LEI ÁUREA ACABOU COM ESCRAVIDÃO NO BRASIL, MAS NÃO COM RACISMO
Cidade do Vaticano, 13 mai (RV) - Celebra-se hoje os 120 anos da promulgação
da Lei Áurea, que acabou com a escravidão no Brasil.
A Lei Áurea aboliu a escravidão
no Brasil, mas não o preconceito. De fato, 120 anos são poucos se comparados com os
400 anos em que a escravidão foi praticada no país, que deixou marcas indeléveis na
pele e na mentalidade dos brasileiros.
Uma pesquisa do Ibope com o Instituto
Ethos, publicada no domingo pelo jornal "Folha de S. Paulo", oferece números significativos
a respeito.
Segundo a pesquisa, apenas 3,5% dos cargos de chefia nas maiores
companhias brasileiras são ocupados por negros, considerando que estes são 49,5% da
população do país.
Segundo o presidente da ONG Afrobras e reitor da Unipalmares
(Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares), José Vicente, a sociedade manteve
intacta uma estrutura excludente e discriminatória com base na cor da pele. "O topo
da hierarquia das empresas não é diferente de outros lugares de prestígio e status
na nossa sociedade", afirma ele. O mesmo poderia-se dizer da Igreja.
Para as
mulheres negras, a situação é ainda mais cruel, já que elas sofrem um duplo preconceito.
De acordo com o levantamento Ibope/Instituto Ethos, feito em 2007, não chega a 0,5%
a porcentagem de negras em cargos executivos.
Na opinião dos especialistas,
uma das explicações para o fato de os negros não alcançarem postos mais altos dentro
das corporações é o seu limitado acesso à educação de qualidade.
Outra razão
é o preconceito velado. "O senso comum é que o negro não tem qualificação ou competência
intelectual", afirma Vicente.
Todavia, ele aponta uma transformação nesse
sentido: "A globalização é uma manifestação da diversidade da qual não dá para escapar.
As empresas precisam se adequar, pois qualquer pessoa minimamente esclarecida começa
a perceber as incongruências e as pressiona. O Brasil não pode ser um país multicultural
para quem vê de fora e branco por dentro".
Nossa colega do Programa Português
Dulce Araújo entrevistou o jornalista Marco Antônio dos Santos, membro do Conselho
Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de São Paulo. Ele fala
que o 13 de maio é um data de luta, e não de comemoração: (BF)