IGREJA VENEZUELANA CONTRÁRIA À NOVA LEI DOS SERVIÇOS SECRETOS
Caracas, 07 jun (RV) - A Igreja Católica venezuelana anunciou ontem a sua posição
sobre a recém-promulgada lei dos serviços secretos, classificando-a como "inconstitucional",
e advertiu que o segredo da confissão é inviolável e, portanto, que os sacerdotes
não se converterão em delatores.
"Esta lei também tocaria o segredo, mas não
podemos transigir, porque fiéis têm o direito à privacidade e ao segredo do que dizem
ao confessor, que, por sua vez, não pode se converter em delator", disse o arcebispo
de Caracas, Cardeal Jorge Urosa Sabino.
Segundo o arcebispo, a nova Lei de
Informações e Contra-informações (serviços secretos) é "muito nebulosa" e "preocupa
muito porque parece contrária aos direitos fundamentais consagrados na Constituição".
Por
sua vez, o vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-americano e arcebispo de Mérida,
Dom Baltazar E. Porras Cardozo, advertiu que a nova lei dos serviços secretos "viola
a Constituição". "Comparando-a com as leis dos anos 30 e 40 em países como a Alemanha
de Hitler, a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco ou em Portugal de Salazar, percebemos
que é uma lei que viola de maneira permanente e descarada os direitos humanos", disse.
O
arcebispo denunciou que a nova legislação é um funil, porque tem uma série de disposições,
como a confidencialidade do segredo, em que os órgãos do Estado poderão atuar e o
cidadão "não saberá absolutamente nada, enquanto os que profissionalmente fazem uso
do segredo terão que comunicá-lo".
Para o cardeal, a lei "rompe com o mais
elementar, a convivência familiar, local e cidadã no bairro, porque todos se transformam
em espiões". A seu ver, além dos sacerdotes, os médicos e advogados estarão à mercê
dos funcionários dos serviços secretos.
Em 30 de maio, o Presidente Hugo Chávez
promulgou a nova Lei de Informações e Contra-Informações. Além de regular os serviços
secretos, a Lei decreta a substituição da Direção dos Serviços de Informação e Prevenção
(DISIP – polícia política) e da Direção de Serviços de Informação Militar (DIM) por
novos sistemas orientados para enfrentar, por exemplo, a ingerência dos Estados Unidos
nos assuntos internos do país.
A promulgação da nova lei ocorreu no âmbito
dos poderes especiais concedidos ao Presidente Hugo Chávez pelo Parlamento venezuelano
em janeiro de 2007, numa sessão extraordinária, para legislar por decreto durante
18 meses (até fim de junho de 2008). (CM/BF)