2008-08-07 11:07:12

Paulo VI proclamou a fé com incansável solicitude e defendeu corajosamente a sua integridade e pureza.


(6/8/2008) A figura do Papa Paulo VI,nos quinze anos do seu pontificado, foi evocada a grandes traços pelo cardeal Giovanni Battista Re, na homilia da Missa de comemoração dos trinta anos do falecimento do Papa Montini. Uma morte que – observou – pareceu inesperada aos olhos do mundo, mas que era aguardada com muita consciência e grande serenidade: “até ao último momento ele quis continuar a servir com amor, sem se subtrair em nada aos próprios compromissos. A sua morte foi um testemunho de amor e de fidelidade”.

Significativo o nome escolhido por João Baptista Montini para o seu cargo petrino. Como ele próprio explicou na cerimónia de início do pontificado, Paulo foi o Apóstolo que “amou Cristo de maneira eminente, que em máximo grau desejou e se esforçou por levar o Evangelho de Cristo a todas as gentes, e que por amor de Cristo ofereceu a sua vida”. Desde há quatro séculos que nenhum Papa adoptara este nome. A escolha aludia a uma certa afinidade de ideais do novo Papa com o Apóstolo que se sentiu chamado a levar o Evangelho até aos confins da terra e que tinha colocado Cristo no centro do seu coração de toda a sua vida.
“A exemplo do Apóstolo dos gentios, Paulo VI foi um apaixonado de Cristo. Mais ainda: podemos dizer que o seu espírito foi o espírito do apóstolo Paulo, que se pode sintetizar num nome: Jesus Cristo. Para mim, viver é Cristo!”.

Sobre a centralidade de Cristo, rosto de Deus e nosso único Mestre, Paulo VI pronunciou palavras admiráveis. Como por exemplo no discurso de abertura da segunda sessão do Concílio Vaticano II:
“Cristo nosso princípio! Cristo nosso caminho e nosso guia! Cristo nossa esperança e nosso fim… Nenhuma outra luz brilhe nesta assembleia para além de Cristo, luz do mundo. Nenhuma outra verdade interesse as nossas almas senão as palavras do Senhor, nosso único Mestre. Nenhuma outra aspiração nos guie senão o desejo de Lhe sermos absolutamente fiéis”.
“Esta espiritualidade cristocêntrica assinalou profundamente o seu modo de conceber o serviço petrino. Foi com profunda convicção que ele indicou que o segredo para concretizar a “actualização” (“aggiornamento”) querido pelo Concílio consistia antes de mais em colocar interiormente o espírito numa atitude de obediência a Cristo”.

O grande amor a Cristo levou Paulo VI também a uma terna devoção à Mãe de Cristo e nossa Mãe, a Virgem Maria.
Ao amor a Cristo e a Maria Paulo VI uniu sempre o amor à Igreja. Um amor não abstracto, mas real, feito também de fadiga e de íntimo sofrimento por aquela Igreja que ele definia – na sua primeira Encíclica “Ecclesiam suam” – como “mãe benigna e ministra de salvação de toda a sociedade humana”. Uma Igreja que – observou o cardeal Re - não tem palavras suas, próprias, pois existe para dizer a Palavra de Deus que é Jesus Cristo, para levar ao homem o anúncio do Evangelho, anúncio de libertação, de crescimento, de progresso.

“Como Papa, ele viveu e proclamou a fé com incansável solicitude e defendeu corajosamente a sua integridade e pureza. Aproveitou todas as oportunidades para dar a conhecer a Palavra de Deus e o pensamento da Igreja. Como o apóstolo Paulo, ele foi evangelizador pelas estradas do mundo”.

A este propósito, o cardeal Re recordou o Sínodo que Paulo VI dedicou ao tema da evangelização, e a Exortação Apostólica “Evangelii nuntiandi”.
Em anos em que “a barca de Pedro teve que navegar contra ventos e marés” – “anos difíceis para o magistério e para o governo da Igreja, os anos da contestação” – Paulo VI teve que dirigir com firmeza o timão da barca, empenhando-se com corajoso vigor na defesa do “depositum fidei”.

Em 1967, por ocasião dos 1900 anos do martírio de São Pedro e São Paulo, promoveu o Ano da Fé, em cuja conclusão – em 1968 – pronunciou “o Credo do Povo de Deus”, apontando aos teólogos e a toda a Igreja os pontos firmes fundamentais que não é lícito abandonar. Reafirmou assim solenemente as verdades fundamentais do cristianismo.
O texto mais asperamente criticado e contestado do magistério de Paulo VI, e ao mesmo tempo o que mais esforços e sofrimentos lhe custou, e que qualifica de modo particular a grandeza deste pontífice, foi a Encíclica “Humanae vitae”.
“Na história da Igreja, Paulo VI ficará como o Papa do Concílio Vaticano II. Se foi João XXIII a convocá-lo, foi ele a acompanhar a sua realização, guiando-o com sabedoria e prodigalizando-se depois para que fosse correctamente aplicado.”

