OBSERVADOR PERMANENTE DA SANTA SÉ JUNTO AOS ESCRITÓRIOS DA ONU EM GENEBRA DIZ QUE
FALIMENTO DA CÚPULA DA OMC DANIFICA OS PAÍSES POBRES
Genebra, 30 jul (RV) - Como é sabido, fracassou clamorosamente a cúpula da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Após nove dias de reuniões e negociações, o
encontro terminou, na noite passada em Genebra, com um falimento substancial quanto
às medidas principalmente a favor dos países em via de desenvolvimento, a adotar nos
setores da agricultura e das taxas alfandegárias. O diretor da OMC, Pascal Lamy, ressaltou
as divergências, em partucular entre os gigantes asiáticos, China e Índia, e os Estados
Unidos.
A falta de um acordo final, depois de sete anos de negociações suscitou
uma série de polêmicas em nível internacional entre os que defendiam um acordo a todo
o custo e os que consideram ainda necessário continuar as negociações. De qualquer
forma, resta em muitos a sensação de que se perdeu uma ocasião importante para reduzir
o desequilíbrio entre países pobres e países ricos. Sobre o assunto, a Rádio Vaticano
foi ouvir o comentário do Observador Permanente da Santa Sé junto aos escritórios
da ONU, em Genebra, Dom Silvano Maria Tomasi:
D. Tomasi – "Embora
a cúpula tenha deixado benefícios, porque foram alcançados vários acordos, não se
chegou a uma conclusão final. Este fracasso provoca na verdade conseqüências importantes
quer sob o aspecto do sistema multilateral, quer para os países em via de desenvolvimento,
que se encontrarão ainda isolados do acesso aos mercados. Desta forma, não se resolverão
as desigualdades que existem entre países ricos e países pobres, as quais não podem
ser preenchidas simplesmente pela ajuda que se dá, sendo portanto necessário encontrar
um mecanismo mais justo de participação."
P. – O que impressiona, D. Tomasi,
é o aspecto ético, a persistência de egoísmos nacionais. E é ainda mais impressionante
que estes egoísmos provêm não só de países já ricos, mas também de países em via de
forte desenvolvimento, dos novos “tigres” dos mercados globais...
D. Tomasi
– "Há vários níveis que deveriam ser analisados para compreender o fracasso
destas negociações. Há razões políticas e técnicas, tem o interesse imediato devido
ao comércio e ao acesso por parte de alguns aos mercados mais apetitosos. É certo
que nestas situações as novas potências econômicas emergentes fizeram ouvir a sua
voz de maneira decidida, por razões ligadas também às suas políticas internas. E assim
nos encontramos diante de uma situação nova. No xadrez mundial existem forças e países
que devem não só ser devidamente considerados, mas que devem também sentir uma responsabilidade
particular para com os países mais pobres."
P. – Dom Tomasi, o senhor falava
de questões técnicas... Na sua opinião, não acha que a comunidade internacional deveria
repensar um método para tomar decisões?
D. Tomasi – "O estatuto
da Organização Mundial do Comércio diz que deve haver consenso para as decisões que
se adotam. A situação dentro da Organzação Mundial do Comércio complicou-se muito
porque nos últimos anos se tornaram membros muitos países pobres e em via de desenvolvimento.
A situação objetivamente é muito complexa, mas isto não quer dizer que se deve renunciar
à negociação multilateral ou que é necessário fazer com que um pequeno grupo possa
falar por todos os países, porque deste modo os interesses dos países mais fracos
não seriam adequadamente representados. Dever-se-ia, ao contrário, colocar em prática
o regulamento que exige que as decisões sejam tomadas por consenso, de modo que todos
possam realmente participar de maneira eficaz em tomar as decisões que interessam
a toda a comunidade global." (PL)