Fundamentalismo e leituras ideológicas da Bíblia preocupam Igreja Católica. Apresentado
o documento de trabalho do próximo Sínodo dos Bispos
(12/6/2008) Foi apresentado esta Quinta-feira, na sala de imprensa de Santa Sé,
o documento de trabalho (Instrumentum Laboris) da XII Asssembleia-Geral ordinária
do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em Roma de 5 a 26 de Outubro próximo, sobre
o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.
O “fundamentalismo
cristão”, isto é, a obediência literal e acrítica aos textos sagrados, vai -se difundindo
cada vez mais, não só entre os novos movimentos religiosos, mas também entre os Católicos,
com o risco de gerar “erros graves” e “conflitos inúteis”. Esta preocupante situação
é referida no “Instrumentum laboris” de preparação da Assembleia sinodal que vai ter
lugar em Outubro, sobre a Sagrada Escritura. No documento, a Igreja põe de sobreaviso
fiéis e pastores, não só sobre o fundamentalismo, mas também sobre as chamadas “leituras
ideológicas” da Bíblia. Numa referência indirecta à chamada “teologia da libertação”,
o texto fala de “pré-compreensões rígidas de ordem espiritual, social e política,
ou simplesmente humanas, sem o suporte da fé”. Especial preocupação é expressa
quanto ao “risco de fundamentalismo, com amplas implicações antropológicas, sociólogas,
e psicológicas, mas que se aplica de modo particular à leitura bíblica e à sua interpretação
do mundo”. A nível de leitura bíblica – adverte o texto preparatório do Sínodo – “o
fundamentalismo refugia-se no literalismo, recusando-se a tomar em consideração a
dimensão histórica da revelação bíblica, correndo assim o risco de não aceitar plenamente
a própria Incarnação”. Se a forma extrema desta tendência é a “seita”, contudo “este
género de leitura encontra cada vez mais aderentes entre os católicos”. “O carisma
da inspiração (observa o texto agora difundido) permite afirmar que Deus é o autor
da Bíblia, de um modo que não exclui o homem como verdadeiro autor de si mesmo”.
“Na verdade, à diferença do que seria um ditar pura e simples (o texto sagrado),
a inspiração não retira a liberdade e as capacidades pessoais do escritor, mas ilumina-o
e inspira-o”. Concepção esta que distingue e de certo modo contrapõe o sentido das
Escrituras do Alcorão, que os muçulmanos consideram literalmente “ditado” por Alá
ao seu profeta Maomé. Serão cerca de 250 os padres sinodais que, em representação
dos episcopados do mundo inteiro tomarão parte nos trabalhos do próximo sínodo. Esperamos
e rezamos para que também os chineses possam estar presentes no próximo sínodo: foi
com estas palavras que o secretario geral do sínodo D. Nicolau Eterevoc respondeu
a quem lhe perguntava se desta vez poderá estar presente uma delegação da Igreja
chinesa. Recordamos que este será o segundo sínodo geral que se efectua durante
o pontificado de Bento XVI. O primeiro, dedicado á Eucaristia teve lugar em Outubro
de 2005, poucos meses após a sua eleição, mas fora convocado pelo seu predecessor
João Paulo II. Para este sínodo de Outubro próximo foi Bento XVI que escolheu o
tema e estabeleceu algumas regras, entre as quais uma maior liberdade na discussão
entre os bispos através de uma hora diária de discussão livre, mecanismo já experimentado
com sucesso no sínodo precedente sobre a Eucaristia. Depois o Papa reduziu de 4
para três as semanas de trabalho sinodal para concentrar o debate e dar vida a uma
discussão menos dispersiva e chegar rapidamente a uma síntese.