A 10 anos da Encíclica "Fides et ratio", Bento XVI sublinha importância de uma reflexão
filosófica que não seja um estéril exercício intelectual. A fé cristã chamada a assumir
esta responsabilidade
(7/6/2008) Há que prosseguir confiadamente a investigação filosófica, investindo
energias intelectuais e nela envolvendo as novas gerações: esta a advertência e a
exortação de Bento XVI, recebendo neste sábado em audiência os participantes no VI
Simpósio europeu de Docentes universitários, que teve lugar em Roma sobre o tema “Alargar
os horizontes da racionalidade. Perspectivas para a Filosofia”, no décimo aniversário
da Encíclica “Fides et Ratio”, de João Paulo II.
Sublinhando a “urgência
de relançar nas Universidades (e nas Escolas em geral) o estudo da Filosofia”, Bento
XVI observou que este estudo tem o seu lugar no actual “cenário histórico e cultural”.
“A crise da modernidade não é sinónimo de declínio da filosofia” - sublinhou. “A filosofia
deve empenhar-se num novo percurso de investigação para compreender a verdadeira natureza
dessa crise e identificar novas perspectivas”.
“Bem compreendida, a modernidade
revela uma questão antropológica que se apresenta de um modo muito mais complexo
e articulado do que o que acontecia nas reflexões filosóficas dos últimos séculos,
sobretudo na Europa. Sem diminuir as tentativas realizadas, muito permanece ainda
para indagar e compreender. A modernidade não é um simples fenómeno cultural,
historicamente datado. É uma realidade que implica uma nova projectualidade, uma compreensão
mais exacta da natureza do homem.”
O Papa adverte nos escritos de importantes
pensadores contemporâneos uma reflexão honesta sobre as dificuldades que se contrapõem
à resolução desta prolongada crise. “A abertura de crédito que esses autores propõem
em relação às religiões e, em particular, ao cristianismo, é um sinal evidente do
desejo sincero de fazer sair da auto-suficiência a reflexão filosófica”. Como
escreveu na Encíclica “Spe salvi”, Bento XVI sublinha que “o cristianismo não é apenas
uma mensagem informativa, mas performativa”. Como quem diz: não se pode encerrar a
fé cristã no mundo abstracto das teorias; há que a situar numa experiência história
concreta que atinja o homem na mais profunda verdade da sua existência”.
“A
proposta de alargar os horizontes da racionalidade não deve ser simplesmente
incluída entre as novas linhas de pensamento teológico e filosófico, mas há que ser
compreendida como o pedido de uma nova abertura em direcção à realidade a que
está chamada a pessoa humana na sua uni-totalidade, superando velhos preconceitos
e reducionismos para abrir-se assim o caminho em direcção a uma autêntica compreensão
da modernidade. Bento XVI considera que não se pode descurar o desejo de uma
humanidade plena; aguardam-se propostas adequadas. E “a fé cristã está chamada a assumir
esta urgência histórica, envolvendo nesta empresa todos os homens de boa vontade”:
“O
novo diálogo entre fé e razão que hoje se requer não pode ter lugar nos termos e modos
do passado. Não se pode reduzir a um estéril exercício intelectual. Deve partir da
actual situação concreta do homem, desenvolvendo sobre ela uma reflexão que recolha
a verdade ontológica-metafísica do mesmo ”.