2008-06-04 14:38:59

A cimeira da FAO em Roma para enfrentar a crise alimentar mundial: identidade de pontos de vista na análise do problema, mas diversidade de respostas para a sua solução


(4/6/2008) Produzir mais: esta a solução mais simples para a actual crise alimentar, provocada pela escalada dos preços das matérias-primas agrícolas e pelo aumento dos custos de produção - em especial devido aos recordes dos combustíveis. A ideia foi partilhada, esta terça feira, pelo secretário-geral das Nações Unidas, aos participantes da reunião extraordinária da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma. Ban Ki-Moon sublinhou que a produção mundial de alimentos terá de crescer em 50% até 2030 para responder ao previsível aumento da procura. E falou de uma "oportunidade histórica para revitalizar a agricultura".

Este encontro de Roma ganhou contornos invulgarmente políticos devido à crise alimentar provocada pelo aumento para o valor mais alto em 30 anos do custo dos alimentos, a preços reais. Segundo os números da FAO, a actual crise provocou situações de fome em perto de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. A emergência do actual contexto levou a que muitos dos principais responsáveis políticos fizessem questão de estar na capital italiana durante o encontro que dura até esta quinta feira.
"Os governos puseram de lado decisões muito difíceis, nestes últimos tempos, e subestimaram a necessidade de investimentos na agricultura. Hoje, o mundo inteiro paga um preço demasiado alto", declarou Ban Ki-Moon durante o discurso de abertura do encontro.

"Se os países em vias de desenvolvimento tivessem investido na agricultura o que gastaram em armas, o problema alimentar estaria neste momento resolvido", declarou, por sua vez, Jacques Diouf, director geral da FAO. Esta organização, integrada nas Nações Unidas, avançou ainda com algumas sugestões para aliviar o peso da crise actual.
Em 2008, a produção dos cereais crescerá 3,8% , mas os preços não vão baixar, devido à necessidade de reconstituir reservas alimentares e pela cada vez maior procura na China e Índia.
Segundo Jacques Diouf, director-geral da FAO, "não há mais tempo para conversas, a instabilidade climática e os desastres dos últimos anos, provocam anualmente 262 milhões de vítimas de calamidades naturais, dos quais 98% vive em países em desenvolvimento".

Outro factor que está ligado à emergência alimentar é o dos biocombustíveis, cuja procura "aumentará em 12 vezes até 2016, passando de 15 a 110 milhões de toneladas", declarou Diouf, que aproveitou para pedir aos líderes mundiais 30 mil milhões de dólares anuais para relançar a agricultura.

Num discurso empolgado, o director geral da FAO, indicou que em 2006 o mundo gastou 1,2 mil de dólares em armamento, enquanto se estragou comida no valor de 100 mil milhões de dólares. E o excesso de consumo por pessoas obesas chegou a 20 mil milhões a nível mundial.

O ministro da Agricultura Jaime Silva que representa Portugal na cimeira da FAO em Roma defendeu ontem uma “ajuda estrutural, que tem falhado, aos países onde há fome” e uma cooperação especial entre Portugal e os países lusófonos para combater a crise alimentar. Após uma reunião com representantes do sector das pescas e antes de partir para Itália para a reunião extraordinária da FAO, Jaime Silva referiu que é necessário dar uma resposta à fome em vez de se discutir teoricamente o assunto. “A FAO, e todos os seus membros, têm de dar resposta, mas têm que dar resposta hoje porque a fome já lá estava ontem”, frisou o ministro, defendendo que se evite a discussão teórica. Segundo o ministro da Agricultura, o “problema da fome é um problema que a FAO trata há vários anos, e que ano após ano se mantém numa dimensão insustentável para o mundo civilizado”.
Jaime Silva lembrou também que a situação da fome no mundo tem vindo a ser agravada com a crise dos combustíveis e o aumento das matérias-primas. O governante disse que “temos de transferir conhecimento, temos de cooperar para que cada Estado a nível mundial, particularmente os em vias de desenvolvimento, tenham capacidade para produzir muito das suas necessidades alimentares, ou pelo menos, para produzir o essencial das suas necessidades básicas”, adiantou. Portugal deve, diz Jaime Silva, cooperar com os países de expressão portuguesa, directamente e através da União Europeia.
Uma preocupação também sublinhada pelas Caritas Portuguesa e pela Oikós como nos refere o nosso correspondente em Portugal Domingos Pinto. RealAudioMP3








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