Cidade do Vaticano, 11 ago (RV) - Pedir esmola é um direito. O presidente do
Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, cardeal Renato Raffaele Martino, em entrevistaao
jornal “Il Corriere della Sera”, criticou duramente as medidas que várias prefeituras
da Itália adotaram contra a mendicância, dizendo que é necessário intervir para encontrar
soluções para a pobreza, e não para escondê-la.
A Rádio Vaticano contatou
diretamente o Cardeal Martino. Ouçamos o que nos disse:
Card. Martino –
"Coloquemo-nos no lugar de quem pede esmola, excluindo-se naturalmente o que se chama
de máfia da esmola, uma forma criminosa que certamente é necessário extirpar. Mas
quem pede esmola, por que o faz? Porque tem necessidade. E então quer dizer que os
que querem que estas cenas desapareçam não prestam atenção à realidade de quem estende
a mão. O que é necessário eliminar é a pobreza, e não quem é impelido pela pobreza
a sobreviver".
P. – Cardeal Martino, por que hoje se tem a impressão
de que se queira esconder a pobreza ou, de qualquer forma, a manifestação da pobreza?
Card.
Martino – "Penso que é uma forma de egoísmo. Com efeito, no sul da Itália se diz:
“Quem está de barriga cheia não acredita no jejum”. Queremos olhar para o outro lado,
basta a nossa riqueza, o nosso desenvolvimento e os outros quase não existem. Isto
é um grave, um grave defeito de quem chegou a um certo nível de desenvolvimento e
de riqueza, e esqueceu a solidariedade, esqueceu que no mundo existem os pobres, e
que têm necessidade".
P. – Cardeal Martino, foram
várias as cidades na Itália que adotaram estas medidas contra a mendicância e falamos
de grandes cidades, cidades importantes que têm prefeitos inclusive de tendências
políticas diversas...
Card. Martino – "Todo administrador público, todo
político deveria ter sempre diante dele a pessoa humana, a sua dignidade, quer seja
ele um prisioneiro, um condenado à morte, um pobre. É sempre uma pessoa com a mesma
dignidade e os mesmos direitos, como cada um de nós. Se esquecemos isto, chegamos
então a formas de intolerância que são inadmissíveis, do ponto de vista quer cristão
quer humano. Os pobres, que estendem a mão, geralmente não são marginais, não são
parasitas. Muito freqüentemente são pessoas que não conseguem ir adiante com o seu
salário ou com o que têm à disposição e se vêm obrigadas a se dirigir à solidariedade
dos outros. E onde está o amor cristão?". (PL)