Na festa do Corpo de Deus o arcebispo de Braga desafia os cristãos
(23/5/2008) A participação dos cristãos na Eucaristia e o sinal que essa mesma participação
deve dar à sociedade foi posta em evidência por D. Jorge Ortiga, na homilia do Corpo
de Deus, ontem, dia 22, assinalado na Sé Catedral de Braga. O Arcebispo de Braga
aponta a frieza do “rito da assistência”, a rotina dos “hábitos adquiridos” e por
isso afirma a “necessidade de um urgente trabalho sobre o essencial da Eucaristia”.
A Eucaristia deve gerar união a Cristo e fraternidade eclesial. D. Jorge reflecte
que as celebrações eucarísticas devem ter elas próprias uma “fisionomia atractiva
e nunca de instintiva repulsa como quem entra num local gerador de indiferença, de
«tanto faz»”. Questiona o Arcebispo de Braga o que faltará às celebrações para
que “provoquem desejo de estar? Que dizem ou oferecem? Não será que já nos resignamos
ao facto de muitos não participarem? Onde está a índole missionária das nossas celebrações?
Continuaremos a assistir à debandada?”. Não pretendendo “comparar épocas”, recorda
D. Jorge Ortiga o exemplo das primeiras comunidades cristãs, em que a Eucaristia “congregava
os cristãos dispersos e a viver a fé, em contextos difíceis”. “Importa readquirir
o amor que os cristãos da Igreja Primitiva nutriam pela Eucaristia” e nesse sentido,
recuperar o sentido da Eucaristia como missa, “como missão”. A Eucaristia será
missão se se “tomar consciência do cenário de pobreza que convive connosco. Só a entrega
da nossa solicitude e a partilha dos dons recebidos nos coloca na dinâmica da Eucaristia”.
D. Jorge Ortiga pede “um regresso ao espírito de comunidade onde se conhece com
verdade, os nomes e a situação dos carenciados”. Indica o Arcebispo de Braga que não
basta falar de pobreza, mas “urge descobrir o seu rosto e limpar esta página vergonhosa
duma sociedade que se diz evoluída e permite que muitos vivam abaixo do nível duma
vida digna”. “A Eucaristia deve ver-se no modo como falamos e agimos com e a favor
dos outros. Necessitamos de “mostrar” a Eucaristia. Só vendo muitos sentirão a necessidade
dela”, aponta D. Jorge que acrescenta ainda que “a maneira alegre e feliz, comprometida
e solidária, daqueles que habitualmente participam nas celebrações” deve ser sinal
de reconhecimento. A Eucaristia, como comunhão, “terá de significar uma atenção
nova aos novos problemas para que a Igreja percorra os caminhos da humanidade, realizando
a opção preferencial pelos pobres através dum serviço organizado ou espontâneo”.