SYDNEY: 1º DIA DE ATIVIDADES OFICIAIS DE BENTO XVI. OS JOVENS ABRAÇAM O PAPA
Sydney, 17 jul (RV) - Depois de alguns dias de adaptação ao fuso horário australiano,
na Casa de Campo do Opus Dei, a cerca de 50 km. de Sydney, hoje o Papa começou, oficialmente,
suas atividades públicas.
Às 7.30, hora local, o Santo Padre celebrou Missa,
em particular, na Capela da sede episcopal da Catedral de Sydney. A seguir, transferiu-se,
de automóvel, à Residência do Governo local, a dois km. de distância, onde se deu
a cerimônia oficial de boas-vindas à Austrália.
Bento XVI foi recebido, no
jardim da Residência, pelo Governador Geral, General Michael Jeffery, pelo Primeiro
Ministro, Kevin Rudd, o Cardeal Secretário de Estado, Tarcísio Bertone, o Presidente
da Conferência Episcopal da Austrália, Dom Philip Wilson, o cardeal-arcebispo de Sydney,
Dom George Pell, o coordenador geral do DMJ, Dom Anthony Fisher, além dos bispos auxiliares
de Sydney e alguns bispos australianos.
Depois das honras militares e civis,
segundo o protocolo, o Primeiro Ministro pronunciou seu discurso de boas-vindas ao
Papa. A seguir, Bento XVI tomou a palavra, agradecendo a presença das autoridades
civis e religiosas, como também pela cordial hospitalidade.
Depois, referindo
ao grande evento do DMJ, o Papa disse que alguém poderia perguntar-se sobre o motivo
que impeliu milhares de jovens a empreenderem uma viagem tão longa e cansativa para
muitos para participar deste encontro.
Desde o primeiro DMJ, em 1986, disse
o Papa, ficou claro que um grande número de jovens aprecia a oportunidade de se encontrar
para aprofundar a própria fé em Cristo e partilhar a experiência de comunhão da própria
Igreja.
Por outro lado, frisou o Pontífice, os jovens desejam ouvir a Palavra
de Deus e aumentar seus conhecimentos sobre a sua fé cristã; desejam tomar parte de
um acontecimento, que ressalta os grandes ideais que os inspira. Depois, eles voltam
para as suas casas repletos de esperança e decididos a construir um mundo melhor.
E o Papa acrescentou:
“O DMJ enche-me de confiança no futuro da Igreja e no
futuro do mundo de todos nós. Acima de tudo, é particularmente oportuno celebrar aqui
este grande evento, uma vez que a Igreja na Austrália, além de ser a mais jovem entre
as demais Igrejas, é também uma das mais cosmopolitas”.
A Austrália, disse
o Bispo de Roma, “é um país que se tornou lugar de gerações de imigrantes da Europa,
mas também de pessoas vindas de todos os cantos da terra. A imensa diversidade da
atual população confere um vigor particular a esta jovem nação.
Os únicos
habitantes deste solo, recordou o Papa, foram pessoas originárias do país: os aborígenes
e os insulanos. Seu antigo patrimônio faz parte essencial do panorama cultural da
Austrália moderna.
Graças à corajosa decisão tomada pelo Governo australiano
de reconhecer as injustiças cometidas no passado contra os povos indígenas, recordou
ainda o Papa Ratzinger, agora foram dados passos concretos para se chegar à reconciliação
com base no respeito recíproco.
Este exemplo de reconciliação, disse o Papa,
gera esperança nos povos de todo o mundo, que anelam pelo reconhecimento dos seus
direitos e pela sua contribuição para a construção da nação, particularmente nos campos
da educação e da saúde.
Aqui, entre as figuras eminentes da história deste
país, o Santo Padre destacou a bem-aventurada Mary MacKillop, exemplo prático de santidade
que se tornou fonte de inspiração para todos os australianos:
“No atual contexto
mais secularizado, a comunidade católica continua a dar uma contribuição importante
para a vida nacional, não só através da educação e da saúde, mas especialmente apontando
a dimensão espiritual das questões mais evidentes no mundo contemporâneo.”
