem as suas meritórias acções com sentido de responsabilidade
e espírito humanitário” Sentido de responsabilidade da parte dos países de origem
não só porque – disse o Papa – se trata dos seus cidadãos, mas também no sentido de
remover as causas da emigração irregular, e de eliminar, pela raiz, todas as formas
de criminalidade ligadas às migrações. Aos países europeus como também a outros
países meta da imigração, Bento XVI recorda que devem desenvolver de comum acordo
iniciativas e estruturas cada vez mais adequadas às necessidades dos migrantes irregulares.
Estes últimos – prosseguiu o Papa – devem ser sensibilizados quanto ao valor da própria
vida, que representa um bem único, sempre precioso, a deve ser sempre tutelado perante
os gravíssimos perigos a que se expõem na procura dum melhoramento das suas condições
de vida. Devem ser também sensibilizados quanto ao dever de legalidade que se impõe
a todos” . Enfim um apelo a todos… o lançado hoje pelo Papa em matéria de imigração
irregular…. “Como pai comum sinto o profundo dever de chamar a atenção de todos
sobre o problema, e pedir a generosa colaboração de cada um e das instituições para
enfrentar a questão e encontrar vias de solução. O Senhor nos acompanhe e torne fecundo
os nossos esforços” Na alocução antes da oração mariana do Angelus, Bento XVI
deteve-se, como dizíamos, na figura do Apóstolo Pedro, recordando que, contrariamente
ao evangelho de domingo passado em que Pedro via em Jesus o Messias e Filho de Deus,
desta vez Pedro parece ter uma fé ainda imatura. Com efeito, quando Jesus declara
abertamente o destino que O espera – a morte na cruz – Pedro protesta dizendo “Deus
te livre disto Senhor… isto não há-de acontecer”. Dois modos opostos de pensar – sublinhou
o Papa: Pedro na sua lógica humana acha que o Deus não permitirá que o seu Filho morra
na cruz, enquanto que Jesus sabe que deve morrer nessas condições para salvar a humanidade;
mas sabe também que ressuscitará. É que a gravidade do mal humano exige este sacrifício
para restabelecer o reino de Deus na Terra… “É de facto com a sua morte e ressurreição
que Jesus derrubou o pecado e a morte restabelecendo a senhoria de Deus” Mas a
luta não terminou ainda. O mal existe e resiste em todas as gerações, mesmo nos nossos
dias – frisou Bento XVI - esclarecendo em tom interrogativo: “O que são os horrores
da guerra, as violências sobre os inocentes, a miséria e a injustiça que afecta os
fracos, senão a oposição do mal ao reino de Deus? E como responder a tanta malvadez
senão com a força desarmada do amor que vence o ódio, com a força da vida que não
teme a morte? É a mesma misteriosa força de que Jesus se serviu, a custo de não ser
compreendido e de ser abandonado por muitos dos seus”. O Papa concluiu a sua alocução
recordando a todos que para levar a cabo a obra da salvação, o Redentor continua a
associar a Si à Sua missão homens e mulheres dispostos a tomar a sua cruz e a segui-Lo.
Não se trata de uma opção facultativa, mas duma missão que deve ser abraçada por amor.
Cristo continua a convidar –nos, também no mundo de hoje, marcado por forças que dividem
e destroem, a renegarmos o nosso próprio egoísmo e a segui-Lo. E Bento XVI pediu a
Nossa Senhora que nos ajude nesta caminhada. Como habitualmente, o Papa saudou
os peregrinos presentes e os que o seguem através da rádio e da televisão em diversas
línguas. Falando em espanhol dirigiu uma palavra particular a Cuba… “Saúdo cordialmente
os fieis de língua espanhola, em particular os Pastores da querida Nação Cubana, que
ontem inauguraram solenemente o triénio preparatório da celebração dos quatrocentos
anos da descoberta e da presença da venerada imagem de Nossa Senhora da Caridade do
Cobre…” O Papa disse recordar nas suas orações todos os amados filhos e filhas
daquela Nobre Nação, recomendando-os que sigam o exemplo de Maria Santíssima, que
acolham a Palavra de Deus na sua vida quotidiana, que a imitem, que a ponham em prática
quotidianamente e que sejam missionários do Evangelho em qualquer circunstância da
vida. Nesta interessante caminhada, acompanho-vos com afecto e proximidade espiritual
– concluiu o Papa invocando a bênção de Deus para Cuba e os cubanos. “Que Deus
bendiga Cuba e todos os cubanos”