Crise alimentar mundial: criada uma equipa da ONU para responder aos problemas provocados
pela subida dos preços.Numa reunião debatidas as causas da crise
(30/4/2008) A Organização das Nações Unidas (ONU) criou uma equipa para responder
aos problemas alimentares mundiais provocados pela subida dos preços, anunciou ontem
em Berna, na Suíça, o secretário-geral da ONU. Ban Ki-moon reunido com os dirigentes
de 27 agências e organismos da ONU,para delinear um plano para solucionar esta crise.
A
célula de crise será composta por responsáveis das agências da ONU e do Banco Mundial
- sob a autoridade directa de Ban Ki-moon - e recorrerá a medidas de urgência e de
longo prazo para fazer face à crise causada pelo vertiginoso aumento do preço de alimentos
essenciais como, por exemplo, o trigo.
Tudo isto foi explicado, nesta terça
feira, pelo secretário-geral da ONU em conferência de imprensa conjunta com a directora
executiva do programa Alimentar Mundial (PAM); com o presidente do Banco Mundial;
com o director da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO); com o presidente
do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA); e com o director-geral
da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Já o director do Banco Mundial,
avisou que "as próximas semanas serão críticas", afirmando que a instituição que lidera
planeia criar um fundo para financiar os países mais pobres e ajudá-los nas respectivas
agriculturas.
Aquele dirigente pediu, ainda, que "não sejam utilizadas
as interdições de exportação", explicando que "essas medidas fazem disparar os preços
mundiais" de mercadorias alimentares. E neste sentido, congratulou a decisão da Ucrânia
de levantar as restrições à exportação de trigo.
O secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon considerou um "desafio sem precedentes" o aumento de preço dos alimentos
no mercado mundial e avançou que "se não forem cumpridos plenamente os fundos que
solicitámos aos doadores, aumentará ainda mais a fome, a subnutrição e os distúrbios
sociais numa escala sem precedentes".
Na reunião com os dirigentes de 27
agências e organismos da ONU foram referidas, entre as causas da crise, a falta de
investimentos no sector agrícola, os subsídios que pervertem o comércio, as más condições
climatéricas, a degradação do meio ambiente e os subsídios aos biocombustíveis que,
como alternativa ao petróleo, evidenciam agora efeitos adversos. Contudo especialistas
questionam a sua real capacidade para reduzir as emissões de dióxido de carbono, alertam
para os efeitos de desflorestação e para a subida de preços dos bens alimentares.
Em
Agosto do ano passado, um estudo divulgado pela FAO - organismo das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação - e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Económico, (OCDE), revelava que a crescente exigência por biocombustíveis já estava
a provocar uma alteração no mercado agrícola internacional, com a consequente subida
dos preços de alguns alimentos. Os autores do estudo avisavam que os consumidores
pagarão mais pela carne, produtos lácteos e óleos vegetais. Os países importadores
e as camadas mais pobres das populações urbanas terão motivos para estar preocupados.
O
estudo alertava ainda para o facto de a procura de cereais, açúcar e óleos vegetais
para usar em larga escala na produção de biocombustíveis afectar negativamente o sector
agrícola nos próximos dez anos.
Segundo os especialistas, tem-se desflorestado
mais para o cultivo de cereiais e oleaginosas e o impacto no ambiente não reside apenas
na perda de largas zonas de floresta repletas de biodiversidade, mas, igualmente,
numa superior emissão de dióxido de carbono devido às queimadas e ao uso de fertilizantes
que contibuem para as emissões de CO2 ( o dióxido de carbono). - A escalada
dos preços dos alimentos a uma escala mundial começou em 2007. Só na segunda metade
do ano passado, comparando com a mesma altura do ano anterior, os preços tinham aumentado
40%, em resultado do crescente consumo em mercados emergentes (como a China e a Índia),
forte procura de certas culturas para a produção de biocombustíveis e fracas campanhas
agrícolas em alguns países, bem como a imposição de tarifas aduaneiras por parte de
países exportadores. A estas explicações, os especialistas juntam a especulação dos
grandes fundos de investimento, que têm aplicado o seu dinheiro na compra de mercadorias
agrícolas em grande escala, levando também ao aumento de preço.