Conferência de Lambeth: Anglicanos conseguem manter unidade periclitante
(5/8/2008) A Conferência de Lambeth, reunião magna da Comunhão Anglicana, chegou
ao fim com um compromisso dos 657 Bispos presentes em manter a unidade, após as várias
ameaças de cisma por causa da ordenação episcopal de mulheres e homossexuais. O
consenso obtido passou para um documento final recheado de intenções teóricas, mas
sem quaisquer aplicações práticas, de momento. Cerca de 230 Bispos, quase um quarto
do total dos anglicanos, boicotaram a Conferência, por causa da presença de representantes
episcopalianos, o ramo norte-americano da Comunhão Anglicana. O Primaz anglicano
e Arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, decidiu não convidar o primeiro bispo anglicano
abertamente homossexual, Gene Robinson, cuja ordenação nos EUA, em 2003, provocou
sérias divisões. No discurso de encerramento, o Primaz admitiu que ainda não foram
resolvidos os problemas pendentes. Rowan Williams defendeu a necessidade de um
"pacto futuro" que envolva "uma Igreja global de comunidades interdependentes", e
anunciou que quer convocar, possivelmente no ano que vem, uma reunião de líderes anglicanos
para abordar as dificuldades pendentes. Durante a Conferência de Lambeth teve
lugar o anúncio da criação de um Fórum Pastoral e a elaboração de uma Aliança, uma
nova carta de princípios a que todas as províncias teriam que aderir sob pena de se
verem, na prática, arredados da comunhão. O Presidente do Conselho pontifício
para a promoção da unidade dos cristãos Cardeal Walter Kasper, interveio na Conferência
de Lambeth para admitir que a ordenação episcopal de mulheres significará um “passo
atrás” para o diálogo entre Católicos e Anglicanos. Tocou em “duas questões que
estão no centro das tensões no seio da Comunhão Anglicana e das suas relações com
a Igreja Católica: a ordenação de mulheres e a sexualidade humana”. “Ainda que
o nosso diálogo tenha produzido um acordo significativo sobre a ideia de sacerdócio,
a ordenação das mulheres para o episcopado bloqueia substancial e definitivamente
um possível reconhecimento das ordenações anglicanas por parte da Igreja Católica”,
esclareceu. “Desejamos a continuação de um diálogo teológico entre a Comunhão
Anglicana e a Igreja Católica – assegurou –, mas este último passo mina o nosso objectivo
e altera o nível do que perseguimos com o diálogo”. Segundo o Cardeal Kasper,
“parece que a plena comunhão visível, como objectivo do nosso diálogo, deu um passo
atrás”, pelo que agora há “objectivos menos definitivos”.