Cardeal D.José Saraiva Martins frisa a actualidade da Mensagem de Fátima e lamenta
"a sombra escura de suspeita acerca de Deus e da sua obra
(13/5/2008) O Cardeal D.José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as Causas
dos Santos, lamentou hoje em Fátima a “sombra escura de suspeita acerca de Deus e
da sua obra”.
Falando aos milhares de peregrinos que enchiam o recinto do
Santuário, na Peregrinação Internacional de Maio, o Cardeal português lembrou que,
há 91 anos, as Aparições tiveram lugar “nos começos de um século ensanguentado pela
loucura de duas Guerras Mundiais, marcado por nacionalismos exasperados, por ideologias
ateias e materialistas, que procuraram sufocar a luz da Fé no coração dos homens,
no decorrer de sucessivas gerações”. Segundo este responsável, existe no nossos
dias “esta «apostasia (afastamento definitivo e deliberado , ndr) da Fé» – como a
definiu o Papa João Paulo II – que progressivamente comprometeu e contagiou a nossa
Europa cristã, que sempre ofereceu ao mundo, ao longo dos séculos, uma cultura rica
em humanidade, criativa, respeitadora do Homem e da sua altíssima dignidade de filho
de Deus e irmão de Cristo”. “É precisamente à nossa época, saturada e desesperada,
que continua a falar o Coração desta Mãe, traduzindo as coisas de Deus numa linguagem
familiar, simples, facilmente compreensível por todos”, referiu D. Saraiva Martins,
frisando a actualidade da Mensagem de Fátima. Na homilia do 13 de Maio, este
membro da Cúria Romana sublinhou que “foi a Virgem Nossa Senhora que nos convidou
para virmos a este lugar santo, verdadeiro «altar do mundo», do qual brotou, há mais
de 90 anos, a luz evangélica do Amor e da Misericórdia”. “Perante a perda do sentido
dos valores e a desorientação das consciências”, indicou, Fátima apresenta “princípios
não negociáveis, dos quais inevitavelmente se deve partir para fundar uma correcta
convivência, civil e cristã”, tais como “a vida; a família; o matrimónio, como união
estável e fiel de um homem e de uma mulher, e não de qualquer outro modo; a caridade
concreta; a dignidade pessoal, estendida a todos os momentos e a todas as dimensões
da existência”. Para o Cardeal português, “só em Deus o homem se encontra plenamente
a si mesmo”. “A Fé não é uma fuga das próprias responsabilidades ou um estéril dobrar-se
sobre si mesmo: é fonte de luz e de força interior, que nos anima e nos permite afrontar
corajosamente os problemas e os desafios da vida”, indicou. “O homem de hoje,
iludido e desiludido da vida, por vezes parece ter desistido de esperar. Caíram as
consideradas certezas das ideologias; o bem-estar e o consumismo – que aparentemente
satisfazem as nossas necessidades e exigências –, caíram esses sistemas que revelam,
de facto, cada vez mais, a sua inconsistência, a sua radical incapacidade de fazer
feliz o homem de hoje, do nosso tempo, o homem que encontramos todos os dias no caminho
da nossa vida”, alertou. Neste contexto, indicou, “Fátima é uma escola da Verdade
porque nos defende das fábulas e nos ensina a encarar e a interpretar a realidade
com o coração de Deus. Não se cala sobre o destino último do Homem, não minimiza as
nossas responsabilidades, mas indica os caminhos que nos conduzem ao Mistério”. “À
silenciosa ou manifesta «apostasia da Fé» – há também a «apostasia da razão» – a Virgem
Maria não contrapõe as vazias palavras do mundo ou a mentira de uma nova ideologia,
mas propõe novamente Cristo, e Cristo Crucificado”, apontou.