2008-07-17 08:46:50

Festa de acolhimento dos jovens no Barangaroo East Darling Harbour. Discurso do Santo Padre, e saudação aos jovens de lingua portuguesa


(17/7/2008) Bento XVI foi recebido nesta quinta feira num ambiente de festa pelas muitas dezenas de milhares de jovens que se encontram em Sidney para celebrar a Jornada Mundial de Juventude 2008. Na sua primeira aparição neste evento, iniciado na passada Terça-feira, o Papa falou de todos os presentes “uma família de Deus”, frisando a diversidade de proveniência de todos os presentes.
Muitos de vós são deste país, do seu interior ou das dinâmicas comunidades multiculturais das cidades australianas. Outros chegaram das ilhas disseminadas pela Oceânia, outros ainda vieram da Ásia, do Médio Oriente, da África e das Américas. Entretanto um certo número chegou de tão longe como eu, ou seja, da Europa! Seja qual for o país donde vindes, finalmente estamos aqui, em Sidney! E juntos estamos presentes neste nosso mundo como família de Deus, como discípulos de Cristo, confirmados pelo seu Espírito para sermos testemunhas do seu amor e da sua verdade diante de todos.
Desejo em primeiro lugar agradecer aos Anciãos dos Aborígenes que me deram as boas-vindas antes de eu subir para o barco na Rose Bay. Sinto-me profundamente emocionado por me encontrar na vossa terra, sabendo dos sofrimentos e injustiças que esta suportou, mas ciente também da beneficiação e esperança agora em acto, de que justamente todos os cidadãos australianos podem ser orgulhosos. Aos jovens indígenas – aborígenes e habitantes das Ilhas do Estreito de Torres – e Tokelauanos, exprimo o meu obrigado pela tocantes boas-vindas. E, através de vós, envio cordiais saudações aos vossos povos.
(…) Vejo diante de mim uma imagem vibrante da Igreja universal. A variedade de nações e culturas donde provindes demonstra que a Boa Nova de Cristo é verdadeiramente para todos e cada um; ela chegou aos confins da terra. E, no entanto, sei também que um bom número de vós ainda anda à procura duma pátria espiritual. Alguns dentre vós, sem dúvida alguma bem-vindos entre nós, não são católicos nem cristãos. Talvez outros de vós se movam na periferia da vida da paróquia e da Igreja. A vós desejo oferecer o meu encorajamento: aproximai-vos do abraço amoroso de Cristo; reconhecei a Igreja como vossa casa. Ninguém é obrigado a ficar de fora, porque desde o dia do Pentecostes a Igreja é una e universal.
Nesta tarde, desejo abarcar também quantos não estão aqui presentes entre nós. Penso de modo especial nos doentes ou nos deficientes psíquicos, nos jovens encarcerados, em quantos penam à margem das nossas sociedades e naqueles que por qualquer razão se sentem alienados da Igreja. A eles digo: Jesus está perto de ti! Experimenta o seu abraço que cura, a sua compaixão, a sua misericórdia!
Há quase dois mil anos, os Apóstolos, reunidos na sala superior da casa juntamente com Maria (cf. Act 1, 14) e algumas mulheres fiéis, ficaram cheios de Espírito Santo (cf. Act 2, 4). Naquele momento extraordinário que marcou o nascimento da Igreja, a confusão e o medo, que se tinham apoderado dos discípulos de Cristo, transformaram-se numa convicção vigorosa e na certeza de um objectivo. Sentiram-se impelidos a falar do seu encontro com Jesus ressuscitado, que afectuosamente já tratavam por Senhor. (…) E, dando cumprimento ao mandato recebido do próprio Cristo, partiram testemunhando a maior história de todos os tempos: que Deus Se fez um de nós, que o divino entrou na história humana para poder transformá-la e que somos chamados a mergulhar no amor salvífico de Cristo que triunfa do mal e da morte. No famoso discurso feito no areópago, São Paulo introduziu a mensagem assim: Deus a todos dá a vida, a respiração e tudo o mais, para que todas as Nações procurem a Deus e se esforcem por encontrá-Lo, mesmo tacteando, embora não Se encontre longe de cada um de nós, porque é n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos (cf. Act 17, 25-28).
A partir de então, homens e mulheres partiram para contar a mesma história, testemunhando o amor e a verdade de Cristo e contribuindo para a missão da Igreja. (…) Tornaram-se construtores humildes mas tenazes duma herança social e espiritual tão grande que ainda hoje proporciona bondade, compaixão e orientação a estas nações. E foram capazes de inspirar uma geração nova. Vem à mente imediatamente a fé que sustentou a Beata Mary MacKillop na sua resoluta determinação de educar especialmente os pobres, e o Beato Peter To Rot na sua firme convicção de que o chefe duma comunidade deve pautar-se sempre pelo Evangelho. Pensai ainda nos vossos avós e nos vossos pais, os vossos primeiros mestres na fé. Também eles sacrificaram muito do seu tempo e das suas forças, movidos pelo amor que vos têm. (…)
Hoje é a minha vez. (…) E todavia a vista do alto sobre o nosso planeta foi verdadeiramente magnífica. As águas tremeluzentes do Mediterrâneo, a magnificência do deserto norte-africano, a floresta luxuriante da Ásia, a vastidão do Oceano Pacífico, o horizonte onde o sol se levanta e desce, o majestoso esplendor da beleza natural da Austrália de que pude gozar nos últimos dois dias; tudo isto gera um profundo sentido de reverente temor.
(…) Mas há mais; algo cuja percepção é difícil quando visto do alto dos céus: homens e mulheres criados nada menos que à imagem e semelhança de Deus (cf. Gen 1, 26). No coração desta criação maravilhosa, estamos nós: vós e eu, a família humana «coroada de glória e honra» (…) Imersos no silêncio, num espírito de gratidão, na força da santidade, pomo-nos a reflectir.