Mas permanecerá também como o Papa que amou o mundo moderno, admirando as suas riquezas culturais e científicas”.

“A grande ânsia de Paulo VI era de servir o homem de hoje, nas suas misérias e grandezas, sustentando-o no caminho sobre a terra e indicando-lhe ao mesmo tempo a meta eterna, (pois) somente nesta ele pode encontrar todo o seu significado e valor o esforço que ele quotidianamente exprime aqui na terra”.

Sensível às ânsias e inquietações do homem moderno, foi um Papa do diálogo, atento a nunca fechar as portas ao encontro…

“Para Paulo VI, o diálogo era expressão do espírito evangélico que procura aproximar-se de todos, a todos fazer-se compreender, inspirando um estilo de convivência caracterizado pela abertura recíproca e pelo pleno respeito da justiça, na solidariedade e no amor. Diálogo também com o errante, a fim de obter a sua emenda de vida”.

Num mundo pobre de amor e marcado por problemas e violências, Paulo VI esforçou-se por instaurar uma civilização inspirada pelo amor, na qual a solidariedade e o amor chegassem ali onde não podia chegar a justiça social (por muito importante que esta seja).

“A civilização do amor a construir nos corações e nas consciências foi para o Papa Montini mais do que uma ideia ou um projecto. Foi a guia e o esforço de toda a sua vida. / Foi a favor desta nova civilização que Paulo VI se gastou sem medida, rezando e actuando, renovando as estruturas da Igreja, indo ele próprio ao encontro de todos os homens de boa vontade e procurando todas as ocasiões para difundir por toda a parte uma palavra de esperança e de paz, um convite a superar os egoísmos e rancores”.

É neste horizonte da civilização do amor que há que situar o “elevado magistério social” do Papa Montini – observou o cardeal Re. Um magistério em que se fez advogado dos pobres e denunciou as situações de injustiça que “clamam aos céus”. Foi muito sensível ao problema da fome no mundo, ao grito de angústia dos pobres, às graves desigualdades sociais, como bem mostra a sua Encíclica “Populorum progressio”.

E o cardeal João Baptista Re concluiu a sua homilia na Missa de sufrágio pelo Papa Paulo VI, a 30 anos do falecimento, evocando a grandes pinceladas “algumas iniciativas e alguns gestos” que ainda hoje merecem ser recordados.

- Foi o primeiro Papa a deslocar-se à Palestina, (de onde viera São Pedro). Realizada logo no início do seu pontificado, e com o Concílio Vaticano II em curso, foi uma “viagem de alto valor simbólico, que exprimia o seu mundo interior, a sua espiritualidade e a sua teologia”. Esta viagem deu início à grande actividade de viagens e visitas apostólicas que o seu sucessor João Paulo II realizaria através de todo o mundo.

- Foi também o primeiro Papa a intervir na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, apresentando-se como um peregrino que desde há dois mil anos tinha uma mensagem a anunciar a todos os povos – o Evangelho do amor e da paz. O discurso ali pronunciado, em Outubro de 1965, teve grande eco em todo o mundo, nomeadamente no seu vigoroso apelo à paz: “Nunca mais a guerra, nunca mais um contra o outro, ou um acima do outro, mas um para o outro, um com o outro” – disse ele. Na mesma ordem de ideias, instituiu a Jornada Mundial da Paz, a celebrar a 1 de Janeiro de cada ano.

- De registar também a abolição da corte pontifícia e a sua renúncia à tiara, depondo-a ele próprio, numa celebração em que a estava usando, a 13 de Novembro de 1964, para a doar aos pobres. Um gesto profundamente simbólico, alguns meses antes da sua viagem à Índia. “Gesto programático de humildade e de partilha, símbolo de uma Igreja que coloca os pobres no centro das suas atenções e os aborda com amor, vendo neles Cristo”.
Paulo VI quis que no Vaticano se adoptasse um estilo de vida mais simples. Reformou e internacionalizou a Cúria Romana, tornando-a mais eficiente e mais pastoral.

“Trinta anos passados desde que Paulo VI transpôs a misteriosa porta da eternidade”, o cardeal Re concluiu a sua homilia - na missa celebrada na basílica onde se encontra sepultado “bem perto do túmulo do Apóstolo Pedro”, “dando graças a Deus pelo luminoso testemunho deixado por este Sucessor de Pedro”.

“Queremos agradecer também ao Servo de Deus Paulo VI pelo seu apaixonado amor a Cristo, à Igreja e ao mundo. Pelo exemplo da sua vida espiritual, pelos seus ensinamentos e por quanto fez para combater as injustiças e violências e para instaurar no mundo a civilização do amor e da paz”,.










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