Parlamento Europeu aprova expulsão de ilegais. Director da Obra Católica Portuguesa
de Migrações denuncia a “criminalização da imigração ilegal”.
(19/6/2008) O parlamento europeu aprovou a expulsou de ilegais. As novas regras irão
permitir a detenção de imigrantes ilegais até 18 meses e a interdição de reentrada
na Europa por um período até cinco anos. Mas a nova legislação deixa aos países membros
a possibilidade de aplicar outros prazos, desde que não ultrapassem o limite máximo.
As propostas mereceram, durante todo o processo negocial entre Conselho e representantes
do Parlamento Europeu, a crítica de parte da esquerda europeia e das organizações
internacionais de direitos humanos, sob acusação de que o texto ameaça alguns direitos
já consagrados.
O tempo limite de detenção estipulado pela "directiva da deportação",
como lhe chamam alguns defensores de direitos fundamentais, foi um dos pontos que
mais suscitou divisões internas nas famílias políticas europeias. A possibilidade
de detenção de crianças e de famílias com menores foi outros ponto controverso. Quando
desacompanhadas, as crianças que estejam ilegalmente no território de um Estado membro
podem ser detidas e deportadas para o seu país de origem.
A única matéria
que durante as negociações ao nível dos Estados membros gerou problemas foi a questão
das garantias de assistência jurídica e até que ponto as autoridades nacionais teriam
de assumir os custos desse apoio, caso o ilegal não o possa comportar. Após o voto
de ontem, a questão será apreciada à luz da legislação nacional de cada país, podendo
ou não o Estado membro oferecer apoio jurídico gratuito a qualquer ilegal que pretenda
desafiar a ordem de expulsão ou detenção.
Frei Francisco Sales, Director
da Obra Católica Portuguesa de Migrações denuncia a “criminalização da imigração
ilegal”. “O direito de as pessoas lutarem pela sobrevivência não pode ser criminalizado”,
evidencia, indicando que a imigração é um direito que assiste a qualquer cidadão.
O Director da Obra Católica Portuguesa de Migrações acusa a Europa da situação em
que África se encontra, pois “durante anos o continente europeu explorou o africano
causando muitas situações de miséria”. Os imigrantes, especialmente africanos,
fazem-no “não apenas em busca de trabalho, mas muitas vezes a fugir de situações dramáticas
de vida, de fome e de miséria”. Reconhecendo que a Europa precisa de leis de controlo
de imigração, caso contrário “as sociedades acabam destruídas”, Frei Sales indica
que a resposta não está “neste sistema de criminalizar” e reenviar as pessoas para
os seus países de origem. “A Europa tem obrigação moral de ajudar os países africanos,
investindo nos meios de desenvolvimento que ajudem a fixar as populações em vez de
suportar a permanência de governos corruptos”. A aprovação da «directiva de retorno»
impõe-se como “um revés nos objectivos da Cimeira Europa/África”, que Lisboa acolheu
em Dezembro de 2007. Mas é também um “contra senso face aos princípios humanos e cristãos
basilares da Europa e também contraditória com a lei portuguesa regulamentada no ano
passado”. Frei Francisco Sales fala na lei da imigração portuguesa como “humanista"
e diz que mostra "abertura na ajuda aos imigrantes”. Com a aprovação da directiva
europeia comum, a lei portuguesa “terá ser reajustada ao nível europeu, o que não
faz sentido nenhum”. O Director da Obra Católica Portuguesa de Migrações afirma
ter havido pressão francesa e italiana na aprovação da directiva de retorno, frisando
que são os países europeus que mais sofrem com a imigração clandestina. “A intenção
é criminalizar criando uma medida dissuasiva da imigração ilegal, mas as pessoas vão
continuar a vir de África, porque vêm fugidas e preferem arriscar a vida e passar
18 meses numa prisão onde são alimentadas do que morrer à fome nos seus países”, salienta.