EM VISITA PASTORAL A GÊNOVA, PAPA PEDE PROIBIÇÃO TOTAL DE BOMBAS DE FRAGMENTAÇÃO
Gênova, 18 mai (RV) - Esta manhã, o papa deixou o Santuário de Nossa Senhora
da Guarda, nas proximidades de Gênova, e se dirigiu ao Hospital Pediátrico Giannina
Gaslini, onde cerca de três mil pessoas o aguardavam. O papa percorreu as vielas ao
redor do Instituto com o papamóvel, a fim de que todos pudessem vê-lo. No pátio interno
do Hospital, fez um discurso aos funcionários, às autoridades civis e a alguns pacientes.
"O Gaslini tem uma história de caridade, que faz de Gênova uma cidade da caridade
cristã", disse o papa visitando o hospital, que celebra nesses dias 70 anos. Conhecido
pelo elevado nível científico e tecnológico inteiramente dedicado à assistência médica
às crianças, o Gaslini constitui um seguro ponto de referência neste campo, não só
para a cidade de Gênova, mas também para toda a Itália e para a área mediterrânica
em geral. Segundo o estatuto, o presidente do Hospital é o arcebispo da cidade, hoje
Dom Angelo Bagnasco.
Pensando nas crianças doentes, Bento XVI recordou que
Jesus, com palavras duras, alertou contra o desprezo e o escândalo em relação a elas,
apontando-as como "modelos a serem seguidos em sua fé espontânea e generosa, em sua
inocência".
Enfim, o papa dirigiu palavras de encorajamento às crianças internadas
e a suas famílias: "Nos momentos de trepidação e esperança, recordem-se que Deus jamais
os abandonará. Fiquem unidos a Ele e nunca perderão a serenidade, nem mesmo nos momentos
mais tristes e sombrios". No final de seu discurso, o papa declarou que esta visita
ao Hospital Pediátrico ficará impressa em seu coração.
Bento XVI se dirigiu
então à praça Matteoli, no centro de Gênova, para um encontro com cerca de 5 mil jovens
da diocese, que o receberam com muito entusiasmo, apesar do temporal que castigou
a cidade esta manhã.
"A juventude, a verdadeira juventude, não é uma questão
de idade, de vigor físico, de forma física, de eficiência. Teoricamente, a juventude
deve ser sinônimo de alegria, mas nem sempre é assim. Existem, infelizmente, muitos
jovens que são velhos dentro; que se arrastam, mesmo quando possuem bens como a cultura,
um emprego satisfatório, relações sociais e perspectivas", disse.
O papa também
fez uma exortação a eles: "Sejam unidos, ajudem-se a viver e crescer na fé e na vida
cristã, mas não se fechem; sejam humildes, mas não alienados; sejam simples, mas não
ingênuos. Pensem, mas não sejam complicados; dialoguem com todos, mas continuem si
mesmos".
Para o pontífice de 81 anos, "ser jovem significa descobrir coisas
que não passam com o correr dos anos. Quando um jovem descobre os valores verdadeiros
e nobres, não envelhece nunca, mesmo que o corpo siga as leis da natureza. Permanece
jovem sempre no coração e irradia juventude, ou seja, bondade, porque a bondade prescinde
do passar do tempo".
Por isso, podemos dizer que somente quem é bom e generoso
é realmente jovem. Assim, pediu a eles que sejam jovens "fora de moda": as modas passam
rapidamente, são uma corrida frenética. A juventude da bondade, ao contrário, fica
para sempre. Aliás, será perfeita e resplandecente no Céu, com Deus, recordou.
No
final do encontro com os jovens, do palco montado no centro da praça, o papa rezou
a oração do Angelus em conexão com a Praça São Pedro e com várias emissoras de rádio
e canais televisivos. A oração mariana foi precedida, como sempre, de algumas palavras.
Bento XVI foi muito aplaudido quando citou seu predecessor, João Paulo II, que,
assim como ele, quis iniciar sua visita pastoral a Gênova com uma benção do Santuário
de Nossa Senhora da Guarda.
O templo, no alto de uma colina, domina a cidade
e vela por seus habitantes. Assim, o papa confiou a cidade a Maria, invocando a sua
materna assistência aos pastores, às pessoas consagradas e aos leigos: anciãos, famílias
e jovens.
Em seguida, o papa recordou a história da região da Ligúria, constelada
por igrejas e santuários, entre mares e montes, e agradeceu a Deus pela fé robusta
e tenaz das últimas gerações, que escreveram páginas memoráveis de civilização. "Gênova
sempre foi uma terra aberta ao Mediterrâneo e a todo o mundo. Vários missionários
partiram deste litoral em direção às Américas e a terras distantes."