E que descobrimos? Com relutância talvez, mas chegamos a admitir que existem também feridas que desfiguram a superfície da terra: a erosão, o desflorestamento, o esbanjamento dos recursos minerais e marítimos para alimentar um consumismo insaciável. Alguns de vós chegam das ilhas-Estado, que se vêem ameaçadas na sua própria existência pelo aumento do nível das águas; outros de nações que sofrem os efeitos de secas devastadoras. (…)
E mais… Que dizer do homem, do vértice da criação de Deus? Todos os dias deparamos com o génio das conquistas humanas. Devido aos avanços nas ciências médicas e à sábia aplicação da tecnologia até à criatividade que se espelha nas artes, cresce de muitos modos e constantemente a qualidade de vida para satisfação das pessoas. Em vós mesmos, há uma pronta disponibilidade para acolher as abundantes oportunidades que vos são oferecidas. (…)
Por isso, levando por diante a nossa reflexão, descobrimos que não é só o ambiente natural que tem as suas cicatrizes, mas também o ambiente social, o habitat que nós mesmos criamos; feridas essas que indicam que alguma coisa não está certa. Também aqui, nas nossas vidas pessoais e nas nossas comunidades, podemos encontrar inimizades por vezes perigosas; um veneno que ameaça corroer o que é bom, plasmar de modo diferente o que somos e alterar a finalidade para a qual fomos criados. Os exemplos não faltam, como bem sabeis. Entre os mais salientes, contam-se o abuso de álcool e de drogas, a exaltação da violência e a degradação sexual, frequentemente apresentados na televisão e na internet como divertimento. Pergunto-me como alguém, colocado face a face com pessoas que estão realmente sofrendo violência e exploração sexual, poderá explicar que tais tragédias, reproduzidas de forma virtual, devem considerar-se simplesmente como «divertimento».
Além disso, há algo de sinistro que nasce do facto de liberdade e tolerância serem tantas vezes separadas da verdade. Isto é alimentado pela ideia, hoje largamente espalhada, de que não há uma verdade absoluta para guiar as nossas vidas. Na prática dando indiscriminadamente valor a tudo, o relativismo fez da «experiência» a coisa mais importante. Na realidade, as experiências, desligadas de qualquer consideração do que é bom ou verdadeiro, podem conduzir, não a uma liberdade genuína, mas a uma confusão moral ou intelectual, a uma atenuação dos princípios, à perda da auto-estima e mesmo ao desespero.
Queridos amigos, a vida não é governada pela sorte, nem é casual. A vossa existência pessoal foi querida por Deus, abençoada por Ele, tendo-lhe dado uma finalidade (cf. Gen 1, 28). A vida não é uma mera sucessão de factos e experiências, por mais úteis que muitos deles se possam revelar. Mas é uma busca da verdade, do bem e da beleza. É precisamente para tal fim que fazemos as nossas opções, exercemos a nossa liberdade e nisso mesmo, isto é, na verdade, no bem e na beleza, encontramos felicidade e alegria. (…)
Cristo oferece mais… antes, oferece tudo! Só Ele, que é a Verdade, pode ser o Caminho e, consequentemente, também a Vida. (…)
Queridos amigos, em casa, na escola, na universidade, nos lugares de trabalho e de diversão, recordai-vos que sois criaturas novas. Não vos limiteis a viver cheios de assombro na presença do Criador, alegrando-vos pelas suas obras, mas tende presente que o alicerce seguro da solidariedade humana está na origem comum de toda a pessoa, o vértice do desígnio criador de Deus sobre o mundo. Como cristãos, encontrais-vos neste mundo sabendo que Deus tem um rosto humano: Jesus Cristo, o «caminho» que satisfaz todo o anseio humano e a «vida» da qual somos chamados a dar testemunho, caminhando sempre na sua luz (cf. ibid., 100).
A tarefa de testemunha não é fácil. Hoje, há muitos que pretendem que Deus deva ficar de fora e que a religião e a fé, embora aceitáveis no plano individual, devam ser excluídas da vida pública ou então utilizadas somente para alcançar determinados objectivos pragmáticos. Esta perspectiva secularizada procura explicar a vida humana e plasmar a sociedade com pouco ou nenhum referimento ao Criador. Apresenta-se como uma força neutral, imparcial e respeitadora de todos e cada um. Na realidade, porém, como qualquer ideologia, o secularismo impõe um visão global. Se Deus é irrelevante na vida pública, então a sociedade poderá ser plasmada segundo uma imagem alheada de Deus, e o debate e a política relativos ao bem comum serão conduzidos mais à luz das consequências que dos princípios radicados na verdade.
A experiência, porém, demonstra que o afastamento do desígnio de Deus criador provoca uma desordem com inevitáveis repercussões sobre o resto da criação (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz 1990, 5). (…)
E que dizer do nosso ambiente social? Permanecemos igualmente alerta quanto aos sinais do nosso voltar as costas à estrutura moral de que Deus dotou a humanidade (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2007, 8)? (…) Deste modo somos levados a reflectir sobre o lugar que têm nas nossas sociedades os pobres, os idosos, os imigrantes, os sem voz. Como é possível que a violência doméstica atormente tantas mães e crianças? Como é possível que o espaço humano mais admirável e sagrado, o ventre materno, se tenha tornado lugar de violência indizível?
(…) O nosso mundo está cansado da ambição, da exploração e da divisão, do tédio de falsos ídolos e de respostas parciais, e da mágoa de falsas promessas. O nosso coração e a nossa mente anelam por uma visão da vida onde reine o amor, onde os dons sejam partilhados, onde se construa a unidade, onde a liberdade encontre o seu próprio significado na verdade, e onde a identidade seja encontrada numa comunhão respeitosa. Esta é obra do Espírito Santo. Esta é a esperança oferecida pelo Evangelho de Jesus Cristo. Foi para dar testemunho desta realidade que fostes regenerados no Baptismo e fortalecidos com os dons do Espírito no Crisma. Seja esta a mensagem que de Sidney levareis pelo mundo!

