(23/5/2008) Não se pode esconder a realidade da pobreza no nosso tempo ou ficar indiferente
perante situações de carência que exigem compromissos efectivos. «Não bastam as palavras,
é preciso avançar sempre com novos projectos e actos que sejam libertadores», disse
ontem Dom António Carrilho na homilia da Solenidade do Corpo de Deus. Centrando
a sua reflexão na Eucaristia, o Bispo do Funchal afirmou que desta vivência «brotam
exigências e compromissos para a nossa acção concreta na vida de cada dia. Compromissos
que passam pela abertura ao outro, em acolhimento, serviço, respeito pela vida». Daí
que as sejam grandes as responsabilidades imputadas aos cristãos perante as «necessidades
do nosso próximo que está com fome, sem roupa, preso, abandonado e sofredor. Nos mais
necessitados, Jesus continua a passar incógnito pelos caminhos do mundo, tantas vezes
perante a indiferença dos homens. Ele próprio se manifestou particularmente sensível
aos mais pobres e humildes, ao ponto de se identificar com eles». Em conclusão:
«a Eucaristia não é apenas expressão de comunhão na vida interna da Igreja, ela é
também projecto de fraternidade, em benefício de toda a humanidade, particularmente
e até dos que mais precisam», sublinhou. Alargar a acção solidária É
grande a acção da Igreja no campo sócio-caritativo, desde há séculos, através das
paróquias e na cooperação com outras entidades, nomeadamente «no acolhimento e acompanhamento
de tantas crianças carenciadas, muitas vezes vítimas de famílias desestruturadas,
alcoolizadas e toxidependentes; também no acolhimento a tantos idosos marcados pela
solidão e esquecidos em certas situações, talvez até desprezados pelos próprios familiares»,
lembrou D. António Carrilho. No entanto, «não nos podemos acomodar e contentar
com aquilo que já fazemos», alertou. «É necessário e urgente alargar ainda mais
a acção da Igreja e da sociedade a favor dos mais pobres, amando-os com uma ajuda
efectiva», disse. Despesas com armamento resolviam pobreza no mundo Na
sua reflexão, o Bispo do Funchal aludiu ainda à pobreza no mundo actual. Valendo-se
das estatísticas, considerou que «no combate à pobreza mundial diz-se que bastariam
menos de metade das somas que se gastam no armamento para tirar da miséria e dar uma
vida estável ao exército inumerável dos pobres». Neste contexto, citou por outro
lado o documento preparatório do próximo Congresso Eucarístico Internacional que se
vai realizar no Canadá, em Junho, em que se diz que a «Igreja terá que ter e ser uma
consciência crítica sobre esta situação, quer para si mesma, quer para interpelar
o mundo». «Ninguém pode ignorar a existência dos mais carenciados. A Eucaristia deve
criar em nós um coração universal, um desejo de bem-fazer», afirmou. Na missa
campal celebrada frente à igreja do Colégio, e na Procissão do Corpo de Deus até à
Sé, participaram centenas de fiéis, entre entidades civis e militares, sacerdotes
e Movimentos de apostolado.