2008-08-06 17:58:23

EVENTOS FUNDAMENTAIS DO PONTIFICADO DE PAULO VI, A 30 ANOS DA SUA MORTE


Cidade do Vaticano, 06 ago (RV) - No dia 6 de agosto de 1978, festa da Transfiguração do Senhor, Giovanni Battista Montini, Paulo VI, voltava à Casa do Pai. Uma testemunha humilde e corajosa da Verdade, apóstolo da paz, homem do diálogo entre os povos e as culturas, que soube continuar e, depois, aplicar, com sabedoria e visão, o Concílio Vaticano II. A 30 anos da morte do papa Montini, vamos percorrer os eventos fundamentais do seu pontificado.
“Fidem servavi”, conservei a fé: nesta afirmação, pronunciada poucos dias antes da morte, está todo o pontificado de Paulo VI. Um papa mansueto e firme, enamorado da Verdade, que guiou a barca de Pedro em anos borrascosos para a Igreja e para o mundo. Eleito à cátedra pontifícia em 21 de junho de 1963, papa Montini se depara imediatamente com um desafio epocal: concluir o Concílio Vaticano II, nascido de uma intuição profética de João XXIII, mas que, depois dos entusiasmos iniciais, corre o risco de encalhar. Na Missa de início solene do pontificado, em 30 de junho de 1963, Paulo VI não esconde as suas preocupações e apresenta aos fiéis a sua visão da Igreja:
“Defenderemos a santa Igreja dos erros de doutrina e de costume, que dentro e fora dos seus confins ameaçam a sua integridade e ofuscam a sua beleza; procuraremos conservar e acrescer a virtude pastoral da Igreja, que a apresenta livre e pobre, na atitude que lhe é própria de mãe e mestra”.
Três meses mais tarde, em 29 de setembro, papa Montini abre solenemente a segunda sessão do Concílio. No discurso inaugural, indica as quatro finalidades deste evento extraordinário: a exposição doutrinal da natureza da Igreja; a sua renovação interior; o incremento da unidade dos cristãos e o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo. Paulo VI que, como arcebispo de Milão, participara da primeira sessão conciliar, não será o simples “tabelião” do Concílio. Acompanha com atenção e paixão os trabalhos, intervém com sabedoria nas circunstâncias mais delicadas. E em 7 de dezembro de 1965, encerra a assembléia ecumênica com sentimentos de alegria e comoção:
"Este Concílio passa à história a imagem da Igreja católica representada por esta sala, lotada de Pastores que professam a mesma fé, que aspiram à mesma caridade, associados na mesma comunhão de oração, de disciplina, de atividade e – o que é maravilhoso – todos desejosos de uma só coisa, de oferecerem-se a si mesmos, como Cristo nosso Mestre e Senhor, pela vida da Igreja e pela salvação do mundo”.
Nos seus quinze anos de pontificado, Papa Montini si empenhará com denodo pela paz no mundo, também mediante o robustecimento da dimensão missionária da Igreja, destacada na Exortação “Evangelii nuntiandi”. Istitui o Dia Mundial da Paz, a ser celebrado no dia 1º de janeiro e se faz apóstolo de paz até os confins da Terra com as suas nove viagens apostólicas internacionais que o levarão a tocar os cinco continentes. Memorável o seu discurso na Assembléia das Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 4 de outubro de 1965, o seu grito contra a guerra:
“Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra! A paz, a paz deve guiar as sortes dos povos e de toda a humanidade!”.