(...)Queridos amigos dos vários países de língua oficial portuguesa, bem-vindos a Sidney! A todos saúdo com afecto: os de perto e os de longe. Lá, na vossa Pátria, tereis ouvido Jesus segredar-vos: «Sereis minhas testemunhas… até aos confins do mundo» (Act 1, 8). A viagem mais ou menos longa que enfrentastes para chegar até aqui, à Austrália ou – de seu nome cristão completo – «Terra Austral do Espírito Santo», não deixou em vós a sensação de terdes chegado aos confins do mundo? Pois bem! É com grande alegria que o Papa vos acolhe para vos confirmar como testemunhas de Jesus, por Ele acreditadas com o dom do seu próprio Espírito.
Não faltou uma saudação em lingua portuguesa: RealAudioMP3 Queridos amigos dos vários países de língua oficial portuguesa, bem-vindos a Sidney! A todos saúdo com afecto: os de perto e os de longe. Lá, na vossa Pátria, tereis ouvido Jesus segredar-vos: «Sereis minhas testemunhas… até aos confins do mundo» (Act 1, 8). A viagem mais ou menos longa que enfrentastes para chegar até aqui, à Austrália ou – de seu nome cristão completo – «Terra Austral do Espírito Santo», não deixou em vós a sensação de terdes chegado aos confins do mundo? Pois bem! É com grande alegria que o Papa vos acolhe para vos confirmar como testemunhas de Jesus, por Ele acreditadas com o dom do seu próprio Espírito.

A versão integral dos discursos pronunciados pelo Santo Padre está disponível no site da Santa Sé www.vatican.va e nas várias edições do jornal L’Osservatore Romano.







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