Antes
de conceder a benção apostólica, Bento XVI pediu a atenção dos jovens para uma questão
importante: amanhã, terá início em Dublin, na Irlanda, a Conferência sobre as minas
de fragmentação. Esta reunião foi convocada com o objetivo de elaborar uma Convenção
para proibir esses explosivos.
"Espero que, com a responsabilidade de todos
os participantes, se produza um instrumento internacional forte e crível: é preciso
remediar os erros do passado e evitar que se repitam no futuro. Acompanho com minha
oração as vítimas dessas armas e suas famílias, assim como aqueles que participam
da Conferência, formulando meus votos de sucesso!", disse o pontífice.
Haverá
grandes ausências na Conferência de Dublin: Estados Unidos, China, Rússia, Índia,
Paquistão e Israel, países que são contra a proibição dessas armas particularmente
letais para os civis, recentemente utilizadas no Iraque.
A reunião que termina
em 30 de maio faz parte do processo iniciado em fevereiro de 2007 em Oslo, onde, convocados
pela Noruega, 46 países aprovaram uma declaração comum pedindo a proibição, antes
de 2008, de "utilizar, produzir, transferir e armazenar" as bombas "cluster".
Da
praça Matteoti, o papa se dirigiu à Catedral de São Lourenço, para um breve encontro
com o cabido da Catedral e os membros da vida consagrada. Em seu discurso, Bento XVI
encorajou os religiosos e as religiosas, pedindo-lhes que continuem presentes e levando
adiante suas obras, não obstante a diminuição em número e em forças.
Ao entrar
na catedral, o papa foi acolhido pelo bispo auxiliar de Gênova, Dom Luigi Ernesto
Palletti, e pelos cônegos, que prepararam para Bento XVI diversos presentes, como
livros e decorações litúrgicas. Recebido com grande calor, o Santo Padre renovou seu
alerta para o "desafio educativo", o dever mais urgente, já que, "sem uma autêntica
educação, o homem não vai longe".
"Devemos ajudar os pais em seu extraordinário
e difícil dever educativo; devemos ajudar as paróquias e os grupos; continuar a disponibilizar,
mesmo que com sacrifícios, escolas católicas, grande tesouro da comunidade cristã
e verdadeiro recurso do país", exortou.
Da catedral, o papa se dirigiu ao
seminário diocesano, onde almoçou com os bispos da região da Ligúria e descansou antes
de voltar à Praça da Vitória, para presidir, na parte da tarde, à Santa Missa.
A
chuva deu trégua justamente no início da celebração, da qual participaram cerca de
100 mil fiéis.
Em sua saudação, o anfitrião, Cardeal Angelo Bagnasco, disse
que o povo genovês tem uma fé rica de caridade, feita de assistência e solidariedade
aos pobres e aos mais necessitados. É um povo generoso, inclusive quando, como hoje,
sofre com problemas ligados ao trabalho, à moradia e ao custo de vida. Mas não carece
de dignidade e brio, reagindo sempre e ativando sinergias entre os recursos disponíveis.
Nesse contexto, em sua homilia, o papa afirmou que em nossa sociedade, dividida
entre globalização e individualismo, a Igreja é chamada a oferecer o testemunho da
"koinonia", da comunhão. Por isso, Bento XVI pediu a adultos e jovens que cultivem
uma fé raciocinada, capaz de dialogar profundamente com todos, com os irmãos não-católicos,
não-cristãos e ateus.
"Prossigam com sua generosa compartilha com os pobres
e mais frágeis, segundo a praxe originária da Igreja." A toda a cidade, aos genoveses
e a todos os que vivem e trabalham nesta terra, o papa pediu que olhem ao futuro com
confiança, tentando construí-lo juntos, evitando ser facciosos e colocando o bem comum
antes de nossos interesses pessoais, mesmo que legítimos.
Aos jovens comprometidos
no caminho vocacional, Bento XVI exortou a não terem medo de um itinerário formativo
sério e exigente. E na conclusão da Missa, lançou um apelo a crescer na dimensão missionária:
"De fato, a Trindade é ao mesmo tempo unidade e missão: quanto mais intenso é o amor,
mais forte é o impulso a difundir-se, a dilatar-se, a comunicar-se".
Logo após
a cerimônia, por volta das 20h locais, o papa voltou para o Vaticano. (CM/BF)