Eliminar as causas estruturais da crise alimentar mundial. Nota do CPJP por ocasião
da cimeira da Fao em Roma, sobre a segurança alimentar
(5/6/2008) O Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), defendeu esta Quarta-feira
a reforma agrária e o favorecimento das populações rurais como parte da solução para
a actual crise alimentar. A posição foi assumida numa nota, por ocasião da Cimeira
Mundial sobre segurança alimentar promovida pela FAO, e que se conclui esta quinta
feira em Roma. “A questão da reforma agrária nos países em via de desenvolvimento
não pode ser descurada, para que se confira a propriedade da terra aos cidadãos e
se favoreça assim o uso de milhares de hectares de terra cultivável”, pode ler-se.
Face à actual situação mundial, o CPJP considera que “a crise alimentar ameaça
a realização do direito primário de cada pessoa a estar livre da fome”, apelando a
uma “consciência solidária que considera a alimentação como um direito universal de
todos os seres humanos, sem distinção nem discriminação”. Para a Santa Sé, é necessária
uma “perspectiva de longo prazo”, procurando eliminar “as causas estruturais da rigidez
da oferta mundial de produtos alimentares”. Neste contexto, defende-se que “o
boom dos preços dos bens alimentares poderia também transformar-se numa oportunidade
de crescimento para os países mais pobres do mundo”, desde que a comunidade internacional
se empenhe no “desenvolvimento agrícola” desses países. Outra preocupação manifestada
pelo CPJP relaciona-se com os biocombustíveis e a possível redução do cultivo de alimentos
para dar lugar à produção de bioenergia. “Não se pode pensar em diminuir a quantidade
de produtos agrícolas destinados ao mercado de alimentos, ou às reservas de emergência,
a favor de outros fins que, mesmo se pertinentes, não satisfazem um direito fundamental
como o da alimentação”, refere o documento do Conselho Pontifício Justiça e Paz. A
nota adverte ainda que "os países desenvolvidos terão de reconsiderar, também durante
a próxima cimeira do G-8 no Japão, a oportunidade de produzir bioenergia dentro
do actual contexto de penúria de produtos agrícolas". O CPJP sustenta que "as
novas fronteiras" abertas devem ser marcadas pelo uso correcto das biotecnologias,
e convida todos os países a "actuar seguindo considerações ponderadas, que têm como
objectivos essenciais a tutela e o respeito do direito à alimentação". Por último,
lamenta-se a especulação financeira sobre as commodities – matérias-primas
e produtos primários -, apelando a uma “regulamentação desta tipologia de comportamento
financeiro que incide fortemente sobre a realização do direito primário à alimentação,
próprio de todo o ser humano.