A
seguir, o Pontífice ressaltou a necessidade de proteger o ambiente, realizando uma
administração responsável dos bens da terra. A tal respeito, a Austrália se empenha
seriamente em assumir a responsabilidade que lhe cabe no cuidado do ambiente natural.
Além do ambiente humano, Bento XVI frisou que este país sustenta generosamente
operações internacionais em prol da manutenção da paz, contribuindo para a resolução
de conflitos no Pacífico, no sudeste da Ásia e em outros lugares.
Devido às
numerosas tradições religiosas, presentes na Austrália, o Papa disse que o país constitui
um terreno particularmente fértil no campo do diálogo ecumênico e inter-religioso.
Enfim, o Bispo de Roma recordou o motivo principal da sua visita à Austrália:
“Primeiramente,
estou aqui para me encontrar com os jovens, quer da Austrália quer das diversas partes
do mundo, e para pedir uma renovada efusão do Espírito Santo sobre os que tomam parte
nas celebrações. Espero que o Espírito Santo proporcione uma renovação espiritual
a este país, ao povo australiano, à Igreja na Oceania, até as extremidades da terra”. É
o Espírito que dá a sabedoria para discernir o caminho justo e a coragem de percorrê-lo.
Ele coroa os nossos pobres esforços com os seus dons divinos. O Espírito Santo torna
possível, aos homens e mulheres de cada terra e geração, serem santos. E o Santo Padre
concluiu:
“Através da ação do Espírito, possam os jovens, aqui reunidos neste
DMJ, ter a coragem de se tornar santos! Queridos amigos australianos, uma vez mais
agradeço as calorosas boas-vindas; espero poder transcorrer, com alegria, estes dias
com vocês e com os jovens do mundo inteiro”.
Depois da cerimônia de boas-vindas,
o Santo Padre deixou a Residência Governamental e se deslocou, de automóvel, para
a Capela onde se encontra os restos mortais da bem-aventurada australiana.
A
seguir, Bento XVI fez uma visita de cortesia ao Governador Geral de Sydney, Gen. Michael
Jeffery e, sucessivamente, recebeu o Primeiro Ministro, Kevin Rudd.
Na parte
da tarde, o Bispo de Roma dirigiu-se, de automóvel, para a Baía de Sydney, onde presenciou
a uma apresentação de cantos e danças tradicionais por parte da comunidade aborígene
australiana.
Enfim, Bento XVI tomou um grande barco branco, acompanhado de
outros pequenos barcos, e se dirigiu à Baía de Barangaroo, onde o aguardavam os jovens
do mundo inteiro, que lhe deram as suas boas-vindas.
A bordo do barco estavam
530 pessoas, entre os quais 10 jovens aborígenes, 168 jovens dos outros continentes,
32 da Oceania e 20 australianos. 16 jovens tiveram a oportunidade de encontrar-se
e conversar pessoalmente com o Papa. Ao descer do grande barco, o Santo Padre
tomou o papa-móvel e se dirigiu, entre os aplausos dos milhares de jovens presentes,
ao palco da Baía de Sydney, onde pronunciou um longo e denso discurso, com saudações
em várias línguas.
Depois da saudação do cardeal-arcebispo de Sydney, Dom George
Pell, o Pontífice tomou a palavra, dizendo, inicialmente, aos jovens:
“Queridos
jovens... Que grande alegria poder encontra-me com vocês, aqui em Barangaroo, às margens
desta magnífica baía de Sidney, com a sua famosa ponte e a moderna obra! Muitos de
vocês são daqui, do interior ou das dinâmicas comunidades multiculturais das cidades
australianas. Outros, das ilhas da Oceania, Ásia, Médio Oriente, África, Europa e
Américas. Estamos juntos neste mundo como família de Deus, como discípulos de Cristo,
confirmados pelo seu Espírito, para sermos testemunhas do seu amor e da sua verdade
diante de todos”.
