ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS ENVIAM MENSAGEM AOS PARTICIPANTES DA CONFERÊNCIA DA FAO EM
ROMA
Roma, 03 jun (RV) - Cerca de 270 organizações religiosas e não-governamentais
de todo o mundo enviaram uma mensagem aos participantes na conferência sobre segurança
alimentar que se realiza a partir de hoje em Roma até quinta-feira. Os signatários
convidam a comunidade internacional a lançar um processo de discussão e ação a longo
prazo, baseado em valores espirituais fundamentais.
“À luz das mudanças climáticas,
da preocupação sobre a futura disponibilidade de energia, de um aumento sem precedentes
do preço dos cereais e consequentemente dos alimentos em muitas partes do mundo, os
‘sinais dos tempos’ indicam a necessidade da comunidade internacional agir com urgência”,
refere a declaração. O texto é subscrito por centenas de Institutos religiosos
da Igreja Católica, que lembram “o imperativo moral de mudar o nosso estilo de vida
de acordo com a capacidade de cuidar da terra e do seu clima”.
“A comunidade
Internacional e, particularmente, as comunidades que sofrem as consequências da escassez
de comida, desejam não só ver uma maior solidariedade em programas para aliviar os
efeitos imediatos da fome, mas também estão ansiosas para que as causas de fundo sejam
enfrentadas de modo eficaz”, lê-se no texto.
A declaração aponta o dedo a
“um sistema de comércio mundial injusto, problemas ambientais e sociais causados pela
‘revolução de verde’, mudanças de clima, práticas de agricultura insustentáveis, políticas
de biocombustíveis, especulação, desperdício”.
Para essas organizações religiosas
e não-governamentais, a conferência de Roma “pode delinear as estratégias sustentáveis
necessárias para gerar um ‘novo paradigma’ que possa ser construído sobre a base das
idéias defendidas pelas ONG’s e pela sociedade civil nas últimas décadas, para conseguir
uma segurança alimentar sustentável”.
“O acesso aos direitos de propriedade,
à água e aos serviços energéticos, aos financiamentos e ao microcrédito são fundamentais
para garantir a existência dos pequenos agricultores, em particular das mulheres”,
acrescentam.
Em relação aos biocombustíveis, a declaração defende que antes
de procurar “substituir a todo custo a oferta energética dos carburantes fósseis,
os esforços devem concentrar-se na reestruturação da nossa sociedade para usar menos
energia e recursos e uma aproximação igualmente aplicável às técnicas de produção
de alimentos”.
O texto manifesta-se contra as soluções a “curto prazo", frisando
que “o respeito pela integridade da criação deve ser mantido na eliminação da pobreza
e das estruturas sociais injustas, das causas das raízes da fome, através de uma aproximação
com opções múltiplas”.
Sobre estratégias futuras a serem adotadas face às
mudanças climáticas, as organizações signatárias assinalam que “não podemos aceitar
propostas que impliquem nos países em via de desenvolvimento a migração em direcção
às cidades de, pelo menos, mil milhões de pessoas, deixando prevalentemente a produção
alimento nas mãos das grandes companhias agro-industriais”. (SP)