2008-04-20 00:44:51

Quem é que leva o testemunho da Boa Nova de Jesus pelos caminhos de Nova Iorque, nos inquietantes subúrbios à margem das grandes cidades, nos lugares onde os jovens se congregam à procura de alguém em quem possam confiar? Esta a pergunta dirigida pelo Papa aos jovens e seminaristas no Seminário St. Joseph de Nova Iorque


(19/4/2008) Na tarde deste sábado, Bento XVI deslocou-se ao seminário de São José de Nova Iorque para um encontro com os jovens e seminaristas, concluindo assim o penúltimo dia da sua viagem apostólica aos Estados Unidos.
Na alocução dirigida aos 20 mil jovens presentes, o Papa começou por evocar seis figuras que se distinguiram pela fé e pela caridade, pelo amor a Deus e pelo serviço aos irmãos, e cujas imagens se encontravam expostas no recinto desportivo onde tinha lugar o encontro: santa Isabel Ana Seton, Santa Francisca Xavier Cabrini, S. João Neumann, beata Kateri Tekakwitha, venerável Pierre Toussaint e o padre Félix Varela. “Todos eles – sublinhou Bento XVI – responderam à chamada de Deus a uma vida de caridade. Cada um deles O serviu nas ruelas, caminhos e subúrbios de Nova Iorque.
Nenhum modelo estereotipado, uniforme, os irmana. Os elementos comuns que os congrega é o facto de, “inflamados pelo amor de Jesus”, as vidas de todos eles e elas se terem transformado em “extraordinários trajectos de esperança”.

“Através de orfanatos, escolas e hospitais, ocupando-se dos pobres, dos doentes e dos marginalizados, e mediante o testemunho convincente que provém do caminhar humildemente na esteira de Jesus, estas seis pessoas abriram o caminho da fé, esperança e caridade a inúmeras pessoas, incluindo porventura aos seus próprios antepassados”.

A questão que hoje se coloca é ver quem dá continuidade à missão que estes verdadeiros discípulos de Jesus realizaram na terra americana:

“E hoje? Quem é que leva o testemunho da Boa Nova de Jesus pelos caminhos de Nova Iorque, nos inquietantes subúrbios à margem das grandes cidades, nos lugares onde os jovens se congregam à procura de alguém em quem possam confiar?
É Deus a nossa origem e o nosso destino, e Jesus é o caminho. O percurso desta viagem vai passando – como no caso dos nossos santos – pelas alegrias e provações de uma vida quotidiana normal: no interior das vossas famílias, na escola ou no colégio, nas vossas actividades , no tempo livre ou nas vossas comunidades paroquiais.”

Evocando “a belíssima liturgia da Vigília Pascal” (nomeadamente o Cântico do círio pascal), Bento XVI sublinhou que “não foi por desespero ou angústia, mas com uma grande confiança cheia de esperança, que nós gritámos a Deus em favor do nosso mundo: Dissipa Senhor as trevas do nosso coração! Dissipa as trevas do nosso espírito!”.
E foi a partir deste conceito de “trevas” a vencer, com o espírito e a esperança cristãs, que o Papa desenvolveu a sua catequese aos jovens de Nova Iorque, distinguindo as trevas que afectam “o coração” das trevas, particularmente subtis e como tal mais funestas, que podem envolver “o espírito”, distorcendo a nossa percepção da verdade e o exercício da verdadeira liberdade.
No primeiro caso, Bento XVI incluiu “os sonhos e desejos” destruídos por tantas diversas razões: droga, falta de casa, pobreza, racismo, violência. Situações em que a pessoa se sentiu degradada a mero objecto, perante “uma insensibilidade do coração que ignora e ultraja a dignidade que Deus atribui a cada pessoa humana. Trevas que há que superar graças a mãos amigas capazes de estar ao lado dos “vulneráveis e inocentes”, “no caminho da bondade e da esperança”.
Uma segunda zona de trevas é a das que atingem o espírito – advertiu o Papa. Facto que muitas vezes passa desapercebido, o que é ainda mais funesto, com a “manipulação da verdade” que “distorce a percepção da realidade e perturba a nossa imaginação e as nossas aspirações.
Questão que se prende com a da liberdade. Embora reconhecendo que “há que salvaguardar rigorosamente a importância da liberdade”, Bento XVI pôs de sobreaviso sobre o risco de manipulação:

“Mas a liberdade é um valor delicado. Pode ser mal-entendida ou usada mal, acabando por não conduzir à felicidade que todos dela esperamos, conduzindo pelo contrário a um cenário sombrio de manipulação, em que a nossa compreensão de nós próprios e do mundo se torna confusa ou é até mesmo distorcida por aqueles que têm segundas intenções”.

O maior risco é o de separar a liberdade da verdade: hoje em dia há quem, em nome do respeito pela liberdade do indivíduo, considere errado procurar a verdade, mesmo a verdade sobre o que é bem. É o que se chama “relativismo”, que pretende libertar a consciência dando a tudo o mesmo valor. Tal confusão moral leva a perder o respeito por si mesmo, podendo levar ao desespero, e mesmo ao suicídio.

“Caros amigos, a verdade não é uma imposição. Nem é simplesmente um conjunto de regras. É a descoberta de Alguém que nunca atraiçoa, Alguém em quem podemos sempre confiar. Na busca da verdade acabamos por viver tendo como base a fé, porque, em última análise, a verdade é uma pessoa: Jesus Cristo.
É por isso que a autêntica liberdade não é a opção de “libertar-nos de”. É optar por “nos empenharmos a favor de”. Sair de nós próprios permite-nos ser envolvidos no ser-para-os-outros de Jesus Cristo”.

Na parte conclusiva da sua alocução aos jovens e seminaristas dos Estados Unidos, Bento XVI sublinhou com insistência a importância da oração e da contemplação.

“O mais importante é que desenvolvais a vossa relação com Deus. Esta relação exprime-se na oração. Em virtude da própria natureza, Deus fala, escuta, responde. São Paulo recorda-nos que podemos e devemos orar incessantemente. Longe de nos dobrar sobre nós próprios ou de nos afastar dos altos e baixos da vida, por meio da oração nós dirigimo-nos a Deus e, através d’Ele, dirigimo-nos uns aos outros, inclusive aos marginalizados e a todos os que seguem vias diferentes de Deus. Como os santos nos ensinam de modo tão concreto, a oração torna-se esperança em acto”.

Outro aspecto ligado à oração é “a contemplação em silêncio”. São João diz-nos que, para captar a revelação de Deus é preciso antes escutar, e depois responder e anunciar o que ouvimos e vimos. Talvez tenhamos perdido “a arte de escutar”.

“Amigos, não tenhais medo do silêncio e do recolhimento, escutai a Deus, adorai-O na Eucaristia. Deixai que a sua palavra modele o vosso caminho como maturação na santidade”.








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