REPRESENTANTE VATICANO FALA SOBRE DIREITOS HUMANOS AO RECEBER DOUTORADO HONORIS
CAUSA
Buenos Aires, 27 ago (RV) - Uma sociedade dos direitos desvinculados dos deveres
a eles relacionados. Direitos que na realidade são desejos individuais, "sem nenhuma
referência a valores fundados, a deveres e responsabilidades". É assim que ocorre
que "fortes poderes transnacionais": lançam campanhas para induzir os países, individualmente
considerados, a aprovar leis que liberalizem o aborto e a eutanásia, ou que permitam
manipulações genéticas "selvagens", ou levem à equiparação entre matrimônio e uniões
livres. "É o que o então Cardeal Joseph Ratzinger chamou de ditadura do relativismo."
Em
síntese, essa é uma das passagens que constituiu a lectio magistralis feita
ontem _ terça-feira _ em Mar del Plata, na Argentina, pelo subsecretário do Pontifício
Conselho para os Leigos, Guzmán Carriquirry, durante a cerimônia que o agraciou com
o doutorado honoris causa a ele concedido, pela Universidade FASTA. A conferência
do representante vaticano foi centralizada no tema dos direitos humanos, a 60 anos
da Declaração Universal promulgada pelas Nações Unidas.
Após um excursus
sobre a evolução do pensamento em relação ao assunto em causa, Guzmán Carriquirry
se deteve sobre a vigorosa retomada do "direito natural" feita por João Paulo II em
seu longo pontificado.
"Atualmente _ observou o subsecretário do organismo
vaticano _ a tradição do direito natural exige ser reformulada, seja para a ampliação
dos horizontes da razão"; seja "para o desenvolvimento de uma ontologia da participação,
da antropologia e da ética que dela derivam; seja considerando os avanços científicos
e culturais do nosso tempo; seja à luz da profundidade histórica da sabedoria humana
que se expressa, sobretudo, mediante as tradições religiosas".
A Igreja católica
"se faz custódia e advogada de ‘princípios não negociáveis’ necessários para uma autêntica
convivência humana". Trata-se de princípios que se traduzem em direitos baseados "na
lei natural inscrita no coração do homem, presente nas diversas culturas e civilizações"
_ prosseguiu o representante vaticano.
Durante sua histórica visita à ONU _
recordou Guzmán Carriquirry _, Bento XVI propôs "reencontrar em nosso tempo a convergência
de tradições culturais e religiosas a fim de colocar sempre a pessoa humana no centro
das instituições, das leis e das intervenções da sociedade".
A fim de respeitar
e promover os direitos humanos em sua "universalidade, indivisibilidade e interdependência"
como "linguagem comum e substrato ético das relações internacionais", e ainda _ concluiu
_ como "a estratégia mais eficaz para eliminar as desigualdades entre países e grupos
sociais", para combater o terrorismo e aumentar a segurança. (RL)