Depois, o Papa aproveitou este contato inicial para destacar
os desafios, sobretudo em relação à dignidade humana, à violência e à defesa da natureza.
O Para recordou, em seu discurso, dos pobres, idosos, imigrantes e os sem
voz da sociedade. E se perguntou: “Como é possível que a violência doméstica atormente
tantas mães e crianças? Como é possível que o mais sagrado espaço humano – o ventre
– se tenha tornado um lugar de violência indizível?”
Segundo o Papa, “as preocupações
pela não-violência, o desenvolvimento sustentável, a justiça e a paz, pelo cuidado
com o ambiente são de importância vital para a humanidade”, mas não podem “ser entendidas
sem uma reflexão profunda sobre a dignidade inata de cada vida humana desde a sua
concepção até a morte natural: uma dignidade conferida pelo próprio Deus e, por isso,
inviolável”.
Bento XVI referiu-se ainda sobre a necessidade de defender o
ambiente, frisando que “existem feridas que desfiguram a superfície da terra: a erosão,
o desflorestamento, o esbanjamento dos recursos minerais e marítimos para alimentar
um consumismo insaciável”.
Enfim, destacou outros desafios enfrentados pela
juventude de hoje: o abuso de álcool e de drogas, a exaltação da violência e a degradação
sexual, freqüentemente apresentados na televisão e na Internet como divertimento;
falou também da violência e exploração sexual:
“O nosso mundo está cansado
da ambição, da exploração e da divisão, do tédio, de falsos ídolos, de respostas parciais
e de falsas promessas. O nosso coração e a nossa mente anelam por uma visão de vida
onde reine o amor, onde os dons sejam partilhados, onde se construa a unidade, onde
a liberdade encontre o seu próprio significado na verdade, e onde a identidade seja
encontrada numa comunhão respeitosa”. Por outro lado, o Papa recordou ainda aos
jovens um dos temas mais marcantes do seu pontificado: o relativismo. “A liberdade
e tolerância, disse, são tantas vezes separadas da verdade. “Esta perspectiva secularizada
procura explicar a vida humana e plasmar a sociedade com pouca ou nenhuma referência
ao Criador. Apresenta-se como uma força neutral, imparcial e respeitadora de todos
e cada um. Na realidade, porém, como qualquer ideologia, o secularismo impõe um visão
global”.
Enfim, o Pontífice dirigiu-se, de modo particular, aos aborígenes
agradecendo-os pelo acolhimento. A eles o Papa disse: “Sinto-me profundamente emocionado
por me encontrar em sua terra, sabendo dos sofrimentos e injustiças que esta suportou,
mas ciente também do benefício e da esperança, dos quais, justamente, todos os cidadãos
australianos podem ser orgulhosos. No final de seu longo discurso, o Santo Padre
passou a cumprimentar a juventude do mundo inteiro, em várias línguas. Eis a sua saudação
em português:
“Queridos amigos dos vários países de língua oficial portuguesa,
bem-vindos a Sidney! A todos saúdo com afeto: os de perto e os de longe. Lá, na vossa
Pátria, tereis ouvido Jesus segredar-vos: «Sereis minhas testemunhas… até aos confins
do mundo» (At 1, 8). A viagem mais ou menos longa que enfrentastes para chegar até
aqui, à Austrália ou – de seu nome cristão completo – «Terra Austral do Espírito Santo»,
não deixou em vós a sensação de terdes chegado aos confins do mundo? Pois bem! É com
grande alegria que o Papa vos acolhe para vos confirmar como testemunhas de Jesus,
por Ele acreditadas com o dom do seu próprio Espírito”.
No final do
grande encontro com os jovens do mundo, Bento XVI retornou, de papa-móvel, à Residência
Episcopal de Sydney, passando entre a multidão de jovens em festa, com as bandeiras
de seus respectivos países.
Depois deste primeiro encontro com os jovens do
mundo, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, destacou
o acolhimento feito ao Papa “não como alguém que vem colonizar, mas como um amigo
e pai espiritual”. (MT)