2008-08-08 18:48:43

DIÁLOGO DO PAPA COM CLERO DE BRESSANONE,
PARTE 2


Bressanone, 08 ago (RV) - Chegou à reta final a estada de Bento XVI em Bressanone: amanhã à tarde o papa receberá a cidadania honorária da cidade do Alto Adige. Domingo, ao meio-dia, rezará o Angelus com os fiéis na Praça da Catedral. A volta a Castel Gandolfo está prevista para a noite de segunda-feira.
Entretanto, hoje, a Sala de Imprensa publicou o texto integral do longo diálogo do papa com o clero na Catedral de Bressanone, quarta-feira passada. Ontem, fizemos uma síntese de duas das seis respostas do pontífice, as respostas em italiano. Hoje, vamos focalizar duas outras respostas de Bento XVI, em alemão, sobre o testemunho do Espírito Santo, depois do Dia Mundial da Juventude, de Sydney, e sobre a relação entre Criação e Redenção.
O papa responde a um seminarista que participou do DMJ de Sydney: como viver e testemunhar no dia-a-dia a força do Espírito Santo experimentada durante os dias inesquecíveis do DMJ? Vamos ver como o papa respondeu:
"Certamente, sozinhos não podemos. Afinal, é o Senhor quem nos ajuda, mas nós devemos ser instrumentos disponíveis. Diria simplesmente: ninguém pode dar o que não tem pessoalmente; quer dizer, não podemos transmitir o Espírito Santo de modo eficaz, torná-lo perceptível, se nós mesmos não lhe estamos próximos. É por isto que penso que o que é mais importante é que nós mesmos permaneçamos, por assim dizer, no raio do sopro do Espírito Santo, em contacto com ele. Somente se formos continuamente tocados interiormente pelo Espírito Santo, se ele estiver presente em nós, somente então podemos também transmiti-lo aos outros; é Ele quem nos dá a imaginação e as idéias criativas de como fazer; idéias que não podemos programar, mas que nascem nas situações mesmas, porque é ali que o Espírito Santo está operando".
Para o papa, ao lado da dimensão espiritual devemos considerar a dimensão propriamente humana: ele afirma que se vivemos com Cristo também as coisas humanas serão bem sucedidas.
"A fé não comporta só um aspecto sobrenatural; ela reconstrói o homem, recondizindo-o à sua humanidade, como mostra o paralelo entre a narração do Gênesis e o capítulo 20 de João. O Evangelho de João narra que, depois da Ressurreição, o Senhor vai ter com os discípulos, sopra sobre eles e diz: Recebei o Espírito Santo. Isto é um paralelo com o Gênesis onde Deus sopra sobre o barro da terra e recobra vida e se torna homem. A fé tem como base as virtudes naturais: a honestidade, a alegria, a disponibilidade a ouvir o próximo, a capacidade de perdoar, a generosidade, a bondade , a cordialidade entre as pessoas. Estas virtudes humanas são indicativas do fato que a fé está realmente presente, que nós estamos com Cristo. Penso que deveríamos estar muito atentos, também quanto a nós mesmos, a isto: fazer maturar em nós a autêntica humanidade, porque a fé comporta a plena realização do ser humano, da humanidade. Deveríamos prestar atenção e exercer bem e de maneira justa as coisas humanas, também na profissão, no respeito ao próximo, preocupando-nos com o próximo, que é a melhor maneira de nos preocuparmos conosco mesmos".
Outro sacerdote, professor de teologia moral em Bressanone e trabalhou com o cardeal Ratzinger quando ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, perguntou-lhe sobre a relação entre Criação e Redenção e sobre o testemunho dos cristãos no âmbito da salvaguarda da criação. Eis a resposta do papa:
"Nas últimas décadas, a doutrina da Criação quase desaparecera da teologia, era quase imperceptível. Agora nos damos conta dos danos que isto causou. O Redentor é o Criador e se nós não anunciamos Deus nesta sua grandeza total de Criador e de Redentor, tiramos o valor também da Redenção. De fato, se Deus não tem nada a dizer na Criação, se é relegado simplesmente num âmbito da história, como pode realmente compreender toda a nossa vida? Como poderá levar realmente a salvação ao homem na sua integridade e ao mundo na sua totalidade?".
Bento XVI responde aos que acusavam 20 ou 30 anos atrás os cristãos de serem os verdadeiros responsáveis pela destruição da criação, porque a palavra contida no Gênesis “Subjugai a terra” teria levado àquela arrogância que deu no que estamos vendo hoje. O papa explica que esta ordem de “subjugar a terra” nunca foi entendida como ordem de fazê-la escrava, mas de tornar-se custódio da criação e de desenvolver os seus dons. E prosseguiu:
"Se observamos o que nasceu em torno aos mosteiros, como nesses lugares nasceram e continuam a nascer pequenos paraísos, oásis da criação, torna-se claro que tudo isto não são apenas palavras, mas onde a Palavra do Criador foi compreendida da maneira correta; onde houve vida com o Criador-Redentor, aí as pessoas se empenharam em salvar a criação, e não em destruí-la. Neste contexto se insere também o capítulo 8º da Carta aos Romanos, onde se diz que a Criação sofre e geme pela submissão em que se encontra e que espera a revelação dos filhos de Deus: sentir-se-á libertada quando vierem criaturas, homens que são filhos de Deus e que a tratarem a partir de Deus. Penso que é precisamente isto que nós hoje podemos constatar como realidade: a criação geme – percebemos e quase o sentimos – e espera pessoas humanas que olhem para ela com os olhos de Deus. O consumo brutal da criação começa onde não há Deus, onde a matéria é somente material para nós, onde nós mesmos somos as últimas instâncias, onde tudo é simplesmente propriedade nossa e consumimos só para nós mesmos. O esbanjamento da criação começa onde não reconhecemos mais nenhuma instância acima de nós, mas vemos somente a nós mesmos". (PL)







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