Paulo VI é sensível ao sofrimento das nações africanas prostradas pela miséria. Em 1967 é publicada a Encíclica “Populorum Progressio”. “O desenvolvimento – escreve o pontífice – é o novo nome da paz”. Mas explica que deve ser um desenvolvimento integral “voltado para a promoção de todos os homens e de todo o homem”. Com o Concílio, a Igreja é “atualizada/aggiornata”, renovada profundamente. Muitos, porém, querem dar-lhe uma interpretação ora progressista, ora conservadora, que não capta o significado autêntico do evento. As turbulências pós-conciliares provocarão muitos sofrimentos a Paulo VI que, todavia não renunciará a dar testemunho da Verdade, convicto, como Santo Agostinho, que a felicidade nada mais é que a alegria da verdade, “gaudium de veritate”. O caso mais candente, neste sentido, é a publicação, em 1968, da Humanae Vitae. A Encíclica, centralizada no amor conjugal responsável, reitera o “não” da Igreja aos métodos artificiais anticoncepcionais. No ano símbolo da contestação, Paulo VI é alvo de críticas ferrenhas, que beiram por vezes o insulto, também no mundo católico. Esta escolha de Paulo VI foi sofrida, longamente meditada. No dia 4 de agosto de 1968, por ocasião do Angelus, o papa explica os motivos da sua decisão com límpida coerência:
“A Nossa palavra não é fácil, não é conforme a um costume que hoje infelizmente se está propagando, como cômodo e aparentemente favorável ao amor e ao equilíbrio familiar. Queremos ainda lembrar que a norma que reafirmamos não é Nossa, mas é própria das estruturas da vida, do amor e da dignidade humana”.
Promotor da “civilização do amor”, Paulo VI aos seus esforços pela paz une um constante e frutuoso compromisso ecumênico, convicto de que os cristãos poderão ser fatores de reconciliação entre os povos apenas se forem unidos. Foi histórico o seu encontro em Jerusalém com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Atenágoras, em 1964. O seu abraço fraterno comove católicos e ortodoxos. No ano seguinte, foi finalmente revogada a excomunhão que as duas Igrejas se haviam lançado em 1054. São dados passos avante também no diálogo com os anglicanos. Em 1966, Paulo VI encontra-se com o Arcebispo de Cantuária, Michael Ramsey. Três anos mais tarde, vai visitar em Genebra o Conselho Mundial de Igrejas. Dotado de grande sensibilidade, em 1978 Paulo VI viverá um momento dramático, precisamente quando a sua vida estava quase chegando ao fim: o seqüestro do amigo Aldo Moro, presidente da Democracia Cristã italiana. Numerosos e vibrantes os apelos feitos diretamente aos “homens das Brigadas Vermelhas”, a partir do Angelus de 19 de março, três meses depois do seqüestro cruento do insigne homem político:
“Rezemos juntos pelos que, nestes dias, sofrem, portando mais viva em si mesmos as marcas da paixão de Jesus: pelas famílias que choram os seus entes queridos, abatidos no cumprimento do seu dever por um ódio homicida insensato que mais uma vez quis minar a convivência social pacífica; rezemos pelo deputado Aldo Moro, a nós caro, seqüestrado em vil emboscada, com o premente apelo a fim de que seja restituído aos seus entes queridos”.
Homem de grande cultura, amante da arte e da literatura, Paulo VI encomendou várias obras de arte a personalidades famosas. Scorzelli, Manzù e Nervi são alguns dos artistas mais célebres que trabalharam para a Santa Sé durante o seu pontificado. Potenciou a Rádio Vaticano e a Pontifícia Acadamia das Ciências, exortou os homens de cultura a servirem à verdade, a promoverem a dignidade do homem criado à imagem de Deus. Entre os abundantes frutos do seu ministério petrino, deve-se recordar também a reforma da Cúria, a reforma litúrgica e a celebração do Ano Jubilar de 1975. No dia 29 de junho de 1978, a pouco mais de um mês da sua morte, Paulo VI podia afirmar, como São Paulo, que combatera o bom combate do Evangelho:
“O nosso múnus é o mesmo de Pedro, a quem Cristo confiou o mandato de confirmar os irmãos (cf. Lc. 22, 32): é o múnus de servir a verdade da fé (…) Eis, Irmãos e Filhos, o intento incansável, vigilante, insistente que nos moveu nestes quinze anos de pontificado. «Fidem servavi»! podemos dizer hoje, com a humilde e firme consciência de nunca ter traído o santo verdadeiro”. (PL)
 







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