Conjugar o duplo princípio da vida cristã - petrino e mariano, partindo de novo de
Cristo, na renovação pessoal e comunitária e na evangelização: Bento XVI na missa
em Santa Maria de Leuca
(14/6/2008) Neste sábado e domingo Bento XVI efectua uma visita pastoral a Santa
Maria di Leuca e Brindisi, no sul da Itália. O Papa que partiu de Roma ao meio
da tarde deste sábado já celebrou em Santa Maria di Leuca a Santa Missa em frente
do Santuário de Nossa Senhora. Na homilia, Bento XVI apresentou Maria como
“estrela da esperança”, sublinhando porém que “ela não brilha com luz própria, mas
reflecte a luz de Cristo, Sol que apareceu no horizonte da humanidade”. “Seguindo
a estrela de Maria podemos orientar-nos na viagem e manter a rota em direcção a Cristo,
especialmente nos momentos obscuros e tempestuosos”.
Como recordara o Bispo
local, na saudação inicial, uma antiga tradição atribui a evangelização destas terras
do extremo sul da península itálica ao Apóstolo Pedro, quando aqui chegou vindo da
Palestina. Independentemente da fundamentação histórica de tal hipótese, o que interessa
e é significativo é que, fazendo remontar a sua fé à pregação do primeiro dos Apóstolos,
os fiéis manifestam o “apego a Pedro como garantia de fé autêntica e segura, porque
fundamentada sobre a rocha”. Foi pois sobre a experiência petrina que Bento XVI
prosseguiu a sua homilia, comentando o episódio em que Jesus salva das águas Pedro,
que está para afundar. E a pesca milagrosa - que dura desde há dois mil anos
– mostra como Jesus “pescou” o modesto pescador da Galileia, chamando-o, como a nós
hoje, “das trevas à sua luz admirável”.
“Para nos tornarmos pescadores com
Cristo, é preciso sermos primeiro pescados por Ele. São Pedro é testemunha
desta realidade, como o é também São Paulo, grande convertido, do qual dentro em pouco
inauguraremos os dois mil anos do nascimento. Como Sucessor de Pedro e Bispo da Igreja
fundada sobre o sangue destes dois eminentes Apóstolos, vim confirmar-vos na fé em
Jesus Cristo, único salvador do homem e do mundo”.
Observando que neste santuário
de Leuca se conjugam a fé de Pedro e a de Maria, o Papa fez notar que se exprime assim
o que designou “o duplo princípio da experiência cristã: o princípio mariano e o princípio
petrino.” Ambos, conjuntamente (assegurou), ajudarão a partir de novo de Cristo,
renovando a fé, para corresponder às exigências do nosso tempo. “Maria
ensina-nos a permanecermos sempre à escuta do Senhor no silêncio da oração, a acolher
com generosa disponibilidade a sua Palavra com o profundo desejo de oferecer a Deus
vós mesmos, a vossa vida concreta, para que o seu Verbo eterno, pela potência do Espírito
Santo, possa de novo hoje fazer-se carne, na nossa história”.
Maria
há-de ajudar também cada um a levar no coração a alegria da Ressurreição de Jesus,
em constante docilidade ao Espírito do Pentecostes. Uma atitude espiritual complementada
com o modelo de Pedro…
“São Pedro vos ensinará a sentir e a crer com a Igreja,
firmes na fé católica. Levar-vos-á a ter o gosto e a paixão da unidade, da comunhão,
a alegria de caminhar conjuntamente com os Pastores; e ao mesmo tempo, participar-vos-á
a ânsia da missão, para partilhar o Evangelho com todos, fazendo-o chegar até aos
extremos confins da terra”.
Ora precisamente estas últimas palavras de Jesus
aos seus discípulos como que ecoam no belo e sugestivo nome deste santuário de Leuca:
“de finibus terrae”.
“Situada entre a Europa e o Mediterrâneo, entre
o Ocidente e o Oriente, este santuário recorda-nos que a Igreja não tem confins, é
universal. E os confins geográficos, culturais, étnicos, até mesmo os confins religiosos
são para a Igreja um convite à evangelização na perspectiva da comunhão na diversidade.
A Igreja nasceu no Pentecostes, nasceu universal e a sua vocação é falar todas as
línguas do mundo.”
Segundo a vocação e missão revelada a Abraão – observou
ainda o Papa – “a Igreja existe para ser uma bênção em benefício de todos os povos
da terra, ou – como diz o Concílio Vaticano II – sinal e instrumento de unidade para
todo o género humano”. O que vale, de modo muito particular, nestas terras de confim.
“A Igreja que está na Puglia possui uma forte vocação a ser ponte entre povos e culturas”. Quase
a concluir, Bento XVI recordou ainda que a evangelização tem que ser acompanhada por
um autêntico testemunho evangélico, cuja eficácia está em proporção directa com a
intensidade do amor. “De nada vale projectar-se até aos confins da terra, se antes
de mais as pessoas não se estimarem e não se ajudarem no interior das suas próprias
comunidades!” – advertiu o Papa. “Num contexto que tende a incentivar cada vez mais
o individualismo, o primeiro serviço da Igreja é educar ao sentido social, à atenção
para com o próximo, à solidariedade e à partilha”.